Setecidades Titulo
HMU joga fora 40% do leite materno
Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
19/09/2006 | 22:15
Compartilhar notícia


O HMU (Hospital Municipal Universitário) de São Bernardo desperdiça cerca de 40% de todo o leite materno que coleta. Desde janeiro deste ano, 582 litros de leite já foram desprezados após passarem pelo programa de qualidade do hospital. Segundo previsão dos responsáveis, a quantidade seria suficiente para alimentar 380 recém-nascidos pelo período de um mês.

O número, considerado extremamente alto por especialistas (a taxa aceitável seria de 10%, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária), foi revelado após pesquisa realizada para conferir a origem e destino dos frascos coletados pelas equipes do HMU.

O resultado é surpreendente, segundo a coordenação do banco de leite do Hospital Mário Covas, em Santo André. “Em nosso programa, trabalhamos com uma taxa de desprezo de leite que não chega a 1%. Nos últimos três meses, aproveitamos todo o leite doado por mães não-internadas em nossa maternidade”, garante a coordenadora Shirlei Tessarini.

“Apesar de constrangedores, os dados servem para alertar as mães e também a sociedade sobre os cuidados que devem ser tomados na hora de retirar e armazenar o material a ser doado”, diz a coordenadora do banco do HMU, Marisa da Matta Aprile.

A falta de higiene é um dos principais motivos do desperdício. Apesar de orientadas, muitas mulheres ainda não se preocupam com condições básicas que garantem a qualidade do leite.

“O primeiro passo, é claro, é fazer uma higiene completa nas mãos. Depois, deve-se escolher o local a ser utilizado e, se possível, utilizar toucas (para os cabelos) e máscaras (para a boca)”, explica a coordenadora.

As medidas evitam a contaminação do leite, já que, de acordo com o HMU, não são raros os relatos de frascos contendo fios de cabelo, formigas, cílios, peles e outras substâncias que impedem com que o leite seja pasteurizado e repassado às crianças.

A limpeza dos recipientes que receberão o leite também é imprescindível para evitar perdas. Todo vidro deve ser esterilizado por, pelo menos, 15 minutos. A nutricionista Nerli Pascoal Andreassa ainda explica que os recipientes devem, obrigatoriamente, ter tampas de plástico.

“No processo de fiscalização da qualidade, percebemos a falta de cuidado logo de cara, quando notamos a condição das embalagens. Essa desatenção é uma pena, pois sabemos que doar leite é um ato de amor e também de sacrifício”, diz Nerli.

Para a mãe da pequena Giovana, 4 meses, os números apresentados pelo HMU são surpreendentes. “Participo do banco de leite desde que minha filha nasceu e minhas preocupações sempre estiveram relacionadas à quantidade de leite doada. Nunca imaginei que o hospital tivesse de desprezar tanto leite. Acho que esses números mostram que pode haver falta de orientação”, diz Gisele Haibi.

Quando se inscreveu como doadora, a moradora de São Bernardo foi informada de que o leite deveria ser armazenado no congelador de forma imediata, mas não recebeu informações sobre o perigo de acumular leite nas conchinhas de plástico usadas em contato com o peito.

“Quem opta por utilizá-las deve saber que o leite acumulado nesses recipientes precisa ser retirado de 20 em 20 minutos”, informa Marisa Aprile. O cuidado visa evitar com que o leite fique na temperatura ambiente e, por isso, ganhe em acidez, já que não existem processos de controle que realizem a correção.

Para reverter o quadro, a equipe do HMU pretende desenvolver um conjunto de ações de conscientização, que inclui visitas em domicílio e distribuição de folhetos explicativos. Para Shirlei Tessarini, também é necessário promover uma aproximação maior com as mães. “Em Santo André, trabalhamos apenas com 50 mulheres, contra 114 de São Bernardo. Esse número, mais reduzido, faz com que tenhamos resultados mais positivos”, acredita.

A quantidade de leite coletado mensalmente pelos dois bancos também é muito diferente. No HMU, a média mensal é 243 litros, contra 80, da cidade vizinha.



Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;