Política Titulo Entrevista da semana
‘Serei presidente com foco na Câmara e não na eleição de 2024’

Pio Melo, presidente eleito da Câmara de São Caetano

Da Redação
Do Diário do Grande ABC
26/12/2022 | 00:01
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Celso Luiz/DGABC


Prestes a assumir o comando da Câmara de São Caetano pela terceira vez, no dia 1º, o experiente vereador Pio Mielo (PSDB) deixa claro que sua gestão não terá como foco a sucessão do prefeito José Auricchio Júnior (PSDB). Ele garante que não está na disputa interna pela vaga governista ao Palácio da Cerâmica. Coordenador da campanha na cidade do deputado estadual reeleito Thiago Auricchio (PL), a convite do chefe do Executivo, Pio afirma que irá chefiar o Legislativo com uma visão de ‘independência responsável’. Sobre a saída do Consórcio de Auricchio, Orlando Morando e Guto Volpi, Pio entende que cabe agora ao presidente eleito Marcelo Oliveira (PT) iniciar diálogo com os prefeitos e apresentar um plano de ação sobre o futuro da entidade regional.

RAIO-X

Nome: Eclerson Pio Mielo
Idade: 49 anos
Local de nascimento: nascido e criado em São Caetano
Formação: pós-graduado em gestão empresarial pela FGV e mestrando em educação pela USCS
Hobby: ler e jogos de futebol
Local predileto: além de São Caetano, a Neo Química Arena
Personalidade que marcou sua vida: Barack Obama
Profissão: professor e no terceiro mandato de vereador de São Caetano
Onde trabalha:Câmara de São Caetano

Seu nome não estava entre os favoritos, mas o senhor conseguiu angariar votos para assumir pela terceira vez a presidência da Câmara de São Caetano. Como foi essa construção?

Eu tenho uma trajetória vinculada à política de São Caetano e vou para segunda metade de meu terceiro mandato. São 10 anos de mandato de vereador, dos quais cinco fiquei à frente da presidência, sendo quatro como presidente eleito (biênios 2017-2018 e 2019-2020), além de um ano como presidente em exercício (2020). Já entendia que tinha completado um ciclo, com meu nome na história dos presidentes da Câmara. O que era natural nesse processo seria tanto a reeleição do atual presidente (Tite Campanella) ou outros nomes que se apresentavam com legitimidade. Mas houve um movimento dos vereadores no sentido de a gente reassumir a Câmara para manter a linha de independência responsável do Legislativo em relação ao Executivo, mesma linha que usamos no primeiro mandato. Levamos nosso nome ao prefeito (José Auricchio Júnior), que não apresentou nenhuma objeção. A somatória do bem comum nos levou de volta à presidência. 

Qual a diferença deste momento para os anteriores em que presidiu a Câmara?

De maneira muito objetiva, será uma presidência exclusivamente dedicada a questões legislativas. Não pode e não será uma presidência com olhar na eleição municipal de 2024, com o processo sucessório do prefeito Auricchio. Minha prioridade a partir do dia 1º de janeiro até pelo menos abril ou maio de 2024 será nas pautas legislativas. Discutir, defender e aprovar projetos. A partir do momento em chegar o calendário eleitoral, a gente discute naquele momento. E é essa dessa maneira que vou conduzir os trabalhos, com olhar no presente.

Significa que seu nome não está colocado como candidato a prefeito em 2024?

Estou afirmando que meu nome não está no calendário da sucessão do prefeito Auricchio.

Não seria natural que seu nome estivesse?

Quem tem de discutir essa naturalidade é a política. Eu vou discutir o fato concreto. Há outros vereadores que pleiteiam esse direito de uma eventual disputa em 2024. E isso é natural. Há outros atores na política. Não dá para usar o instrumento da presidência em benefício de um projeto pessoal. Esse foi meu compromisso com vereadores e vou cumprir. 

E a vereador?

Aí sim. É natural. Eu gosto de fazer política. Acabou a fase dos outsiders. Você leva seu filho em alguém que não seja especialista, você não leva seu carro para alguém que não seja mecânico. Política se faz com políticos. E tenho muito orgulho de meus três mandatos de vereador. E, no momento oportuno, colocarei meu nome à disposição para um novo mandato na Câmara.

Como será sua relação com o prefeito Auricchio, justamente em um momento que muitos projetos do Executivo devem chegar à Câmara?

Tenho no prefeito um amigo e uma referência. Mas, na função de presidente da Câmara, vou dar celeridade a todos os projetos, mas nunca abrindo mão do debate, da transparência e do amplo entendimento. Não irei segurar pauta. Já enfrentamos temas polêmicos, mas que eram necessários. Eu não faço política optando pelo caminho mais fácil. Se chegar projeto, mesmo que polêmico, que seja bom para a cidade, terá meu apoio e minha força de trabalho.

E sua relação com o ainda presidente Tite Campanella? Iniciou o processo de transição do cargo?

