Setecidades Titulo
As zonas proibidas do Grande ABC
Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
11/05/2002 | 18:55
Compartilhar notícia


Quando dois exércitos disputam uma área, e ninguém ainda venceu a batalha, chama-se esse espaço em litígio de terra de ninguém. No man’s land, na expressão inglesa. Guardadas as devidas proporções, o Grande ABC tem 63 zonas proibidas. São bairros, favelas e ruas consideradas de altíssimo risco, onde há fronteiras invisíveis e que se assemelham a territórios em guerra.

Em Santo André, há o maior número de zonas perigosas – 19. Diadema vem a seguir, com 13. São Caetano foi a única cidade da região onde esse problema não foi detectado.

É claro que hoje, com a violência disseminada, o perigo está em toda parte, a qualquer hora, mas há lugares onde motoristas de lotações, de entregas, visitantes e até os próprios moradores sabem que estão em um território particularmente perigoso – onde o direito constitucional de ‘ir e vir’ perdeu a validade.

Quem percorre a Estrada Galvão Bueno, em São Bernardo, com destino a duas zonas proibidas da região – Jardins Canaã e Los Angeles –, tem a sensação de entrar em um campo de batalha. Nas margens da estrada mal sinalizada, há entulho, restos de mobília e até mesmo esqueletos de caminhões-cegonha enferrujados.

As zonas perigosas têm outra particularidade: são de difícil acesso. Na favela do Cruzado e na favela do Sítio dos Vianas, só para dar um exemplo, é muito fácil se perder. As ruas vão se estreitando e às vezes terminam em um funil intransitável. As manobras de retorno são complicadas. O motorista fica à mercê de uma ação criminosa. Moradores dessas regiões aconselham os amigos a não visitá-los. É o caso de Eliana Cristina de Souza, 40 anos. “Se um conhecido tem um carro novo, eu digo para ele: fica aí na sua casa, que eu vou visitá-lo.”

O instalador de linhas telefônicas Clóvis dos Reis, 52 anos, ensina como identificar uma zona proibida: “sempre tem um sujeito que se acha o dono do pedaço”. Reis sabe de cor os locais, onde passa maus bocados: Sítio dos Vianas, Jardim Santo André, Jardim Irene, favela do Pintassilgo (bairros de Santo André). Segundo Reis, o maior risco da profissão é ser confundido com policial, disfarçado de instalador. “Às vezes, os malas cismam que a gente é da polícia. Aí, o jeito é sair fora.”

Em Diadema, os taxistas têm se recusado a levar passageiros para a Marginal Z, do Parque Real. “Entrar lá é pedir para ser assaltado”, informou um taxista que faz ponto no Centro.

Para realizar essa reportagem, o Diário rodou cerca de 500 quilômetros, durante 15 dias. Nesse período, nenhuma viatura de polícia foi vista realizando ronda nos pontos considerados perigosos.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;