A inglesa Sarah Kane (1971-1999) escreveu cinco peças que, pela abordagem inusitada de temas como o amor, provocaram enorme impacto no mundo teatral e se suicidou aos 28 anos. Ânsia, seu quarto texto, estréia sexta-feira no Centro Cultural São Paulo. Dirigidos por Rubens Rusche, sobem ao palco Nádia De Lion, Laerte Mello, Solânia Queiroz e Bruno Costa.

“Ânsia tem uma escrita dramática diferente, ousada e poética. Não tem rubrica (indicação do autor) nem descrição de época, cenário e personagens. Sarah não acreditava na estética realista e foi à origem do teatro, aos gregos. Com linguagem simples, retomou a dimensão sagrada da arte”, diz Rusche.

A autora não deu nomes aos personagens, que não falam entre si, mas identidades: A (Mello), B (Costa), C (Solânia) e M (Nádia). “São arquétipos contemporâneos, da sociedade de cimento. Isso leva à idéia de nichos, solidão, falta de comunicação, medo. São problemas deste sistema econômico e cultural que aliena o indivíduo, padroniza o pensamento e o sentimento e no qual se perde a idéia de comunidade”, afirma o diretor.

A se vinga de sua suposta paixão. B é um franco atirador. C não é, busca ser. M, como os outros, está no limite, ou depois. Para Mello, Ânsia é um texto de amor, mas a leitura é aberta: “Cada espectador capta as imagens de maneira diferente”.

“Sarah seguiu a linha segundo a qual a função da arte não é representar a realidade, no sentido naturalista. Via o teatro como espaço onde se dá o confronto com os limites da experiência humana. Para ela, forma e conteúdo caminham juntos”, diz Rusche. Se “a arte é o que transcende o humano”, Sarah possuía “o fogo que dignifica o ser humano, tira-o da banalidade”.