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Jornalismo e ‘cortesia’
Da Redação
08/02/2024 | 07:10
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Embora de maneira abrandada, já que a proposta original propunha a instauração de CPI para apurar o caso, a Câmara de São Bernardo finalmente se movimentou para enquadrar o prefeito Orlando Morando (PSDB). Algo raro, para não dizer inédito. Na sessão de ontem, os vereadores cobraram explicações, via requerimento aprovado por acordo de lideranças, sobre o uso de dinheiro público no financiamento de um obscuro pasquim carregado de ataques a adversários políticos do chefe do Executivo. A própria mobilização da base aliada, historicamente subserviente às ordens do Paço, já é suficiente para demonstrar que, desta vez, alguém deu um passo além do que determina a legislação – ou o bom-senso.


Há muitas suspeitas. Ao vir à tona, a história ganhou contornos burlescos. O dono do jornal disse que publicou os anúncios como forma de “cortesia” à administração de Orlando Morando. Ao que o próprio governo beneficiado respondeu não ter conhecimento prévio do episódio, recusou o presente e determinanou que as peças publicitárias fossem imediatamente retiradas de circulação. Ninguém do mercado de notícias e da publicidade, que sabe o valor exato de se produzir jornalismo de qualidade, acredita num enredo assim. Aliás, se nem os fidelíssimos vereadores da base governista engolem a versão de que o veículo de comunicação fez caridade à Prefeitura, imagine-se o cidadão são-bernardense.

É preciso deixar bem claro que jornalismo profissional, aquele que serve à sociedade, não faz cortesias, nem concessões, a quem quer que seja, muito menos aos donos do poder. Como certa vez escreveu o poeta português Fernando Pessoa (1888-1935), “parece escusado explicar uma coisa, de si, tão simples e intuitivamente compreensível. Sucede, porém, que a estupidez humana é grande, e a bondade humana não é notável”. Ou, como alerta o dito popular, quando a oferta é demais, o santo desconfia. Definitivamente, jornalismo não é cortesia. Para dizer a verdade, tratam-se de conceitos diametralmente opostos. É sempre bom questionar quando tentam fazer com que um se passe pelo outro.



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