Palavra do Bispo Titulo Palavra do Bispo
Não matar: a banalidade do mal!
Bispo Dom Pedro Cipollini
29/05/2024 | 22:37
Compartilhar notícia
Fernandes


Até bem pouco tempo atrás parecia ser este um mandamento óbvio, por indicar o mínimo de respeito para quem está a seu lado. A morte de pessoas, fora as guerras e catástrofes naturais, que eram previsíveis, aconteciam em casos gravíssimos como vingança, assaltos, crime organizado etc. Hoje, porém, as coisas mudaram. As mortes violentas parecem fazer parte da “normalidade”, ou da “banalidade do mal”. 

O quinto mandamento da Lei de Deus, não matarás (Ex 20,13; Mt 5,21) prescreve como pecado grave o homicídio direto e voluntário. Proíbe que se faça algo com a intenção de provocar a morte de uma pessoa. Para Deus, autor e doador da vida, a vida é sagrada e deve ser mantida desde a concepção até a morte natural.

No entanto, assassinatos acontecem todos os dias por qualquer motivo, os mais absurdos. Vejam o caso do adolescente que matou seus pais e a irmã indo em seguida para a padaria e a academia, deixando os cadáveres em casa. 

A vida humana perdeu seu valor e o mau uso da liberdade explica muitas atitudes violentas. Impressiona, porém, o fato de que na raiz de tantos assassinatos estejam motivos fúteis e pequenos. O infanticídio, fratricídio e parricídio e assassinato do cônjuge são particularmente graves, devido aos laços naturais que se rompem. 

Entre as maiores vítimas estão as mulheres, assassinadas em larga escala, ao ponto de a ONU estabelecer a “jornada mundial pela eliminação da violência contra a mulher”. Morte no trabalho, pelas drogas, acidente de trânsito e outras causas como eutanásia e suicídio... É triste constatar que o crescimento do desenvolvimento e do progresso técnico não diminuiu a desigualdade e a violência contra a vida. 

Se olharmos o vasto horizonte deste mundo, a tragédia humana aumenta devido aos inúmeros conflitos em curso. No dizer do papa Francisco, estamos em uma terceira guerra “em pedaços”. Mais grave é a fome. São milhões de pessoas que passam fome em um mundo que nunca, como hoje, teve tanta facilidade para produzir alimentos. 

Hoje 10% das crianças que nascem nos países em via de desenvolvimento morrem antes de completar os cinco anos. Isto sem falar dos milhões de abortos, que é o assassinato de um ser vivo no útero materno. Carestia e guerras causam somente um décimo das mortes por fome, que é causada por má nutrição crônica.

Pode-se objetar que as mortes devido à guerra e à fome não são assassinato, pois não são causadas diretamente por uma outra pessoa. Mas pensemos bem na existência de uma “violência estrutural, programada” que implica na produção de armas e exploração de povos mais pobres pelos mais ricos. “Esta violência é gerada e fomentada, tanto pela injustiça, que se pode chamar de institucionalizada em diversos sistemas sociais, políticos e econômicos, quanto pelas ideologias que a transformam em meio para a conquista do poder” (Doc. de Puebla n. 509).

Ao quinto mandamento, não matar, se contrapõe de forma positiva o mandamento do amor ensinado por Jesus Cristo no Evangelho e que podemos traduzir por fraternidade. Somos todos irmãos e por isso devemos nos amar, nos querer bem. Toda a criação é obra de Deus, não foi o ser humano que criou o mundo, mas Deus que o colocou no mundo, para promover a vida e não para tirá-la. 

Antes de ser busca de preservar-nos, preservar a própria vida e a dos outros no respeito e ajuda mútuas é sinal de humanidade. Preservar e promover a vida é o que nos distingue das feras brutas e irracionais. O homem, além de sua própria morte, morre tantas vezes quantas pratica ou provoca a morte de seu semelhante.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;