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No Dia Mundial do Autismo, família da região fala dos desafios e aprendizados sobre o TEA; veja vídeo

Cleide e Antonio relatam como foi receber o laudo de autismo do filho em uma época com poucos dados sobre o tema

Beatriz Mirelle
02/04/2023 | 09:10
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Antonio e Cleide se dedicaram a aprender estratégias para desenvolver autonomia do filho diagnosticado com TEA moderado (Foto: Celso Luiz/DGABC)


A chegada de um filho muda a rotina de toda família. O replanejamento vem principalmente em tarefas comuns, como lidar com choros de madrugada, trocas de fralda e adicionar na agenda consultas com pediatras. Todos esses momentos ficam marcados nas memórias dos pais, que comemoram pequenas conquistas e buscam desvendar quais as melhores formas de educar o pequeno. No Dia Mundial da Conscientização do Autismo, celebrado neste domingo (2), a família Mondone Garcia relata como o filho Mikael, 15 anos, diagnosticado com TEA ainda na infância, mudou as perspectivas que eles tinham sobre o mundo e os inseriu em uma luta assídua sobre equidade e neurodiversidade.

A advogada Cleide Mondone, 57, e o empresário Antonio Carlos Garcia, 69, explicam que quando o Mikael Mondone Garcia nasceu, eles tinham poucas referências sobre a criação de um bebê. “Não tínhamos outras crianças por perto para comparar o comportamento dele. Nosso filho fazia pouco contato visual, não sorriu até os dois anos de idade. Eu comprava brinquedos e, mesmo assim, não conseguia a atenção dele. Quando ele entrou na escolinha, uma professora recomendou encaminhá-lo para uma avaliação clínica”, relata Cleide.

O impacto após a confirmação do laudo de autismo em nível dois de suporte foi marcante para o casal. “Eu e o Antonio não conversamos sobre isso por dois meses. Ele estava em processo de negação. Foi difícil, mas enfrentamos todos os desafios”, diz Cleide.

As informações sobre TEA começaram a ser difundidas com mais intensidade há pouco tempo. Em 2010, o assunto ainda não era tão conhecido e o casal decidiu aprender mais a partir de livros de escritores autistas e profissionais especializados. Ao saber do diagnóstico, Antonio lembra que se debruçou nas pesquisas. “Na escola, via que o Mikael ficava isolado. Eu não queria conversar sobre isso porque machucava muito.”

Ainda durante a infância de Mikael, Cleide decidiu deixar a profissão de lado para se dedicar integralmente à educação do filho. “O sonho dela era ter um escritório de advocacia. Ela estudou e se dedicou muito para isso. Quando me disse que não se sentia segura em deixar o nosso filho com outras pessoas, falei ‘pode deixar que eu cuido do trabalho’. Nós fomos nossa própria rede de apoio”, recorda Antonio Garcia.

Para Cleide, essa década reestruturou suas metas de vida. Ela agora é estudante do terceiro ano de Psicologia e pretende defender os direitos de pessoas com TEA. “O erro de muitas pessoas é tentar fazer com que o autista tenha a mesma visão de mundo que nós. Eu me esforcei para ver as coisas sob a perspectiva do Mikael. Nós que temos de nos adaptar.”

De acordo com os pais, o tratamento e o processo de ensino são contínuos e algumas ‘estratégias’ são usadas para melhorar a convivência. “Trabalhamos a previsibilidade, o contato visual e a conversa. Os resultados são maravilhosos”, pontua Garcia. “Ele tem seletividade alimentar. Quando estamos em um restaurante, ele não come, mas fica lá conosco. Desde pequeno, nos dedicamos para que ele esteja bem”, complementa.

A família Mondone Garcia também alerta para o capacitismo (preconceito com pessoas com deficiência e/ou neurodiversas) e como as escolas podem barrar a discriminação. “É necessário trabalhar mais sobre autismo. As redes de ensino são os locais onde mais ocorrem conflitos. Os profissionais precisam ter um olhar atento a isso. Não dá mais para deixá-los isolados. A ajuda de um auxiliar e adaptações são coisas básicas para tornar a escola um ambiente mais respeitoso”, destaca Cleide.




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