Cotidiano Titulo Cotidiano
Fanatismo, doença de difícil trato
Rodolfo de Souza
21/11/2024 | 10:09
Compartilhar notícia
Seri


Sou obrigado a admitir que o fato de ter escolhido as letras e não a medicina coloca em xeque a minha opinião sobre qualquer conversa envolvendo doenças. Se não entendo do riscado, por que, então, opinar a respeito, não é mesmo? Por isso, me sinto pouco à vontade para diagnosticar como enfermidade um mal que acomete alguns indivíduos no decorrer de uma tediosa e, ao mesmo tempo, enfastiante existência. Refiro-me a um tipo de insanidade que leva pessoas ao isolamento social, uma vez que ser humano algum se dispõe a desperdiçar seu precioso tempo ouvindo falar de um mesmo assunto noite e dia. Discursos repletos de ufanismo e baba cujo autor espalha ao tecer comentários acerca daquilo que aprecia sobremaneira. 

O fanatismo é, por assim dizer, um tipo de demência que provoca cegueira no doente, que só consegue ver grandiosidade, por exemplo, num único artista ou político ou religião... Não percebe, a criatura, que habita um mundo repleto de possibilidades, e que seu entendimento caminha numa única direção, sem notar o que vai ao redor. Não é, pois, capaz de enxergar o valor de outras coisas que também fazem parte da vida. Se é contestado a respeito de suas atitudes e palavras, o fanático logo relaciona sua postura com o objeto de sua admiração, uma vez que não consegue ver graça em nada mais do que aquele sinistro que ronda sua mente distorcida.

Chamo o mal de doença, porque o distúrbio é nocivo para o doente e também para as pessoas que estão à sua volta e, não raro, para a sociedade como um todo. É o caso do sujeito que vinha cultivando uma obsessão por um determinado político, obsessão esta que o levou, noutro dia, a cometer desatinos que culminaram em sua morte. Caso que ganhou as manchetes pelo perigo em si e pelo grau de estupidez envolvendo o doente. 

Houve quem dissesse que o indivíduo agira de forma isolada, sem a influência de terceiros, o que causa muita estranheza, uma vez que mentes sórdidas, espalhadas pelos quatro cantos, costumam se aproveitar da fragilidade de pessoas obcecadas como aquela para delas extraírem ações que colocam em prática seus próprios objetivos. Atos que visam, com alguma frequência, o delito de uma forma geral. Do mais simples ao mais grave como no caso ora citado. Fatos convenientemente creditados à loucura do criminoso, encobrindo, assim, a sombra que rondava e influenciava seu cérebro doente.

Infelizmente, porém, é assim que a engrenagem do crime se move, cada vez mais azeitada e propensa a induzir mentes tortas a trabalharem para si. São pessoas que se cercam de um aparato tecnológico, jamais concebido em passado recente, para aliciar mentes que não deram espaço para a construção de uma inteligência refinada que lhes oferecesse proteção, que lhes permitisse produzir sua própria opinião acerca do que acontece ao seu redor.

E a origem de tudo isso assistimos de camarote no decorrer de alguns anos sinistros, cujo término não foi suficiente para fazer secar a erva daninha plantada durante esse período. 

A doença do fanatismo desmedido, enfim, perdura e vem se espalhando, de forma a criar uma sociedade de doentes.

Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.com




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;