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Artista de São Bernardo utiliza elementos da cultura pop em obras

De Barney a Shrek: Dan Maschio encontrou na pintura maneiras de dar vida ao irreal e trazer visibilidade às produções artísticas feitas na região

Beatriz Mirelle
15/04/2024 | 07:01
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Celso Luiz/DGABC


Traços repletos de detalhes. Cenários inimagináveis. Obras que despertam nostalgia. Assim são os quadros de Dan Maschio, 27 anos, morador do Bairro dos Pássaros, em São Bernardo. Artista nato, ele já se aventurou pela música e fotografia, mas se encontrou na pintura. Com cavaletes e telas, Maschio explora a criatividade e se apropria de referências da cultura popular, principalmente de animações e filmes, para planejar cada pincelada. Inspirado pelos pintores Salvador Dalí e Vladimir Kush, o jovem busca dar vida ao irreal e trazer mais visibilidade às produções artísticas feitas no Grande ABC, além de exaltar a potência terapêutica da arte.

“Sempre quero estar inserido na arte, independente se é pela pintura, música ou fotografia. É com isso que consigo me expressar. Meu processo criativo vem de muitos lugares. Gosto de criar cenários que mexam com a realidade e se comuniquem com a minha geração. Para mim, é importante trabalhar com a ruptura de ideias, brincar com conceitos e proporcionar a experiência de viver o irreal por meio da tela”, comenta Maschio. 

A obra Manifestação de 45 Shreks no Trianon Masp reflete esses objetivos do artista. Nela, pequenos ogros verdes, que fazem referência ao personagem Shrek, produzido pela PDI (Pacific Data Images) e DreamWorks, realizam uma caminhada em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand), localizado na Avenida Paulista. “Estava nessa linha de criar cenários e tive a ideia de pintar pontos turísticos do Brasil. Comecei com o Masp, mas queria colocar algo que fosse contraditório. Pintei, então, os shreks porque foi a primeira coisa que veio na cabeça quando pensei em cultura popular. Tenho esse lado cômico e gosto de despertar isso nas pessoas. Depois, pintei outros cenários com essa mesma ideia”, afirmou. 

Os shreks de Dan Maschio já estiveram no Pelourinho, em Salvador, e no Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. “Quando fiz a obra do Trianon, os shreks tinham pequenas interações entre si. Como teve uma repercussão (na internet), fui aumentando os elementos. No quadro de Salvador, tem shrek com carrinho de tapioca, tocando olodum, vestido de baiana, entre outros. Quero criar imagens que as pessoas nunca pensaram e a partir do momento que está pronto, elas possam falar: ‘Nossa, isso está acontecendo’, mesmo que seja em uma pintura.” 

Recentemente, o Shopping Metrópole, em São Bernardo, foi escolhido como cenário de mais um quadro de manifestação dos ogros. Maschio também já utilizou referências como o personagem Latrell, do filme As Branquelas, e os desenhos animados Barney e Teletubbies para criar obras. 

“As pessoas da cidade têm uma memória muito forte com esse shopping. É importante levar a imagem do Grande ABC para fora. Os artistas da região têm apego com o lugar que vieram. Mesmo quando vão para a Capital, sempre exaltam de onde são. Nós tentamos crescer como referências de arte e cultura e apoiarmos uns aos outros, praticamente como um grupo de apoio de artistas. A gente se une e se fortalece. Esse acolhimento é muito marcante entre aqueles que são do Grande ABC.” 

Em março, a obra Manifestação de 59 shreks em Salvador atingiu 1,8 milhão de visualizações no twitter – agora X. As pinturas de Maschio estão disponíveis no Instagram (@dan.maschio) e podem ser adquiridas pelo site danmaschio.com.br. 

Arte como ferramenta terapêutica

O poder terapêutico da arte é inegável para Dan Maschio. Em 2017, ele foi diagnosticado com depressão e percebeu que explorar as habilidades artísticas foi essencial para conseguir superar essa etapa da vida. 

“Comecei a pintar em 2017, quando enfrentei uma depressão muito forte. Foi na mesma época que me entendi como um homem trans. Foi um período devastador e a única coisa que eu conseguia fazer era pintar. Ficava em casa, não conversava com ninguém. Achei um cavalete do meu irmão e comecei a pintar. Foi a forma que encontrei para me comunicar com o mundo”, relembra Maschio. 

Em 2019, durante a faculdade de fotografia que cursou no Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) Santo Amaro, ele realizou um curta-metragem sobre arteterapia, Parkinson e pintura. “Foi apenas nesse momento que entendi que foi a arte que me ajudou a passar pela depressão e pela fase da transição (de gênero). Foi muito marcante. Ter a pintura como parte desse processo fez muita diferença. A arte me deu voz quando eu não tinha.” 

De acordo com ele, ao longo desses anos, acreditar em cada etapa do processo criativo se tornou essencial para fortalecer a caminhada artística. Maschio também afirma que é importante não se limitar durante as produções. “Algumas obras exploram um lado mais sentimental. Tenho uma série que se chama O Olhar Através das Plantas, que deixa o cômico de lado e mergulha na emoção. Não conseguiria viver só de uma parte da pintura. Tudo na arte tem que ser muito expressivo. É importante fazer as coisas com paixão. No tempo certo, os resultados vêm”.




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