É clara a Constituição, promulgada em 1988, no que diz respeito à divisão dos poderes na República. Executivo, Legislativo e Judiciário devem ser independentes, mas harmônicos. Atuar para desequilibrá-los é atentar contra o estrato democrático da sociedade. Parece ser exatamente o que tem feito o prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSDB), que, nos últimos tempos, passou a prescindir dos vereadores, instalando um governo autocrático no município. A inauguração do Centro Tecnológico, realizada na noite de ontem, um dia antes de a Câmara discutir a lei que estabelece as normas para a concepção do empreendimento, configura-se em afronta perversa à Carta Magna.

A atitude do prefeito no episódio do Centro Tecnológico se assemelha à de um déspota, ignorando completamente a importância do Legislativo e usurpando o poder que deveria ser compartilhado entre os diferentes poderes constituídos. Ao agir dessa maneira, Auricchio não apenas desconsidera o papel fundamental dos vereadores na tomada de decisões públicas, mas também mina a confiança e a credibilidade do cidadão no sistema democrático. Tal comportamento não pode ser tolerado em uma sociedade que preza pelos princípios que sustentam o Estado de Direito. É importante ressaltar que projetos do Executivo sem o chancela da Câmara não possuem o selo da legalidade e da legitimidade.

Em seu desprezo pela Câmara, que está se acentuando, Auricchio parece ter encarnado o caricato monarca do livro O Reizinho Mandão, da escritora paulistana Ruth Rocha. Trata-se daquele personagem que, mal-educado, mimado e intolerante a opiniões contrárias, vivia mandando todo mundo calar a boca, para que apenas a sua vontade prevalecesse. Assim como na história infantil, em que o povo foi se acostumando ao temperamento do soberano e aos poucos deixou de se indignar, em São Caetano os vereadores, que deveriam ser os primeiros a se insurgir contra a conduta do chefe do Executivo, disputam espaço para aparecer nas fotos ao lado do candidato a ditador – todos sorrindo e afônicos.