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Canal estréia especial sobre guerras santas
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
06/11/2005 | 08:44
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Olhar o passado para compreender o presente é uma velha máxima do ensino de história. Recuando mil anos com os modernos recursos audiovisuais, o canal pago The History Channel (Vivax, Directv, Sky) estréia segunda e terça-feira, às 21h, o especial As Cruzadas, misto de documentário com atores em ação. Em pauta, uma minuciosa reconstituição da campanha militar européia de inspiração religiosa para tomar Jerusalém dos muçulmanos e ocupar a Terra Santa. A aventura começou em 1095 e durou até 1291, quando os muçulmanos, num contra-ataque de fervor religioso, retomaram o último posto cruzado e o controle da região. No mesmo canal, dias 14 e 15, a microssérie Os Cruzados relata o drama dos cavaleiros da ordem de Cristo – nobres e gente sem eira nem beira – que atenderam ao chamado papal para lutar uma guerra santa.

O historiador francês Marc Ferro, no artigo O Filme: Uma Contra-análise da Sociedade?, publicado em 1971 no livro História: Novos Objetos, de Jacques Le Goff e Pierre Nora, discorre sobre o filme como documento de investigação da história e também como meio de divulgação do trabalho do historiador, além de livros e artigos. Produzir filmes ou colaborar com documentários, segundo Ferro, também seria função do historiador. Em As Cruzadas, relatos e crônicas de cristãos e muçulmanos da época são encenados por atores dirigidos por Mark Lewis, jornalista inglês assessorado por historiadores britânicos e árabes.


A fé estimulava aquelas batalhas. Quem participasse das cruzadas tinha o perdão dos pecados, segundo o papa Urbano II; do lado islâmico, a unificação de tribos tinha como objetivo expulsar o inimigo comum. Os nomes de Deus e Alá foram entoados pelos dois lados em disputa pela cidade sagrada de três grandes religiões – os judeus entraram na contenda por Jerusalém no século XX. Mas as maiores manchas de sangue deixadas nesta estreita e árida faixa de terra verteram de cristãos e muçulmanos na Idade Média. As primeiras três cruzadas – num total de oito – tiveram forte conotação religiosa. O prêmio era Jerusalém. As demais foram disputas políticas e econômicas. Dois nomes, Ricardo Coração de Leão, pelos cruzados, e Saladino, pelos muçulmanos, são os destaques – o segundo é lembrado até hoje no Oriente Médio como herói militar.

Épico em DVD – Na equipe de produção e efeitos especiais do documentário figuram profissionais que atuaram no épico Cruzada, de Ridley Scott. As locações também são as mesmas, incluindo cenários de batalhas reais das cruzadas em Marrocos, Síria, Istambul, Jerusalém e Antioquia. O filme estreou em maio passado nos cinemas e já saiu em DVD duplo.

O que Scott não conseguiu – seu épico é um mero apanhado de épicas cenas de ação – foi reproduzir a máxima de origem marxista, segundo a qual um fato histórico que acontece pela primeira vez tem caráter de tragédia; ao se repetir, tempos depois, é farsa. Isso se não forem levados em conta o aprendizado com o passado. Recontar as cruzadas na tela grande ou pequena ganha sentido se a intenção de compreender este passado tem analogia no presente. Caso da cruzada fundamentalista no Oriente Médio por petróleo comandada por George W. Bush, legitimado por eleitores da direita cristã norte-americana, em resposta ao ataque terrorista no país em 11 de setembro de 2001 patrocinado por extremistas religiosos árabes – que contra-atacaram aliados dos Estados Unidos em Madri e Londres. São novos atores, o palco é global, mas os motes das guerras santas não mudaram tanto.




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