No próximo sábado, a estudante de Mauá Helen Cristina, 18 anos, enfrentará mais uma vez o paredão do programa Fama, o reality show musical da Globo. O alívio de ter sido escolhida no sábado por 52% dos telespectadores para permanecer na academia, em vez de Ivo Pessoa, durou pouco. Minutos depois, a cantora foi indicada para outro paredão, agora com a amiga Marina Elali.

Se no palco a tensão era grande, na platéia não foi diferente. Doze pessoas da família de Helen, que viajaram oito horas até chegar ao Projac, no Rio de Janeiro, acompanharam atentos à interpretação de Arrastão, famosa na voz de Elis Regina. Num dia de apresentações medianas, a mauaense ficou com uma das três piores notas do dia.

Enquanto Helen retorna à casa para mais sete dias de preparação, a família retoma a rotina que já dura sete semanas e envolve todo tipo de esforço para ajudar a jovem a realizar o sonho da fama. Sábado, o Diário acompanhou a torcida em mais uma viagem ao Rio.

Caravana – Às 2h da madrugada de sábado, a casa de Helen era a única iluminada em uma rua do bairro das Américas. A agente de saúde Sueli Gonçalves, mãe da cantora, aproveita os minutos antes da viagem para finalizar os cartazes que são mostrados durante o programa. Faz isso com a ajuda dos filhos Herbert, 15 anos, Harlem, 13, e da amiga Andréia de Jesus, 29.

Segundo Sueli, preparar a viagem é só uma das coisas que mudou na vida da família Gonçalves. “Eu sempre acompanhei a carreira da Helen, só que agora é diferente. Esta semana de paredão, fiquei correndo atrás de votos, é uma loucura”, diz.

Diariamente, Sueli vai à residência do namorado da filha, Milton Santos Júnior, 25 anos, para assistir à rotina da moça pelo sistema pay-per-view. “Só vamos dormir depois que ela dorme”, diz Sueli, que também foi todos os dias a uma escola de informática para votar na permanência: “em uma hora dá para votar 120 vezes”. A tia Roseli chegou a votar 1,6 mil vezes.

Quando o ônibus chega, por volta das 3h, o número de integrantes já cresceu. Primos, tios e amigos fazem fila para se acomodar. Cada participante tem direito a levar 12 pessoas.

Nem o frio da madrugada, as duas 'escalas', em Ribeirão Pires e Guarulhos, e as oito horas de viagem, nos 800 km que separam Mauá do Rio, conseguiram acalmar os ânimos.

Ao som de pagode e música sertaneja, os 'torcedores' não paravam um minuto. A prima de Helen Helena Costa Guerra, 12 anos, era uma das mais animadas. E cada vez que o grupo ameaçava diminuir o ritmo da festa, entoava coros como “ô, Helen, cadê você? Eu vim aqui só prá te ver”. Depois de três horas, o sono falou mais alto e houve silêncio por duas horas. Depois disso, mais agitação.

A infra-estrutura do ônibus – cedido por um candidato a prefeito – era boa. Havia travesseiros, cobertores, salgadinhos, suco, lanches, leite, café e até remédio para enjôo.

Já no Rio, o ônibus parou em Cidade de Deus para o embarque dos avós de Helen, Idalba Oliveira Guerra e Manoel Henrique Guerra, ambos de 65 anos. Com o time completo, era hora de distribuir o uniforme. Sueli mandou fazer 50 camisetas com nome e foto da filha. Perto do Projac, o ônibus parou e os homens tiveram de descer. “Agora as mulheres vão se trocar”, avisou Idalba.

Projac – A caravana chegou ao estúdio às 12h. Todos se identificaram e passaram por detector de metais. Cada pessoa recebeu dois tíquetes: um com o número da cadeira e o outro, um vale lanche. Depois da refeição, as cerca de 200 pessoas foram para uma espécie de concentração, onde receberam dicas de como agir durante o programa: muita animação, palmas para todos candidatos e nada de hostilidade com os concorrentes.

Com todos já acomodados no estúdio, a apresentadora Angélica combinou como seria a entrada ao vivo. Nessa hora, o nervosismo já era tanto que o namorado começou a sentir-se mal. Os irmãos mantiveram a animação e a pequena Carol, 8 anos, gritava na esperança de ver a irmã antes de todos. A saudade tem motivo: Helen está incomunicável há mais de 50 dias.

Quando o show começa, a família esquece o cansaço, e o tempo passa rápido. A cada chamada da votação, todos se entreolham preocupados. A notícia da permanência de Helen na casa animou a torcida. Mas, logo depois, todos ficaram tensos de novo: Helen irá para outro paredão. “Não é justo”, desabafou Júnior.

O programa acaba e Helen é logo levada do palco. Os familiares vão para a gravação de um flash, em que pedem votos para a candidata mauaense. Mãe, avós, irmãos e amigos saem um pouco desanimados, mas certos que uma outra vitória a deixará mais forte.

Na viagem de volta, a animação é a mesma da ida. No próximo sábado, Helen estará pronta para mais uma disputa. E a família, preparada para voltar com a mesma garra e união.