A caridade jamais passará, escreveu São Paulo em uma de suas cartas (1Cor 13,8). No dicionário Houaiss consta: “Virtude teologal que conduz ao amor a Deus e ao nosso semelhante”. Caridade é palavra que no latim expressa amor ao próximo e nós temos como caridade, na compreensão popular, um ato de benemerência visando ajudar o próximo.
O Papa Leão, em 1885, declarou São Vicente de Paulo Patrono das obras de Caridade da Igreja Católica. Título merecido pela sua ação caritativa, quando em vida (1581- 1660), e pela inspiração que, ainda hoje, perpassa não só os ambientes da Igreja, mas a sociedade na qual seu nome é conhecido, associado justamente à promoção humana. Basta pensar nas Conferências de São Vicente de Paulo espalhadas em todo o Grande ABC e que já ajudaram milhares de necessitados.
São Vicente foi advogado e sacerdote, viveu nos anos difíceis que antecederam a Revolução Francesa, numa França onde não havia lugar para os pobres. O iluminismo, que já se anunciava, prezava a ordem, a razão acima de tudo. Nada mais desordenado e irracional do que a existência dos pobres, que sobreviviam da caridade da Igreja e das pessoas compassivas, porém, eram sempre ameaçados.
Neste ambiente, Vicente de Paulo vai não somente fazer caridade, mas vai organizar a ação caritativa e fundar muitos pequenos ‘exércitos’, para levar avante um trabalho gigantesco em prol dos menos favorecidos. E ele o fez a partir de sua fé, como mostra sua carta, que pode ser muito bem o seu testamento, e que transcrevemos a seguir.
“Não temos de avaliar os pobres por suas roupas e aspecto, nem pelos dotes de espírito que pareçam ter. Com frequência são ignorantes e curtos de inteligência. Mas, muito ao contrário, se iluminados pela fé, considerardes os pobres, então percebereis que estão no lugar do filho de Deus que escolheu ser pobre. De fato, em seu sofrimento, embora quase perdesse a aparência humana – loucura para os gentios, como o evangelizador dos pobres: ‘A evangelizar os pobres enviou-me’. Devemos ter seus mesmos sentimentos e imitar aquilo que Cristo fez: ter cuidado pelos indigentes, consolá-los, auxiliá-los, dar-lhes valor.
Com efeito, Cristo quis nascer pobre, escolheu pobres para seus discípulos, fez-se servo dos pobres e de tal forma quis participar da condição deles, que declarou ser feito ou dito a ele mesmo tudo quanto de bom ou de mal se fizesse ou se dissesse aos pobres.
Deus ama os pobres, também ama aqueles que os amam; quando alguém tem um amigo, inclui na mesma estima aqueles que demonstram amizade ou prestam obséquio ao amigo. Por isso esperamos que, graças aos pobres, sejamos amados por Deus. Visitando-os, pois, esforçando-nos por entender os pobres e os indigentes, compadecendo-nos deles, cheguemos ao ponto de poder dizer como o Apóstolo: ‘Fiz-me tudo para todos’. Por este motivo, se é nossa intenção termos o coração sensível às necessidades e misérias do próximo, supliquemos a Deus que derrame em nós o sentimento de misericórdia e de compaixão, cumulando com ele nossos corações e guardando-os repletos.
Deve-se preferir o serviço dos pobres a tudo o mais e prestá-lo sem demora. Se na hora da oração for necessário dar remédios ou auxílio a algum pobre, ide tranquilos, oferecendo a Deus esta ação como se estivésseis em oração. Não vos perturbeis com angústia ou medo de estar pecando por causa de abandono da oração em favor de serviço dos pobres; Deus não é desprezado se, por causa deles, de Deus nos afastamos, quer dizer, interrompemos a obra de Deus, para realizá-la de outro modo”. (São Vicente de Paulo in Epístola 2546; in Correspondance, entretiens, documents, Paris, 1922-1925, p. 7.)
Neste mês de setembro, no qual é comemorado no dia 27, a Diocese de Santo André está recebendo a visita das relíquias de São Vicente de Paulo. Estão percorrendo várias paróquias da Diocese, reavivando o desejo de ajudar os mais pobres, lutando contra a pobreza.
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