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Quem avalizou os tratores?
Do Diário do Grande ABC
02/03/2024 | 07:00
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Necessário começar pelo óbvio: invadir propriedade privada no Brasil é crime. Ponto. A defesa da legalidade, todavia, não deve ser exercida sem o respeito às noções de justiça social e civilidade. Exatamente pela falta de sintonia entre esses princípios elementares de sociedades democráticas é que chamaram a atenção, nas primeiras horas da manhã de ontem, as cenas bárbaras protagonizadas pelos agentes da GCM (Guarda Civil Municipal) de Diadema contra as famílias que viviam em terreno na Avenida Nossa Senhora dos Navegantes, no bairro Eldorado. Agindo de forma violenta, sem apresentar ordem judicial que lhes amparasse, os agentes botaram abaixo 18 barracos e feriram três pessoas.

Assim como a violência desproporcional empregada pela GCM contra famílias indefesas, testemunhada por repórteres deste Diário, o silêncio do prefeito José de Filippi Júnior (PT), em última instância o comandante em chefe da corporação, foi ponto fora da curva no episódio. O chefe do Executivo precisa vir a público explicar por que mandou – ou permitiu que mandassem – a força pública municipal intervir em uma questão que, até onde se sabe, não envolvia a Prefeitura. Estaria o petista colocando a estrutura pública para defender interesses particulares? Sob que justificativa? A mera exoneração do secretário de Habitação, Ronaldo Lacerda, não encerra o caso. Muito pelo contrário.

Muitas questões sobre o episódio ocorrido ontem em solo diademense ainda estão em aberto. E o prefeito precisa respondê-las. A população merece liderança que respeite as leis, os direitos humanos e que esteja comprometida com a construção de sociedade mais justa e solidária. O despejo violento na Avenida Nossa Senhora dos Navegantes é um lembrete doloroso de que ainda há muito a ser feito nesse sentido. Faltaram sensibilidade social e diálogo por parte do governo Filippi. Sobrou violência praticada pelos agentes da GCM. E restou, por fim, amargo gosto de injustiça na boca dos que viram a própria casa virar pó sob os pesados tratores da Prefeitura – sabe-se lá autorizados por quem.




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