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Nova onda de calor
Rodolfo de Souza
11/09/2024 | 19:29
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Fernandes

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Faz calor. O clima parece ignorar o período de inverno que ainda persiste em manter-se vivo, a despeito da importunação sofrida pelo verão que, tudo indica, deseja para si o ano todo. Seria um golpe orquestrado por ele para declarar sua soberania e deitar por terra o arrefecimento oferecido pelo outono, pelo inverno e pela primavera? Acaso tenciona, o verão, fundar um império do fogo cá nesta Terra e, com isso, fritar os miolos já um tanto degenerados de toda a humanidade? 

A primavera, esta que está por vir, segundo os meteorologistas, será quente e seca. Seca, não nos esqueçamos, é situação que nos tira o sossego da alma, uma vez que água é ingrediente essencial para a continuidade desse corpo que lhe dá abrigo. Ou será o contrário? Talvez a alma carregue nos ombros a fugaz alegria de se saber vivo deste organismo que peleja para ignorar os rigores da passagem do tempo e da mudança do clima. 

E o esquecimento dessa gente, de que somos feitos de água, leva-a a aceitar com naturalidade o sinistro de calor extremo que ora ameaça a nossa existência. Pessoas que reverenciam a temperatura sempre alta e chamam de mau-tempo o céu nublado, a chuva, o frio. Diga-se de passagem, me oponho ao termo “mau-tempo” para se designar um dia chuvoso. Preocupa-me mais o céu azul com sol perene do que a umidade. Isso porque o cenário cotidiano dos dias atuais, aqui em pátria Tupinambá, nos remete à solidão árida das areias dos desertos, e isso é assustador, convenhamos.

Todos se esquecem também, ou não dão a devida importância para o fato de que o ser humano tem promovido a destruição sistemática da natureza para fartar seu estômago insaciável de grana e poder, mesmo ciente de que nada disso lhe servirá amanhã. Certamente há quem considere simplista a minha visão, sem se dar conta, no entanto, de que caminhamos para o aniquilamento. 

Na calada da noite, no momento em que o sono não me oferece a sua benfazeja companhia, costumo navegar pelos meandros do pensamento, que vão da longa estrada que se perde no retrovisor às questões ambientais. Estas, sobretudo estas, costumam me tomar de assalto com a perturbadora consciência de que toda a vida da Terra está nas mãos de uma minoria, bem pequenininha, mas que é dona do poder, ou possivelmente escrava dele. 

A nós, o proletariado, cabe somente aguardar, apreensivos, as decisões dessa meia-dúzia que estuda sua tabela de lucros e acordos para determinar se lhe convém impedir ou facilitar a onda de destruição das florestas e seus mananciais, se deve reduzir ou aumentar o nível de dióxido de carbono na atmosfera... Atmosfera aqui, baixinho no seu ouvido, é parte da Terra, feita de ar, sem o qual tombamos antes que o ponteiro do relógio percorra um minuto.

E a gente graúda que tem nas mãos o nosso destino finge desconhecer a gravidade dos fatos e brinca de ser deus. Pessoas que viram a cara para a realidade de que elas e seus descendentes também sucumbirão em futuro não muito distante. Os fenômenos que ora presenciamos, enfim, nos revelam tudo isso e nos esfregam na cara a verdadeira face da nossa realidade.




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