Setecidades Titulo Qualidade de vida
Equipes de saúde levam amor e cuidado a 185 pacientes paliativos

Serviço ofertado na região busca amenizar a dor e o sofrimento físico, psíquico e espiritual de pessoas com doenças graves e que ameaçam a continuidade da vida

Thainá Lana
Do Diário do Grande ABC
24/09/2022 | 00:01
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André Henriques/DGABC


Era por volta da hora do almoço quando a equipe multidisciplinar do SAD (Serviço de Atenção Domiciliar) de Santo André chegou a casa do paciente paliativo Osmar da Silva, de 70 anos, no Jardim Oratório. No conforto do seu lar, cercado por familiares, ele tirava um cochilo da tarde, que foi logo interrompido pela presença das quatro profissionais de saúde que passariam a próxima hora conversando e cuidando dele. “Senti a falta de vocês”, foi a primeira coisa que o paciente oncológico, ainda sonolento, disse ao abrir os olhos e ver a presença da equipe em seu quarto, enquanto a fisioterapeuta, Camila Datt de Araújo, segurava sua mão e acariciava seu rosto. 

Enquanto os equipamentos eram retirados da bolsa para dar início a consulta domiciliar, o filho mais novo, Diego Rocha da Silva, 38, respondia às perguntas da equipe sobre os cuidados que foram ministrados no idoso durante o dia, como medicamentos, banho, trocas e também sobre sintomas e seu estado clínico. A última visita das profissionais fora a menos de 24 horas, pois o paciente recebe cuidados diários devido ao avanço da sua doença.

O sorridente Osmar é um dos 185 pacientes paliativos da região atendidos pela rede municipal de saúde em cinco cidades – Diadema e Rio Grande da Serra não contam com este tipo de serviço. O número oscila constantemente devido a evolução dos casos, entre alta médica, óbito e novas admissões. Veja dados por cidade na tabela abaixo:

Os cuidados paliativos podem ser ofertados no domicílio ou em uma unidade de saúde e são direcionados às pessoas diagnosticadas com doenças graves e que ameaçam a continuidade da vida, com o objetivo de aumentar a qualidade de vida e amenizar a dor e o sofrimento físico, psíquico e espiritual.

“O principal foco dos cuidados paliativos é o doente e não a doença. No atendimento domiciliar, o paciente pode ficar mais próximo dos familiares, no conforto do seu lar, sem a rigidez de horários e normas de um hospital. É respeitar a liberdade do paciente até os últimos dias, com foco no amor, cuidado e qualidade de vida”, revela a coordenadora do SAD de Santo André, Ana Paula Maniero de Souza Sorce, que atua há 13 anos na área. 

Mesmo em estado de terminalidade, o paciente andreense segue superando as expectativas médicas. Assistido pelo serviço desde fevereiro deste ano, a previsão de vida era de seis meses devido ao câncer maligno no cólon que avançou para o intestino. Hoje ele recebe em domicílio medicação para o controle de sintomas. Antes de chegar aos cuidados paliativos, o idoso foi internado diversas vezes, fez duas cirurgias no intestino, seis sessões de quimioterapia até que o oncologista indicou o tratamento paliativo.

“Não temos muita opção, apenas dar o conforto que ele merece. Falamos que estaríamos com ele em todos os momentos. Antes ele sentia muita dor e não conseguíamos gerenciar, depois da chegada da equipe do SAD os sintomas foram controlados e a qualidade de vida dele melhorou muito, inclusive emocionalmente”, contou o filho Diego Rocha da Silva. 

A enfermeira Gislaine Santos Lucas da Silva, que também realiza o tratamento do paciente Osmar, admitiu que casos como o dele evoluem rapidamente para o óbito, o que pode acontecer nos próximos dias. “Estamos preparando a família e também a equipe para quando aconteça”, desabafou. A médica da equipe, Stephaine Cella De Souza Franco, ressalta que as profissionais conseguiram construir uma relação sólida com o paciente e com os familiares devido ao tempo de tratamento.

"A maioria dos pacientes que cuidamos estão na fase final de vida, nas últimas duas, três semanas. O seu Osmar é o primeiro caso mais duradouro da equipe e por isso conseguimos orientar e trabalhar com mais profundidade com ele e a família. A conversa sobre a próximidade da morte do paciente é sempre muito sincera e importante, porque é um direito dele. O paciente e a família poderá decidir o que fazer com os últimos dias de vida, seja para resolver pendências, se despedir de pessoas distantes, ou qualquer outra decisão. É uma forma de dar conforto", finaliza a médica. 

NORMAS E LEIS

A ANCP (Academia Nacional de Cuidados Paliativos) alerta em seu site sobre a necessidade de regularização do tratamento paliativo no País. Em 2018, o Ministério da Saúde estabeleceu uma resolução sobre as diretrizes para a organização dos cuidados paliativos no âmbito do SUS (Sistema Único de Saúde). No Estado, em 2020 foi criada a lei de número 17.292 que institui a Política Estadual de Cuidados Paliativos em São Paulo. 

"No Brasil, as atividades relacionadas a cuidados paliativos ainda precisam ser regularizadas na forma de lei. Ainda imperam no Brasil um enorme desconhecimento e muito preconceito relacionado aos Cuidados Paliativos, principalmente entre os médicos, profissionais de saúde, gestores hospitalares e poder judiciário", destaca a instituição. 




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