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Black Fraude

Foi assim, com muito bom humor e criatividade...

Por Carlos Ferrari
28/11/2012 | 00:00
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Foi assim, com muito bom humor e criatividade, que muitos brasileiros batizaram nossa Black Friday tupiniquim. 
A propósito, você sabe, de fato, o que é a tal da Black Friday? Vamos lá, tentando resumir e explicar com a relativa grandeza que o assunto merece, trata-se de um dia no ano onde lojas de todos os segmentos de mercado abrem suas portas nos Estados Unidos, para realizar grandes promoções, com vistas a dar vazão a seus estoques e, claro, reorganizar suas contas. Pois é, a ideia é sair do vermelho, e lá eles não entram no azul, por isso ao invés de blue friday, é black friday.

Mas voltando aqui para o Brasil, é claro que nossos lojistas tentaram entrar na onda. Aproveitaram o fenômeno da globalização, que faz com que grandes momentos locais se transformem em notícias mundiais, para também aumentar suas vendas e tentar contagiar o consumidor do País do Neymar.

Não preciso nem dizer que a ideia, que não é nova, neste ano mais do que nos outros, teve um grande sucesso. Contudo, muita gente percebeu que por aqui a promoção só ficou nos anúncios benfeitos, e nas expectativas de compradores ansiosos por uma ‘boquinha'.

A propósito, nunca me esqueço do dia em que cheguei em um supermercado, onde já muitas pessoas se mobilizavam a partir de uma fala empolgada de um locutor com voz forte. Ele dizia que em oito minutos teria início a ‘promoção relâmpago' do mês. A coisa continuou, foi uma contagem regressiva minuto a minuto. Não era dito qual seria o produto e nem qual seria o preço, simplesmente se fazia pública a notícia de que naquele local teria um grande ‘raio promocional'. Chegou a hora, o locutor contou empolgado que a partir daquele momento, por quatro minutos, baldes plásticos estariam custando R$ 1,20 e cada pessoa só poderia levar cinco unidades.

Naquele momento um cenário se mostrou assustador. Todo mundo que estava no mercado saiu em desespero para ter direito à compra do balde.

Tanto a Black Friday quanto minha história dos baldes nos convida a refletir sobre nosso comportamento atual de consumidor. ‘O que?' e ‘por que compramos?' são perguntas que devem pautar nossas reflexões.

Se quisermos um País socialmente mais justo, devemos em primeiro lugar dar atenção às nossas pequenas atitudes. Quando compramos mais do que nos encanta e nos envaidecemos com nossa nova aquisição, precisamos saber o aporte social por trás daquele produto. Podemos perguntar: tem compromisso com a acessibilidade? Ou seja, foi pensado para qualquer pessoa, independentemente de ter ou não alguma deficiência? Tem compromisso ambiental? Ou seja, foi produzido e funciona em uma perspectiva que considere as questões relacionadas à preservação do planeta? Tem compromisso social?

Ou seja, foi produzido valorizando a qualidade de vida e o direito dos trabalhadores envolvidos em toda cadeia produtiva, bem como as comunidades do entorno?.

Não é difícil. E fazendo isso, além de fazer uma compra com grande prazer, não permitiremos que, quem quer que seja, possa vir a fraudar o exercício de nossa cidadania.

*Carlos Ferrari é presidente do CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social) e vice-presidente da Fenavape (Federação Nacional das Avapes). 




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