Temporada de Chuvas Titulo Série especial
Piscinões estão com 95% da capacidade livre para enfrentar período de chuvas

Em 2022 foram retiradas 34,3 mil caçambas de detritos de 14 reservatórios estaduais na região; modelo é insuficiente para combater enchentes, dizem especialistas

Thainá Lana
Do Diário do Grande ABC
10/12/2022 | 20:41
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DGABC/Celso Luiz


Os 26 piscinões do Grande ABC estão preparados para enfrentar a temporada de fortes chuvas, que ocorre de outubro até março do próximo ano. Todos os equipamentos estão com mais de 95% de capacidade livre para receber e represar milhões de litros de água que são esperados durante o período.

De janeiro a novembro deste ano, o Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), responsável pela manutenção de 20 reservatórios na região, retirou de 14 equipamentos o equivalente a 34,3 mil caçambas de lixo, areia e terra – a limpeza nos outros cinco piscinões está prevista para ocorrer até o fim deste mês - os dados não incluem o Piscinão do Oratório.

O volume recolhido representa 106,4 mil metros cúbicos de detritos – uma caçamba comporta cerca de cinco metros cúbicos. Já nos piscinões municipais, cinco em Santo André e um em São Bernardo, o serviço de limpeza retirou 2.000 toneladas de materiais. A manutenção dos piscinões faz parte de programação para esvaziar os reservatórios antes dos temporais. 

Nos equipamentos são realizados periodicamente limpezas mecânicas (desassoreamento, raspagem de barro) e manuais (capina e roçada, limpeza de canaletas e de grades de captação). Além das administrações municipais e estadual, o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC também acompanha a manutenção desses reservatórios com frequência, por meio do GT (Grupo Trabalho) Drenagem, que é composto por representantes das sete prefeituras.

Com uma rede de piscinões distribuída pelos municípios, hoje a região apresenta como principal modelo de enfrentamento aos transtornos causados pelas chuvas a transferência de água para outros locais. 

Nesta segunda reportagem da série especial sobre a temporada de chuvas, publicadas pelo Diário aos domingos, especialistas revelam se os reservatórios são o modelo de drenagem urbana mais eficiente para evitar alagamentos (problema crônico e que se arrasta por décadas no Grande ABC). 

Para a arquiteta e professora de planejamento territorial da UFABC (Universidade Federal do ABC) Luciana Rodrigues Fagnoni Costa Travassos, os piscinões possuem limitações e não são capazes de resolver todos os problemas.

“Esses equipamentos vão fazer uma reserva localizada, ou seja, vão concentrar a água apenas de um determinado local da cidade. Outro ponto é que são estruturas que possuem capacidade máxima de armazenamento e, em casos de chuvas mais fortes, transbordam.”

A docente destaca que os processos de precipitações estão mais intensos a cada ano devido às mudanças climáticas. Segundo ela, a tendência é de alta onda de calor, chuvas mais fortes e localizadas em menor espaço de tempo, “limitando ainda mais a utilidade dos piscinões nos municípios.” 

Como alternativa, a especialista apresenta três soluções que podem ser implementadas a curto e médio prazos. “Não temos uma solução única, mas sim diversos elementos de reservação de água e diminuição de ilha de calor para tentar enfrentar os alagamentos. A primeira opção é distribuir a reservação nas bacias, com a construção de reservatórios menores nos lotes, com apoio do poder público. Também é necessário aumentar a permeabilidade do solo em áreas externas, que significa ampliar a absorção da água das chuvas e expandir a arborização nas cidades, que ajudará a diminuir as ilhas de calor, além de preservar uma parte dessa precipitação, que vai caindo aos poucos no solo”, finaliza. 

ESTUDO

Em 2019, especialistas da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) realizaram um estudo que aponta que os piscinões são insuficientes para o combate efetivo às enchentes na região.

“A solução de implantação de piscinões como política pública principal de drenagem urbana, como também o alargamento, canalização e aprofundamento das calhas dos rios, somados aos intensos processos de impermeabilização do solo urbano, revela um modelo de enfrentamento das enchentes com baixa qualidade urbana, alto impacto ambiental e significativos custos. Essa solução proposta e constantemente implementada é corretiva e não preventiva”, destaca o documento.

“Além da baixa funcionalidade, os reservatórios são equipamentos com pouca utilização durante o ano. O poder público deveria transformar esses locais em parques no período que antecede a temporada de chuvas e disponibilizar espaços de lazer à população. É um desserviço para o urbanismo”, aponta o autor do estudo e coordenador do curso de arquitetura e urbanismo da USCS, Enio Moro Junior. 

Região terá mais quatro reservatórios nos próximos anos

Nos próximos anos está prevista a inauguração de pelo menos quatro novos piscinões na região, sendo um municipal e três de responsabilidade do governo do Estado. Totalizando 30 unidades no Grande ABC. 

O primeiro equipamento que deverá ser entregue será o Piscinão Jabotical, após 20 anos de reivindicação. Há um ano, as obras foram iniciadas e a conclusão está prevista para o primeiro semestre de 2023. 

A unidade é uma promessa antiga para a região e deverá ser o maior reservatório da Região Metropolitana de São Paulo, beneficiando cerca de 500 mil moradores de São Caetano, São Bernardo e da Capital. 

Segundo o Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), o governo estadual, por meio da autarquia, está investindo R$ 323 milhões na construção do Piscinão Jaboticabal, na confluência do Ribeirão dos Meninos, Ribeirão dos Couros e Córrego Jaboticabal. 

Entre as principais frentes de serviço em andamento estão a implementação das contenções verticais, que consistem em paredes diafragmas atirantadas, que serão implantadas em todo o perímetro do reservatório, a escavação e transporte de terra para áreas de bota-fora, além da canalização do Córrego Jaboticabal. 

Além disso, o Daee empenhou R$ 1,1 milhão no desenvolvimento dos estudos de viabilidade técnica e projetos executivos para construção de outros dois piscinões na região, um localizado em Santo André, entre o Viaduto Salvador Avamileno e a Avenida Comendador Wolters, paralelamente à Avenida dos Estados, com área de 70 mil metros quadrados e capacidade para acumular 150 mil metros cúbicos de água. 

A outra unidade será em Mauá, entre a Avenida Santa Catarina e a Rua Rui Barbosa, paralelamente à via férrea da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), com área de 40 mil metros quadrados e capacidade para 120 mil metros cúbicos de água.

EQUIPAMENTO MUNICIPAL

A Prefeitura de Santo André iniciará em 2023 a construção do maior piscinão municipal, com capacidade de armazenamento de 216 mil metros cúbico. O equipamento será subterrâneo e ocupará a área onde fica o Parque da Juventude Ana Maria Brandão. “A administração está analisando as propostas das empresas e consórcios que estão concorrendo na licitação internacional.” 




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