Que o asfalto do Grande ABC está manchado de sangue não é novidade para ninguém. Reportagens deste Diário mostram com frequência como são violentas as ruas e avenidas das sete cidades. Um outro levantamento, publicado nesta edição, revela que os fins de semana são ainda mais assombrosos. Nada menos que seis de cada dez acidentes de trânsito na região acontecem entre sexta-feira e domingo. A situação é trágica a ponto de consultor ouvido pela equipe de reportagem do jornal compará-la a "verdadeiros filmes de terror". Nas raízes das estatísticas, ainda de acordo com especialistas, está a ausência de fiscalização adequada aos excessos praticados pelos condutores de veículos.

Com base nas informações fornecidas pelo Infosiga, banco de dados do Detran-SP (Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo), foi possível ao jornal estabelecer os dias com maior índice de acidentes. O conjunto dos dois últimos de cada semana somados ao primeiro da subsequente concentra 64,3% dos casos auditáveis. Os fins de semana também são responsáveis pela maior parte das ocorrênciasletais. Dos 413 episódios envolvendo mortes, 290 foram relatados entre a sexta-feira e o domingo ­ os outros 123 aconteceram de segunda a quintafeira. No geral, o Grande ABC anotou, de janeiro de 2019 a setembro deste ano, 31.239 registros de colisões, choques ou atropelamentos.

Especialistas em trânsito são unânimes em apontar a negligência das autoridades, especialmente as municipais, que são juridicamente as responsáveis pelo ordenamento das vias públicas nas cidades, como fator primordial para as estatísticas se manterem em alta no Grande ABC. A má formação ou a falta de consciência dos condutores só podem ser tolhidas pela presença maciça dos olhos da lei, humanos ou eletrônicos, vigiando cada ponto dos municípios. Enquanto não se adotar a tolerância zero para as infrações ao CTB (Código de Trânsito Brasileiro), o sangue continuará escorrendo pelo asfalto das sete cidades, principalmente nas sextas-feiras, aos sábados e aos domingos.