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Autismo marca sessão especial em São Bernardo

Evento na Câmara abriu portas para debates e recreação infantil no Abril Azul

Lays Bento
07/04/2024 | 07:00
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Reprodução/Instagram


A Câmara de São Bernardo se uniu, pelo quinto ano, em um Sábado Azul, dedicado ao debate e ao conhecimento sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista) e as demais neurodivergências. 

Além da sessão solene, foram disponibilizados brinquedos infláveis, barracas de algodão-doce e oficinas interativas, sobre terapia assistida por animais, reciclagem e a presença de autores literários no espectro.

“Isto é sonhado há 10 anos, ao ver meu filho obediente apresentar dificuldades escolares e recebermos um diagnóstico de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade). Desde então se gerou um laço junto a demais famílias de neurodivergentes para evoluir em direitos. Parte deles implantados municipalmente e que orgulhosamente alcançaram até nível nacional, como o cordão de girassol. No Estado, já estamos em diálogo com o governador para que, depois da capital, São Bernardo receba o segundo Centro de Referência e Atendimento Especializado às Pessoas com Transtorno do Espectro Autista”, destaca o vereador Julinho Fuzari (PSC), defensor da causa autista.

O objetivo em comum dos 16 profissionais que representaram a roda de debates da sessão foi reforçado pela neuropediatra e professora da Faculdade de Medicina do ABC Camila Almeida: “É claro que o tema deveria ser constante na sociedade. Imagine que um ser humano pode entrar em sofrimento absoluto só pelo som ambiente. Mas os avanços de inclusão que obtemos vem justamente da conscientização a partir de eventos como esse”, afirma a profissional.

O deputado federal e pré-candidato à Prefeitura de São Bernardo, Alex Manente (Cidadania), participou do evento.

PERCEPÇÕES

No segundo nível de autismo (moderado), Nicolas Kiss, 9 anos, aproveitou o evento junto à mãe Karina Yoshimura. Munido de um fone abafador de ruídos, este é o terceiro evento que o garoto participa e, segundo a mãe, faz com que Nicolas avance nos processos de socialização. 

“Todo ano tem uma novidade. A parte favorita do Nicolas são os brinquedos e a minha é escutar as palestras. O bom é que o espaço é amplo e tem infraestrutura para o caso de crises”, destaca ela.

Quem também apresentou um ponto de vista materno do evento foi a cirurgiã-dentista Kelly Portugal, que foi convidada para integrar a roda de debates da sessão solene. “Dos 17 anos de profissão, pelo menos uma década do meu trabalho é voltada para crianças autistas. Tudo mudou depois que tive meu filho; hoje, ele tem 14 anos, está enquadrado no espectro. E acredito que toda mãe de pessoas com TEA, no fundo, vira terapeuta”, defende. 

Kelly conta que, apesar de cada criança neurodivergente apresentar particularidades específicas, ao que observa, em todo o Grande ABC somente 10 profissionais do seu ramo de atuação oferecem atendimento especializado multidisciplinar; para ela, de modo geral na prestação de serviços especializados, a causa ainda engatinha para tamanho e infraestrutura adequada.

“É uma realidade curiosa. Todos estes empenhos profissionais, para atender crianças especiais, requerem um trabalho conjunto com os responsáveis. Na odontologia, por exemplo, é mais necessário do que parece e a expectativa é criar um real vínculo com este paciente, a fim de gerar a confiança para que se sinta confortável”, detalha.

Também pela ótica empreendedora, Noelia Barbosa, espectadora da sessão deste sábado, expandiu a clínica de fisioterapia especializada em TEA no Bairro Batistini de São Bernardo, a Fisio Peti, para mais três unidades, sendo uma na capital paulista. “A inclusão ainda está mais na teoria do que na prática, então, ao mesmo tempo, o crescimento comercial para atender a causa carece de falta de mão de obra especializada e certo comprometimento com esta nova dinâmica, certa proatividade”, reflete.

Diante desta problemática, de acordo com a psicóloga que trabalha há 30 anos com TEA, Adriana Regina Rubio, uma das abordagens mais eficazes e que vale luz à popularização é a ciência de comportamento ABA (Applied Behavior Analysis). 

“Acaba não sendo uma abordagem só para psicólogos, mas para toda a sociedade aplicar, em três pilares: compreender, analisar e só assim intervir. Tanto que meu conselho é, para promover mais a inclusão em ambientes, buscar eventualmente uma pós-graduação ou até certificações na ABA”, explica. 

Ao que conta ao Diário o psicólogo organizacional Raul Ribeiro, da Arte Psico, no final das contas, todos os esforços em integrar neurodivergentes, desenvolver práticas e serviços inclusivos passam por um preceito básico, que foge do utópico: o fator humano.

“Veja a Arte Psico, por exemplo, a gente nasceu como ONG, com pet terapia. Ou seja, clínicas e empresas em geral são negócios, business; mas não podemos esquecer que há um impacto social disto tudo. Incluir dá trabalho e é preciso aceitar que não optar por este esforço dá vazão a permanência do mesmo, do preconceito. E no fim só vale lutar porque todo mundo já precisou da ajuda do outro. Só somos sociedade porque humanos precisam de humanos”, finaliza. 




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