Textos refletem as angústias e percepções dos autores discutidas em reuniões virtuais
Treze escritores e poetas consagrados, alguns deles radicados no Grande ABC, lançaram na semana passada o livro de poesias Foice na Carne, com textos produzidos durante a pandemia do novo coronavírus. A obra não será comercializada, mas exemplares estarão disponíveis para leitura nas bibliotecas da USCS (Universidade Municipal de São Caetano).
“A ideia do livro surgiu nos encontros virtuais que realizamos durante o período de isolamento. Falávamos sobre nossas angústias, percepções e perspectivas sobre a pandemia”, conta o poeta Joaquim Celso Freire, coordenador de Comunicação, Marketing e Cultura da USCS e um dos autores presentes na coletânea. As reuniões citadas pelo escritor ocorreram de 15 em 15 dias, por meio do Zoom, entre maio de 2020 e dezembro de 2021. “Muitos dos autores não se conhecem pessoalmente”, ressalta.
O curador dos textos, Rubens da Cunha, é professor na UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), sediada na cidade de Cruz das Almas e com campi em Amargosa, Cachoeira, Feira de Santana, Santo Amaro e Santo Antônio de Jesus. “Acreditamos ter produzido um livro que, mesmo sendo uma coletânea de poetas, consegue uma unidade coletiva substancial, porque os poemas não estão individualizados, mas fazendo parte desse diálogo com os outros”, explica o organizador.
Por que o título Foice na Carne? Segundo Cunha, porque se trata de imagem “que ambienta, existe, grita e aconselha o leitor”, fazendo com que ele não saia “imune”. A coletânea é dividida em quatro eixos: livro da ambientação, livro da existência, livro dos gritos e livro dos conselhos,
A obra é dedicada à memória “dos seiscentos e sessenta mil brasileiros mortos, sem direito a abraços nem adeus” e em homenagem “aos enlutados que sobreviveram e seguem, obstinados, em busca da luz” e “aos que se dedicaram à cura e à descoberta das vacinas”.
Freire, mineiro de Coronel Murta, região do Vale do Jequitinhonha, é um dos autores mais respeitados do Grande ABC. São de sua autoria os livros Meu Pé de Alecrim deu Fulô, Um Silva de A a Z e Coisas e Não Coisas. Na atual coletânea, ele participa com oito poesias. Entre elas, o curtíssimo e contundente ‘o verme se associa ao vírus’ – a maior parte dos textos e dos títulos dos poemas é grafada em letras minúsculas –, um ataque frontal ao uso político dos horrores da pandemia.
Outra autora da região é Dalila Teles Vera, poetisa luso-brasileira radicada em Santo André. Dona da Livraria Alpharrabio, ela apresenta versos carregados de resiliência. Como os “a luz desapareceu/e a noite dispensou/o candeeiro/andar nas trevas/aprende-se”, de ‘na trincheira enterrado’.
O poema que abre a coletânea, um dos poucos que admitem letras maiúsculas, chamado ‘Jardinagem’, é uma construção coletiva, organizado com excertos das poesias que compõem o livro.
Têm textos publicados no livro, além de Freire, Cunha e Dalila, Antonio Floriano, Beth Brait Alvim, Celso de Alencar, Cesar de Carvalho, Dione Barreto, Fabiano Fernandes Garcez, Glac Coura, Henrique Pitt, Marilene Garcia e Tadeu Marcato. Foice na Carne possui 120 páginas e é editado em parceria pela Alpharrabio Edições, USCS e Ideia.
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