Dramaturgo que revolucionou o teatro brasileiro, Nelson Rodrigues (1912-1980) optou pela liberdade e, consequentemente, pela solidão intelectual para opinar - com a sua consciência - sobre a sociedade de sua época, considerada pequena, mesquinha e hipócrita. Grande polemista, o autor recifense foi, assim, alvo frequente de censuras, vaias e piadas.

O legado de Nelson Rodrigues, que também trabalhou como repórter policial, cronista esportivo e escritor, é revisto no ano em que ele completaria o centenário de nascimento. Com curadoria da filha Maria Lucia Rodrigues em parceria com Sonia Muller, uma das netas do autor, a "Ocupação Nelson Rodrigues" será inaugurada no Itaú Cultural, em São Paulo, na quinta-feira.

Um mergulho na vida e na obra do célebre dramaturgo é o que a mostra proporcionará ao público. "A exposição está muito sensorial. Você entra e percebe os diferentes climas da vida de Nelson Rodrigues", afirma Maria Lucia, que pesquisa materiais sistematicamente desde setembro. As experiências e opiniões do jornalista são reveladas por meio de filmes, gravações de voz, fotografias, jornais e pôsteres.

A exposição pretende, por meio das palavras do próprio Nelson Rodrigues, mostrar o outsider que "dava murro em ponta de faca", crítico da sociedade em que vivia. Para tanto, a mostra reúne algumas de suas frases emblemáticas como: "Me criticam por "Álbum de Família" ter incesto demais como se incesto pudesse ser demais ou de menos."

Para Maria Lucia, o pai ainda é atualíssimo. "A sociedade continua hipócrita, tendo dificuldades para enxergar o diferente. O que existe mais hoje é denúncia. Os fatos que eram criticados pelo meu pai continuam existindo", avalia.

A intenção da mostra também é apresentar a origem de Nelson Rodrigues por ter influenciado a sua obra e falar da importância da família Rodrigues para a vida do dramaturgo, que se tornou gênio - segundo Maria Lucia - porque contou com ambiente favorável em casa. "Todos os Rodrigues escreviam e eram jornalistas. É uma imensa alegria apresentar Nelson Rodrigues como o conheci", afirma. "Ele era uma pessoa boníssima. Gostaria de ser tão boa quanto ele. Sinto falta de sua doçura. Era extraordinário", completa.

A cenografia do espaço expositivo é assinada por Valdy Lopes Jr., que trabalhou com elementos como véus, mobília e espelhos d'água para aproximar ainda mais o público do universo rodriguiano. "Ele fez um trabalho muito bonito e sensível, entendendo perfeitamente a proposta da curadoria", comenta Maria Lucia.

Um site funcionará como extensão da mostra, exibindo grande parte dos trabalhos selecionados, depoimentos de personalidades e obras relacionadas ao seu universo. O endereço www.itaucultural.org.br/ocupacao/ poderá ser acessado a partir de quinta-feira.

EVENTOS PARALELOS - No início de julho, o Itaú Cultural será palco para a peça "Os Sete Gatinhos", com direção de Nelson Baskerville, e a montagem "17 X Nelson", que tem a mesma direção. O instituto também promoverá o "Encontro com Nelson ao Pé da Cena", que tem curadoria de Valmir Santos. A proposta é compor três mesas com pares de diretores que rememorem os seus percursos criativos diante de uma peça comum de Nelson Rodrigues. Entre eles estão Cibele Forjaz e Ana Kfoury.

No fim de julho, o Auditório Ibirapuera ainda sediará o recital "Elas Não Gostam de Apanhar", dirigido por Marcos Antônio Braz, com Cleyde Yáconis e Denise Fraga.

Ocupação Nelson Rodrigues Exposição. Abertura na quinta-feira. No Itaú Cultural - Avenida Paulista, 149, São Paulo. Tel.: 2168-1776. Visitação: de terça a sexta-feira, das 9h às 20h; sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h. Grátis. Até 29 de julho.