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Quem são e onde vivem os povos originários da região?

Pela 1ª vez na história do Censo, IBGE colhe dados demográficos em aldeias indígenas do Grande ABC

Joyce Cunha
Do Diário do Grande ABC
12/11/2022 | 08:47
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Celso Luiz/DGABC


Equipes do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) voltaram a campo neste ano para a realização do Censo 2022, 12 anos depois do último levantamento demográfico nacional. A diretriz de trabalho para todos os recenseadores é que ninguém fique de fora. Nesta edição da pesquisa, quilombolas e os chamados povos originários, os indígenas, têm especial atenção. 

No início desta semana, o Diário acompanhou o longo trajeto percorrido pelos profissionais do instituto até a aldeia Brilho do Sol – Kuaray Rexakã, um dos três agrupamentos da região (todos em São Bernardo). Foram mais de 40 quilômetros de carro saindo da Escola Estadual Santa Dalmolin Demarchi, posto de coleta, até o Curucutu, no Pós-Balsa. De lá, trilha estreita, aberta na mata, dá acesso à segunda maior comunidade indígena do Grande ABC. 

De acordo com a Prefeitura, 60 indígenas vivem em aldeias situadas nos limites da Terra Indígena Guarani Tenondé Porã, de quase 15,969 ha², que abrange, além de São Bernardo, São Paulo e cidades do Litoral. Na região a área, reconhecida pela Funai (Fundação Nacional do Índio), tem por volta de 44,55 km².

Além da Brilho do Sol, o Censo 2022 já visitou a aldeia Nhamandu Mirim, a menor e mais jovem. Até o fim deste mês, os profissionais farão o recenseamento dos indígenas do agrupamento Guyrapaju. Os dados demográficos da população, entre outras informações, serão divulgadas pelo IBGE após a conclusão do Censo. 

“Nós temos dois tipos de questionário aplicados. Um para o agrupamento indígena, que abrange questões relacionadas à condição de vida e infraestrutura do local. No segundo, aplicado família por família, investigamos as relações familiares, como se identificam, língua que falam, entre outros aspectos”, explicou a coordenadora de área do IBGE em São Bernardo, Joyane Silva, 28 anos. 

Esta é a primeira vez que as três aldeias são incluídas na pesquisa censitária. Isso porque a Funai reconheceu a Terra Tenondé Porã apenas em 2016. Antes disso, até o Censo de 2010, os questionários foram aplicados somente com a população indígena em contexto urbano, que vive nas cidades com os não indígenas. 

Naquela edição, a região tinha 2.358 indivíduos indígenas nesta condição, a maior parte em São Bernardo (33%, ou 778 pessoas). Em todo o País, eram quase 897 mil indígenas, 517.383 vivendo em aldeias, ou seja, 57,6% do total.

“O primeiro desafio para estes povos é sair da invisibilidade e, a partir disso, combater esteriótipos, preconceitos, negações. Eles precisam saber que devem ir atrás de seus direitos”, defendeu Marcos Aguiar, coordenador do Índios na Cidade, da Opção Brasil, e do Coletivo Índios na Cidade, do Instituto Social e Cultural Brasil. 

Lucas Souza, 28 anos, agente censitário do Posto Demarchi, reforça a importância do Censo dentro das aldeias. “Os gestores precisam saber, por exemplo, que aqui (Brilho do Sol) não há coleta de esgoto. E trazer políticas públicas adequadas à forma de vida desses povos, respeitando sua tradição”. 

De acordo com o IBGE, não há povos quilombolas na região.

Serviços adaptados à cultura indígena

Próximo à casa de reza, coração da aldeia indígena Kuaray Rexakã, a professora de ensino fundamental – anos finais (6º ao 9º) Patrícia de Melo, 49, ensina às crianças receita de bolo. “Como esta é uma educação especial, trabalhamos as questões adaptadas à realidade da comunidade. Um dos aspectos é a integração, muito importante dentro do agrupamento”, explicou. No equivalente ao ensino fundamental – anos iniciais (1º ao 5º), os alunos são alfabetizados, antes da língua portuguesa, em guarani. “Os pais ensinam a língua materna primeiro. Depois vem o português”, explicou. 

A educação especial é garantida pelo governo estadual. Em nota, a pasta da Educação afirmou que em São Bernardo duas escolas indígenas são mantidas, na Brilho do Sol e na aldeia Guyrapaju. Os estudantes da terceira aldeia, Nhamandu Mirim, “são atendidos nas escolas acima”. De acordo com o Estado, a Educação avalia a demanda escolar junto à comunidade local e “adota providências necessárias para eventuais aberturas de novas turmas de maneira adequada ao calendário letivo”, disse.

Entre os serviços públicos ofertados aos moradores das aldeias, que ficam em áreas afastadas, de difícil acesso, a Prefeitura de São Bernardo informou que dispõe de grupo intersetorial, inclusive com a participação da Funai (Fundação Nacional do Índio), para tratar das questões indígenas. “Em junho deste ano, foi promulgado decreto que implantou a Atenção aos Povos Indígenas da Cidade no Pós-Balsa, com polo avançado da Secretaria de Assistência Social. As comunidades também são atendidas pelo serviço de saúde municipal”.




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