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Alimentos: para Homo sapiens e nós!
Antonio Carlos do Nascimento
28/03/2022 | 07:00
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In natura, a maior parte dos alimentos não são saborosos, exceção feita às frutas, castanhas, a alguns grãos, sementes e poucas raízes, embora eventualmente consumamos algumas hortaliças sem qualquer preparo. Seguramente, para nossos primeiros ancestrais, estes itens compunham sua iniciação no senso gustativo.

Quando avaliamos a evolução de nossa espécie, observamos estreita relação de nosso progresso com a adoção de novos modelos alimentares. O Homo habilis, nosso ancestral há 2 milhões de anos, tinha em média um metro de altura e conquistou a habilidade em manipular instrumentos cortantes, capacidade que provavelmente possibilitou a caça e o consumo de carnes.

Esta inovação carnívora ao cardápio lhe concedeu um aumento de 30% no volume do cérebro em relação ao seu ancestral imediato, enquanto na próxima etapa evolutiva o já carnívoro Homo erectus possui 1,5 m de estatura, descobre e aprende o cozimento de carnes e outros alimentos, até então de difícil mastigação. A nova rotina rende aumento adicional de 50% no volume cerebral e notória diminuição no tamanho dos dentes e intestinos.

Nossa espécie, Homo sapiens, possui aproximadamente 350 mil anos, com estatura média de 1,7 m e aumento volumétrico cerebral de 40% quando comparado ao Homo erectus. Contudo, em seu comportamento moderno, provavelmente tenhamos por volta de 50 mil anos, quando nossos ancestrais buscaram melhor relacionamento com a natureza, utilizando seu melhor predicado, o pensamento.

Estivemos limitados ao crescimento numérico, dada a escassez de alimentos, até há aproximadamente 10 mil anos, quando nossos antepassados iniciaram o domínio de técnicas de agricultura e a domesticação de animais.

Mas o grande deslanche populacional terrestre deu-se pela revolução industrial, o que permitiu técnicas de conservação e produção alimentar em massa.

Fácil perceber que a crescente aptidão de nossos antecessores em produzir maior quantidade de alimentos e facilitar seu consumo em menor tempo foi o que permitiu a consolidação de nossa espécie em crescimento numérico.

De outro lado, a ciência vem possibilitando maior longevidade ao brutal volume populacional alcançado e agora já não abordamos a sobrevivência da espécie, mas sim a longevidade de seus componentes e, curiosamente, a maior parte de nossas mortes tem encontrado explicação nas substâncias que criamos para tornar o ambiente terrestre menos hostil em suas intempéries.

Entre os mais conhecidos elementos destrutivos de nossa saúde estão compostos presentes em alimentos ultraprocessados, sejam conservantes, ou outros aditivos, utilizados para melhorar o sabor e estimular consumo. Até bem pouco tempo, esses produtos eram tidos como fonte revolucionária e segura de nutrição, assim como, promotores de bem-estar.

Em um raciocínio objetivo é bastante simples concluir que a espécie Homo sapiens ameaça sua própria existência neste planeta a partir de outras imbecilidades, mas não pelo consumo de alimentos ultraprocessados. Mas, se você, leitor, pretende viver mais e melhor, o Homo erectus, entre alimentos in natura cozidos e frescos, parece ser aquele ancestral que nos dias de hoje melhor sobreviveria – e por muito mais tempo. 




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