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Festival traz a cultura de New Orleans para São Paulo
21/09/2022 | 08:00
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Koko Jean Davis. É com ela, mulher moçambicana que refaz com a própria vida a diáspora que antecede a origem do blues nos Estados Unidos, que o Bourbon Street abre seu grande festival. A 18ª edição do Bourbon Street Fest mostra, a partir desta quarta, 21, e segue até domingo, 25, com uma série de shows na casa de Moema e no Parque Burle Marx. No Bourbon, as noites começam às 19h. O último show começa entre 22h30 e 23h. Antes, por volta das 14h, o Jazz Café, um segundo ambiente com piano-bar, terá a Torres Jazz Trio, especializada nas sonoridades de New Orleans. Os shows no Parque Burle Marx serão gratuitos, sábado e domingo, à partir das 13h.

New Orleans, a cidade homenageada pelo festival e essência do próprio Bourbon, é considerada "a terra onde tudo começou". O jazz que nasce ali, no final do século 19, brota de muitos povos - sobretudo franceses, negros, indígenas, espanhóis e norte-americanos.

A Apple TV dispôs um documentário que resume bem a história de um dos maiores festivais de música em território americano, o New Orleans Jazz & Heritage Festival. Jazz Fest: Uma História em Nova Orleans vale ser visto para quem quer aproveitar o festival do Bourbon e fazer um mergulho um pouco maior. New Orleans, sugere o documentário, seria o único lugar no qual nasce uma cultura legitimamente norte-americana.

DONALD HARRISON

Koko Jean Davis vai encerrar a noite desta quarta, depois das apresentações da Orleans Street Jazz Band e da New Orleans Experience, com Marcelo Torres Septeto. Amanhã, quinta, serão a Torres Jazz Trio, a Kevin Gullage & The Blues Groovers e, ao final, a jovem cantora norte-americana Bobbi Rae com o grande guitarrista brasileiro Igor Prado.

A estrela de sexta será o extenso saxofonista Donald Harrison - capaz de transpassar a história do jazz tradicional ao moderno em duas horas - e o acordeonista Dwayne Dopsie e seu grupo The Zydeco Hellraisers, uma expressão musical furiosa e um banho de cultura tipicamente sulista no palco da casa. Antes, o especialista em pianos de New Orleans, Luciano Leães, fará um tributo ao fundamental pianista Professor Longhair, morto em 1980.

Koko estará com a banda de Igor Prado, com a qual fez outros shows pelo interior de São Paulo e Minas Gerais. É uma pegada estruturalmente diferente com relação ao Hammond trio que a acompanha na Europa, a The Tonics, com guitarra, órgão Hammond e bateria, mas também com alto poder de combustão. Ela disse ao Estadão que traz para o Brasil algumas músicas que estão em seu álbum lançado com os Tonics, em 2021, depois de sua carreira ao lado da banda The Excitements, também de Barcelona.

"Montamos um show que, como o disco, passa pelo blues, o gospel, o soul, o rock and roll e a música de New Orleans", ela conta. Isso tudo aliado à sua presença, comparada por alguns com Tina Turner em seus primeiros anos, ao lado de Ike Turner. "O mais importante é ser genuíno e se conectar com o público. Quero que as pessoas que forem ao show esqueçam de seus problemas."

PESO DA TRADIÇÃO

A história de Koko, uma blueswoman que atua a partir da Europa, tem uma rota interessante e culturalmente agregadora. Ela nasceu e viveu em Maputo, Moçambique, até os 18 anos. Depois de descobrir grandes cantoras de blues pelos discos, seguiu para estudar nos Estados Unidos, onde morou por sete anos. De lá, mudou-se para o Rio de Janeiro para, enfim, seguir para Barcelona, onde vive até hoje. "Eu não cheguei a fazer aulas de canto, sempre fui mais instintiva, mas sei da importância de se respeitar a tradição quando se canta música afro-americana. É importante respeitar o choro e saber que se está cantando uma música de purga, na qual se libera a dor, a emoção e a alegria."

Edgar Radesca, dono do Bourbon Street, diz que ter New Orleans no radar é algo fundamental para uma cidade como São Paulo. "A qualidade é cultural em New Orleans. Ela brota nos meninos, a música está presente por todos os lugares."

Em 2005, quando o furacão Katrina atingiu a cidade, Radesca estava no meio de um Bourbon Fest com músicos de New Orleans. "Eles viam as cenas de suas casas destruídas pela TV", conta. "Muitos não conseguiam se comunicar com os parentes. Mesmo assim, fizeram os shows." Depois do festival, alguns tiveram de passar mais tempo no Brasil, já que não havia como voltar a New Orleans em voos diretos. Alguns congressistas norte-americanos cogitaram deixar que New Orleans fosse alagada de vez, já que estudos apontavam a possibilidade de futuras catástrofes. A população lutou contra e os músicos convenceram o poder público de que era preciso resistir.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.




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