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Sem Carnaval, escolas já se endividaram
Cristie Buchdid
Do Diário do Grande ABC
04/12/2006 | 22:33
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Os amantes do samba estão revoltados em Mauá com o cancelamento do Carnaval 2007 pela Prefeitura, que alega falta de dinheiro. Mas o pior é a dívida de R$ 60 mil que as 15 escolas de samba dos três grupos acumularam com a compra de produtos que seriam utilizados na avenida no próximo ano, como instrumentos, materiais, pilotos (fantasia modelo), gastos em ensaios e contratação de profissionais.

Segundo o presidente da Uesma (União das Escolas de Samba de Mauá), Roberto Amaro de Lima, a dívida vai ficar para as escolas. “A gente fica devendo e os presidentes das escolas que seguram o rojão. Estou acabado. É a mesma coisa que tivessem matado um filho meu. Foi o trabalho de um ano. Eu poderia aceitar qualquer coisa, menos o cancelamento do Carnaval”, disse Roberto.

O trabalho para o Carnaval de 2007 foi iniciado em abril deste ano e muitas escolas estavam com preparativos adiantados quando foram surpreendidas com a notícia, na última sexta-feira. Uma das mais adiantadas é a Escola de Samba Acadêmicos do São João, campeã do grupo principal no Carvaval 2006. “Nossa dívida é de R$ 6 mil a R$ 8 mil. Compramos adereços, aramagens (costeiros), duas bases de carros alegóricos e temos muitos pilotos prontos. Todo mundo está revoltado”, disse o vice-presidente da escola, Uidevalde Toniato.

Na escola de samba Unidos do Silvia Maria, também do grupo 1, o clima é de tristeza e revolta. “Alguns choraram, outros ficaram nervosos. Foi chocante. Mauá é uma cidade carente em termos de lazer. Aqui o lazer é futebol ou samba. Mas esse sonho nos foi tirado”, afirmou o presidente da escola, João Paulo Pereira.

A Unidos do Silvia Maria acumulou dívida de R$ 3 mil com a contratação do carnavalesco Trovão. “Ele fez os desenhos e montou os pilotos, que estão prontos”, afirmou Pereira. Entre os 650 integrantes da escola ainda existe esperança de que o Carnaval seja realizado. Tanto que os ensaios continuam. “Como temos muita cobrança da nossa comunidade, vamos fazer um desfile no bairro na segunda-feira”, afirmou Pereira.

O otimismo ainda toma conta de outros foliões. Alguns integrantes da Acadêmicos do São João se mantêm esperançosos de que a prefeitura volte atrás. “Continuamos na expectativa de fazer o Carnaval”, afirmou Toniato.

O secretário de Governo de Mauá, Francisco Carneiro, mais conhecido como Chiquinho do Zaíra, no entanto, deixa bem claro que não terá Carnaval com recursos da administração. “O orçamento votado para este ano em Mauá, de R$ 434 milhões, está superestimado. A arrecadação do município em 2006 será em torno de R$ 325 milhões. Com o dinheiro da Prefeitura não tem condição. Se tirar dinheiro para o Carnaval, vai faltar refeição para pacientes e remédio no Hospital Nardini. Isso nós não vamos permitir”, afirmou Chiquinho.

Para fazer o Carnaval de 2007, a Prefeitura precisaria investir R$ 1,2 milhão, somando a estrutura do evento e os gastos das escolas de samba. A única chance de o Carnaval ser realizado é se alguma empresa se interessar por meio da Lei Rouanet (que abate até 4% do Imposto de Renda em troca de apoio a projetos culturais). “A Prefeitura procurou algumas empresas, mas não teve resposta. De repente alguma grande empresa se sensibiliza e faz o Carnaval. Torço para que isso aconteça”, afirmou o secretário.

Para alegria dos sambistas, Chiquinho garantiu que em 2008 terá Carnaval. “A partir de março vamos conversar com as escolas de samba e ver o que podemos repassar parcelado, a partir de abril. A dívida de R$ 60 mil pode entrar na subvenção de 2007. As fantasias que já estão prontas terão de ser aproveitadas no Carnaval de 2008”, afirmou o secretário.



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