Paulo Barição foi suspenso em setembro por 30 dias pelo Cremesp por negligência em cirurgias de catarata, em 2016, mas já voltou ao trabalho
Oito anos após um mutirão de cirurgias de catarata realizado pelo Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista no Hospital de Clínicas de São Bernardo, que resultou na infecção de 22 pacientes pela bactéria Pseudomonas aeruginosa, o oftalmologista responsável pelo procedimento, Paulo Barição, continua sem condenação na esfera criminal. Segundo o TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo), o processo continua aberto e segue sob segredo de Justiça. Somente em setembro desse ano ele recebeu punição do Cremesp (Conselho Regional de Medicina de São Paulo) – foi suspenso de suas atividades por 30 dias por negligência e imprudência.
Entre o total de 27 pacientes atendidos na ocasião, 18 perderam a visão (total ou parcialmente), dez precisaram remover o globo ocular e um, o aposentado Pelegrino Focher Riatto, 77 anos, faleceu devido a complicações da infecção.
A advogada Letícia Maykoga, filha da dona de casa Genesil da Silva Koga, avaliou como “ridícula” a punição dada ao médico, que foi cumprida do dia 2 de setembro até 1° de outubro. Hoje, o médico trabalha em uma clínica particular em São José dos Campos. “É revoltante pensar que, depois de tudo, ele recebeu apenas 30 dias de suspensão e vai poder clinicar de novo, como se nada tivesse acontecido”, disse Letícia, que representa judicialmente 13 pacientes, que já foram indenizados pelos envolvidos. “Espero agora que ele e a equipe sejam condenados. Na esfera cível, não foi possível responsabilizá-lo diretamente, mas na criminal nossa expectativa é que se faça justiça”, avalia a advogada.
Ela relembra que, após a cirurgia, a mãe começou a sentir dor intensa e lacrimejamento nos olhos já no dia seguinte. Com um quadro grave, ela precisou recorrer a atendimento particular para um tratamento de emergência, mas a infecção acabou comprometendo sua visão. Ela perdeu a visão de um dos olhos, mas manteve o globo ocular. Já com baixa visão no outro olho, a paciente precisou passar por um processo de neuro adaptação para se ajustar à nova condição. Apesar das dificuldades, conseguiu retomar sua rotina. “Hoje, ela está bem. Com sua força, superou a situação e vive sua vida normalmente, apesar das limitações”, disse Letícia.
DENÚNCIA
A Delegacia de Defesa do Idoso de São Bernardo e a Vigilância Sanitária concluíram que houve falhas graves de assepsia durante cirurgias de catarata realizadas, coordenadas pelo médico Paulo Barição, que virou réu após a Justiça aceitar denúncia do MP (Ministério Público). Na época, a promotora Simone de Divitiis Perez listou 12 pacientes que sofreram lesões corporais graves, perdendo a visão, e oito que necessitaram de evisceração ocular. A pena varia de um a oito anos de prisão, dependendo do caso e do número de vítimas.
De acordo com o MP, as falhas nos procedimentos foram sistemáticas: pacientes entravam na sala cirúrgica, recebiam anestesia da assistente e eram levados para a mesa onde Barição realizava as cirurgias. Sem a devida esterilização dos instrumentos entre um procedimento e outro, o médico apenas trocava as luvas, colocando os equipamentos usados em uma solução. Não houve troca de aventais, lençóis ou campos cirúrgicos até o intervalo para almoço. Mesmo após a pausa, as cirurgias foram retomadas sem esterilização adequada dos instrumentos, resultando em 22 pacientes infectados, dos quais 18 ficaram cegos e um morreu, diz a denúncia.
DEFESA
O Diário buscou contato com Paulo Barição, mas não conseguiu retorno. A clínica onde ele realiza atendimentos informou que ele está em período de férias. Em depoimento à Polícia Civil em 2016, Barição se declarou inocente, apontando que poderiam responsabilizar a Prefeitura de São Bernardo e o Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista pela transmissão da bactéria.
Ele alegou que sua equipe realizou a esterilização dos itens de sua propriedade e afirmou ter seguido as normas de segurança. Barição declarou ainda que soube das infecções no dia seguinte ao mutirão e que buscou assistência junto à Prefeitura e ao Instituto, mas que não recebeu apoio, sentindo-se isolado diante da gravidade dos casos. Segundo o delegado Gilberto Peranovich, o médico buscou suporte em hospitais e médicos de São Paulo e colheu amostras da bactéria Pseudomonas aeruginosa, conhecida pela alta resistência a antibióticos, para análise em laboratório particular.
Em nota, o Paço de São Bernardo “destaca sua indignação pela punição de apenas 30 dias de suspensão da licença de trabalho do referido oftalmologista”. “A rede municipal de saúde permanece prestando total assistência aos pacientes operados no sistema de mutirão em 2016, na gestão do ex-prefeito Luiz Marinho (PT). Eles são acompanhados no Centro Especializado de Reabilitação por equipe multiprofissional, continua.
O Instituto de Oftalmologia da Baixada Santista teve o contrato suspenso após o mutirão malsucedido.
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