Tenho uma ótima relação com o Tite Campanella. Quando fui presidente nas outras ocasiões, ele foi líder de governo. Temos boa sintonia. Quando a Câmara o escolheu para ser presidente em 2020, eu fui um entusiasta. E, ao final, ele me convidou para ser vice. E tivemos relação muito transparente quando ele foi prefeito interino e eu, presidente da Câmara interino. Tite faz parte do grupo político e é um bom quadro para o futuro da cidade. A Câmara está em recesso e creio que nos próximos dias eu sentarei com o presidente. A ideia é dar continuidade aos projetos que entendemos como positivos, como a ferramenta de votação eletrônica. Vai ser uma transição tranquila. 

Mas não dá para negar que sua forma de atuar é diferente da de Tite, os estilos são diferentes.

É porque ele é palmeirense raiz e eu sou corintiano roxo. Uma caraterística minha é a paciência e a habilidade de conversar com todos. E vou trazer essa capacidade de conversar. Montamos uma mesma diretoria plural, incluindo a oposição. 

Ter coordenado na cidade a campanha do deputado reeleito Thiago Auricchio (PL) o credenciou para estar nesta posição?

São questões independentes. O grande coordenador da campanha do Thiago foi o prefeito. Eu cumpri um papel importante em São Caetano, na construção de um arcabouço político. Tenho muito orgulho de ter feito parte e gratidão ao prefeito de ter me convidado. Mas esse resultado expressivo não tem relação com o fato de eu ser eleito presidente, até porque é uma outra eleição, com um colégio eleitoral de 19 vereadores. A votação do Thiago consolidou a liderança do prefeito Auricchio.

Como o sr. viu a decisão dos prefeitos Auricchio, Orlando Morando e Guto Volpi de sair do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC?

Eu vejo que a função do Consórcio Intermunicipal ao longo do tempo vem se deteriorando. Vamos lembrar que São Caetano já saiu e já voltou à entidade, e nas duas vezes eu era presidente da Câmara. Aprovamos lei de saída e depois aprovamos lei de retorno. De maneira concreta, o Consórcio precisa apresentar, principalmente na figura do novo presidente (petista Marcelo Oliveira, de Mauá), um projeto factível de execução e de convencimento. É papel da política o convencimento e não a imposição. Cabe a ele a tarefa de procurar os três prefeitos e apresentar um plano de ação, que de fato aconteça, não só para o retorno, mas também para o fortalecimento do Consórcio. Para mim, hoje, em uma fotografia atual de resultado concreto, eu votaria pela saída do Consórcio. Quando o novo presidente assumir, o papel dele é procurar os agentes políticos.

Mas o sr. acha que o momento da saída foi adequado, justamente após Auricchio ter sido derrotado na disputa pela presidência do Consórcio?

Eu não participei desse processo, até porque estava envolvido nas questões da Câmara. Não creio que tenha sido isso. O prefeito Auricchio é extremamente republicano e democrata. Vejo muita grandeza nele e muito foco em São Caetano. Cabe ao presidente do Consórcio buscar diálogo com prefeitos, com o novo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), com o novo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Teremos o deputado federal eleito da região Luiz Marinho (PT), que será ministro do Trabalho, um quadro importante do Grande ABC. Temos deputados federais e estaduais. É papel do Marcelo Oliveira fazer essa via-sacra para buscar o fortalecimento. Não vejo nenhum tipo de picuinha pessoal. O que falta, na minha visão, é a falta de um plano de ação. Precisamos olhar para frente.

O sr. tem uma boa relação com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB). O quanto isso pode contribuir para que os pleitos de São Caetano possam ser observados em Brasília?

É um momento muito rico para o Grande ABC e para São Caetano. Primeiro temos a figura de um novo governador. Em que pese tenha trabalhado pela vitória de Rodrigo Garcia (PSDB), eu respeito o resultado das urnas. Tarcísio venceu e pode trazer uma oxigenação, que até nosso partido precisava. Estou muito otimista com o governo dele. Teremos muitos deputados estaduais representando a região e, em especial, Thiago Auricchio (PL), que tem estado muito próximo do governador. E no âmbito federal, além das mais diversas representações, como a bancada parlamentar, a representação de um ministro, e o olhar do vice-presidente para São Paulo e o Grande ABC, torna esse momento muito propício para buscar projetos, emendas e diálogo, para trazer a São Caetano projetos que dependam de outras esferas, como a questão das enchentes, do transporte, entre outros. Assumo a presidência da Câmara no dia 1º com olhar otimista e na expectativa de que o diálogo com os governos estadual e federal representem um passo para o Grande ABC e, em especial, para São Caetano.

Como o sr. vê o momento do PSDB, com a chegada do governador Eduardo Leite para o comando do partido?

Vejo com muito otimismo. O Eduardo Leite foi um nome muito importante nas prévias e poderia ter sido uma opção para a eleição presidencial. Ele traz a experiência de um governador reeleito e acredito que possa retomar o protagonismo que o PSDB tanto precisa ter.




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