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Analfabetos estão em todas as classes sociais
Ana Macchi
Do Diário do Grande ABC
04/08/2001 | 18:27
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A falta de oportunidades para freqüentar a escola durante a infância é hoje o motivo que leva os alunos do Mova (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos) a retomar os estudos. Vindos do interior, as pessoas que começaram a estudar tardiamente – a partir dos 50 anos – geralmente cresceram e trabalharam no meio rural para, na adolescência, arriscar a sorte e tentar um emprego melhor nas cidades grandes.

O perfil social desses estudantes só muda no futuro conquistado por cada um. Espalhados em diversas classes sociais, existem analfabetos em praticamente todos os bairros das seis cidades da região que integram o movimento. Por esse motivo, as atuais 426 salas do Mova precisaram ser distribuídas em diversos espaços, como igrejas, sociedades amigos de bairro, escolas, setores públicos e em locais incomuns como bares e residências.

O comerciante Francisco Lucílio do Nascimento, proprietário de um bar em Ribeirão Pires e ex-aluno do Mova, resolveu dar oportunidade a outros analfabetos da cidade ao construir em seu próprio estabelecimento uma sala de aula. “Vi que funciona porque as 240 pessoas que passaram por aqui tomaram rumos melhores em suas vidas. A procura é tanta que optei por fazer uma reforma e ampliar o espaço. Acho que, quando resolvi estudar, passei a ver as situações do cotidiano com maior simplicidade. Até curso de computação já conclui.”

Em todas as cidades, as mulheres predominam o cenário de exclusão social, muitas delas acima dos 50 anos. A aposentada Maria José da Silva, 56, de São Bernardo, é uma das 25 pessoas que freqüentam o Mova do Centro de Referência do Idoso. “Dependi da ajuda de outras pessoas a vida inteira. Algumas vezes cheguei a passar por humilhações desnecessárias. Agora que retomei os estudos, quero me transformar em uma pessoa independente.”

A costureira Maria Fernandes Cantarim Proença, 52, de Santo André, foi uma das primeiras alunas do Mova e hoje já cursa o 1º colegial – ela fez supletivo. “Antes de ser alfabetizada tinha muita vergonha de falar e dificuldades para me relacionar no trabalho. Chegava ao ponto de pedir ajuda para preencher cheques e para ver o número do ônibus. Para não dizer que era analfabeta, costumava falar que tinha problemas de visão”, disse. Quatro anos depois, Maria conta que conseguiu alcançar seu objetivo e levar mais de 20 amigas à escola. “Fiquei jovem de novo e, para completar, virei uma cidadã de verdade”, afirmou.




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