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Gestão Auricchio decreta fim de marcas históricas de São Caetano

Extinção de clubes e de entidade assistencial se soma ao ‘desaparecimento’ do time de futebol

Angelo Verotti
25/08/2024 | 10:17
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FOTO: Celso Luiz/DGABC

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Em meio a críticas pelo aumento de 76% nos salários do primeiro escalão (prefeito, vice e secretários) do governo a partir de 2025, e pela queda na qualidade do sistema de Saúde, a gestão do prefeito José Auricchio Júnior (PSD) em São Caetano tem ficado marcada pelo fim de ciclos históricos para a cidade e, consequentemente, para os moradores. Essas perdas se refletem nos mais diversos segmentos.

O chefe do Executivo cumpre até o fim de dezembro o quarto mandato na cidade – já esteve no posto de 2005 a 2008, 2009 a 2012, 2017 a 2020. Os períodos coincidiram, por exemplo, com o desaparecimento do Azulão, único clube profissional do município, dos cenários nacional e estadual do futebol; da demolição de espaços públicos e da extinção de projetos pertencentes a antigas administrações, como a do ex-chefe do Executivo Luiz Olinto Tortorello, que comandou a cidade de 1989 a 1993, 1997 a 2000 e 2001 a 2004.

No segmento esportivo, o município testemunhou no início dos anos 2000 à ascensão da Associação Desportiva São Caetano, dentro e fora do País. A equipe foi vice-campeã brasileira, em 2000 e em 2001, e da Libertadores, em 2002, além de campeã da elite do Paulista, em 2004. Tudo isso com o apoio do ex-prefeito Tortorello, morto no último mês de sua gestão. Com a mudança na administração municipal, a situação da agremiação se deteriorou. 

O São Caetano perdeu o encanto. Deixou de ser protagonista. No Brasileiro, foi rebaixado à Série B, em 2006; à Série C, em 2013; e à Série D. já no ano seguinte. O desaparecimento no cenário nacional ocorreu já em 2020, quando terminou a Série D na última colocação – chegou a ser goleado por 9 a 0 pelo Pelotas – e ficou definitivamente sem a vaga na competição. No Campeonato Paulista, que exige menor investimento e, teoricamente, tem adversários de menor expressão, principalmente nas divisões intermediárias, o Azulão alternou bons e maus momentos. Além de ter sido vice-campeão da elite estadual em 2007, conquistou os títulos da Série A-2 em 2017 e em 2020, mas amargou rebaixamentos nos últimos anos, como à Série A-3, em 2023, e, nesta temporada, à Série A-4.

Os baixos rendimentos em campo foram um reflexo da falta de apoio da Prefeitura e das más gestões administrativas. Diante de altas dívidas, a agremiação foi colocada à venda em dois leilões, em 2022 e 2023, com lances iniciais de R$ 90 milhões e R$ 60 milhões, respectivamente. Não houve qualquer proposta de compra.

O cenário, que já não era bom, se tornou trágico na última semana com a decisão do clube de entrar com pedido de recuperação judicial na expectativa de evitar a falência. O passivo já supera os R$ 73 milhões e a medida visa reestruturar as finanças do clube. A diretoria revela ter o apoio incondicional da torcida, sentimento que não se estende à administração municipal, que tem ignorado a situação da agremiação que tantas alegrias deu à cidade.

Para complicar, o Estádio Anacleto Campanella, onde o time profissional do Azulão e suas categorias de base mandam seus jogos em competições oficiais, está deteriorado. Parte das arquibancadas não tem condições de receber torcedores. Nas tubulares, por exemplo, a ferrugem domina boa parte do assentos. Isso sem contar objetos encontrados em áreas aparentemente abandonadas no estádio, como cadeiras, mato e pedras, que podem ser tornar armas nas mãos de torcedores.

PARQUE LINEAR

O evidente descaso da Prefeitura com clubes não se limitou ao São Caetano. Decisões recentes da gestão Auricchio geraram polêmica e afetaram diretamente o dia a dia de muitos moradores - que, por exemplo, utilizavam as instalações da Abrev (Associação Beneficente Recreativa e Esportiva) Vila Barcelona e da Acascs (Associação Cultural e Artística de São Caetano). Com mais de 50 anos de existência, as duas unidades na Avenida Presidente Kennedy tiveram parte de suas estruturas demolidas no último ano para a construção de um parque linear que vai se integrar ao Parque da Cidade das Crianças e ao Teatro Municipal Paulo Machado de Carvalho, que ficam do outro lado da avenida – parte do Serc Santa Matia também foi afetada pelas intervenções. 

O projeto do parque linear foi motivo de protestos de moradores e antigos sócios dos clubes – somente a Abrev tinha mais de 5.000 associados que utilizavam a estrutura para festas e atividades de lazer. Um abaixo-assinado com mais de 2.000 assinaturas contrário à intervenção foi sumariamente ignorado pelo prefeito e pela Câmara de São Caetano.

O caso ganhou capítulos ainda mais dramáticos porque, desde outubro, mês da assinatura da Ordem de Serviço com a Versátil Engenharia, o custo de construção do parque teve incremento de R$ 10 milhões. O valor pré-acordado, de R$ 47,8 milhões, sofreu aditivo contratual de R$ 9,4 milhões, em maio, autorizado pelo chefe do Executivo, e mais recentemente (julho), de R$ 649,1 mil, após nova licitação, para a compra de postes e outros equipamentos para iluminação. Com orçamento atualizado de R$ 57,9 milhões, o espaço tem previsão de entrega para outubro, mês da eleição municipal.

Não bastasse a majoração de R$ 10 milhões no valor, o projeto também provocou repercussão na cidade pelo fato de as obras terem começado sem a devida autorização. Em maio do ano passado, como informado pelo Diário à época, as máquinas iniciaram a demolição das áreas sem ter sido elaborado o EIA/Rima (Estudo e Relatório de Impacto Ambiental). Um sinal de que os devidos processos legais nem sempre são cumpridos à risca pela gestão de Auricchio.

Tamoyo

O Clube Esportivo e Recreativo Pedro Furlan, conhecido como Tamoyo, também foi afetado pelas decisões da atual gestão. Com quase 80 anos de existência, o espaço de recreação no bairro Cerâmica sofreu com a falta de investimento da Prefeitura durante anos e acabou transformado no Parque Elis Regina, inaugurado no último dia 18, após investimento de R$ 14,9 milhões, sendo R$ 10 milhões provenientes de convênio com o governo do Estado.

Anne Sullivan

As críticas à gestão Auricchio aumentaram com a suspensão das atividades da Fundação Anne Sullivan, voltada ao atendimento de crianças, jovens e adultos especiais. A entidade encerrou as atividades após 45 anos de história e deixou pais à procura de um espaço para dar prosseguimento ao tratamento de filhos. A justificativa do Paço foi o projeto de construção de um Complexo Municipal de Atenção à Pessoa com Deficiência, em desenvolvimento.

A ex-secretária de Saúde de São Caetano Regina Maura Zetone (PSD), candidata a vice-prefeita na chapa governista encabeçada por Tite Campanella (PL), teve de prestar depoimento à Justiça sobre o fato. Porém, na ocasião, apresentou respostas evasivas aos pais dos alunos presentes no Fórum da cidade. 

Regina Maura estava acompanhada pela secretária de Educação, Minéa Paschoaleto Fratelli, que não quis discutir o fechamento da Anne Sullivan. 

A Prefeitura de São Caetano foi procurada para comentar os temas, mas não retornou até o fechamento desta edição.




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