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Covid faz 8.414 estudantes da rede privada migrarem para a municipal

Prefeituras tiveram de contratar professores para dar conta de atender a alta na demanda

Thaina Lana
Do Diário do Grande ABC
02/03/2022 | 07:00
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André Henriques/ DGABC


O número de alunos matriculados nas escolas da rede municipal do Grande ABC cresceu 5,1% neste ano. No início de 2021 eram 155.124 estudantes inscritos, enquanto que em 2022 as instituições de ensino registraram 162.696 matrículas, segundo levantamento realizado pelo Diário com dados das prefeituras de Santo André, São Bernardo, Diadema e Ribeirão Pires – veja os dados na arte abaixo. A administração de São Caetano informou que recebeu, neste ano, 569 matrículas de alunos que estavam vinculados a rede privada. Desta maneira, as cinco prefeituras da região registraram, juntas, 8.414 novas inscrições. A Prefeitura de Rio Grande da Serra não informou o número total de matrículas e a administração de Mauá não retornou a demanda.

A quantidade de estudantes ainda pode aumentar nas próximas semanas, isso porque os sistemas das redes municipais seguem abertos para novas matrículas para o ano letivo de 2022. A maior demanda observada nas instituições de ensino municipal está diretamente ligada a migração de alunos da rede privada para a pública, devido à crise econômica ocasionada pela pandemia da Covid-19, conforme aponta a professora e especialista em educação, Karla Almeida.

Para ela, esse fenômeno também está sendo registrado em outras regiões do País. “Essa migração já ocorreu em outros momentos, entretanto não nessa proporção. Estima-se que mais de 26 mil crianças e adolescentes fizeram a migração (da rede privada para a pública) durante a pandemia (na região). A Covid provocou crise econômica muito grande, a qual atingiu também o setor da educação. Uma pena que essa mudança não esteja relacionada com a melhora da educação nas escolas municipais e estaduais. Essa alteração ocorreu em função do desemprego e das dificuldades econômicas que afetaram essas famílias”, pontuou Karla.

Para atender a nova demanda de estudantes, as prefeituras do Grande ABC investiram na contratação de docentes ao longo do último ano. O Paço de Santo André, por exemplo, está no processo de chamada de professores aprovados em concurso público, sendo que, até o momento, 443 já foram incorporados aos trabalhos na rede municipal. Em São Bernardo estão sendo admitidos 201 professores; Diadema terá 60 novos profissionais; por fim, Ribeirão Pires reforçou o quadro com 23 docentes.

O doutor em educação e professor Roger Marchesini de Quadros Souza, afirma que as escolas têm se preparado para atender todos os estudantes matriculados da melhor maneira possível. “Claro que a alta demanda traz algumas dificuldades, principalmente no começo do ano letivo. Porém, nós, docentes e gestores, temos como princípio que toda criança tem direito a educação, então, tentamos garantir de alguma maneira o seu pleno acesso. Isso não significa precarizar as condições de permanência do aluno na escola. Vamos buscando sempre alternativas, adaptando os espaços e até procurando vagas em escolas mais próximas, se for o caso”, pontua o docente.

Apesar do aumento no número de matrículas, as prefeituras de Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Ribeirão Pires informaram que atualmente não há filas de espera para matrículas nas escolas municipais.

Santo André registra maior aumento da região na procura por vagas

Santo André foi o município do Grande ABC com maior número de alunos matriculados de um ano para o outro, considerando as modalidades de educação infantil (creche e pré-escola) e ensino fundamental I (do 5º ao 9º ano). No total, estão inscritos neste ano 44.080 estudantes contra 35.774 registrados em 2021 – aumento de 23,2%. Além desse dado, a cidade informou que passou a atender mais 8.306 alunos oriundos de 17 escolas estaduais que foram municipalizadas pelo município.

Ribeirão Pires informou que Secretaria de Educação está realizando adequações físicas e de profissionais nas unidades de ensino como forma de ampliar a capacidade de atendimento. Segundo o Paço, eram 7.296 matriculados em 2021 e 6.833 em 2022, retração de 6,3%, cenário parecido com o de Diadema, que viu a procura cair 5,2%, de 31.724 no ano passado para 30.056 neste ano.

Rio Grande da Serra computou 1.700 alunos matriculados na rede em 2020 e 1.900 em 2021, mas não conseguiu consolidar os números referente a 2022. Segundo a Prefeitura, o aumento da demanda de estudantes vindos das escolas privadas não é realidade no município, porque “até o ano de 2020, a cidade não contava com escolas particulares. Atualmente Rio Grande da Serra disponibiliza apenas duas unidades da rede privada, uma inaugurada em 2021 e outra nesta ano”, explicou o Paço, por meio de nota.

ESCOLAS ESTADUAIS
O cenário de alta da rede municipal da região não se reflete nas unidades estaduais. De acordo com a Seduc (Secretaria da Educação do Estado), estão matriculados nas unidades de ensino da região 240.122 jovens e crianças, enquanto no ano passado esse número chegou a 242.952. A Seduc informou que atualmente não há deficit de vaga na rede e que o sistema de novas matrículas segue aberto, ou seja, os números de 2022 ainda não estão consolidados.

Sobre o orçamento direcionado para as escolas municipais para atender a maior quantidade de alunos do que o registrado no ano anterior, a Seduc explicou, em nota, que “a receita do Estado não é definida apenas pelo número base do Censo Escolar do ano anterior. A partir do acompanhamento da arrecadação de uma cesta de impostos, considerando uma série histórica, e a projeção do exercício vigente, que a receita é projetada”. 

Cidades garantem que estão preparadas

As secretarias de Educação do Grande ABC tentam se adaptar a nova realidade e acomodar todos os alunos que migraram da rede particular para a municipal de acordo com a proximidade do colégio com a residência. O maior desafio, de acordo com os titulares da pasta, é oferecer ensino de qualidade mesmo com o cenário de alta na demanda.

Em Santo André, a secretária da Educação, Cleide Bochixio, explica que todos os alunos serão recebidos nas unidades. “A educação pública está aberta para todo cidadão que nos procurar. Não temos um dado de quantos alunos migraram da rede particular para a rede municipal, porém, todos serão bem acolhidos e estarão sob o foco de um trabalho voltado a recuperação das aprendizagens que foram prejudicadas pelo isolamento social durante a pandemia da Covid”, esclareceu a gestora.

Para Minéa Fratelli, secretária de Educação de São Caetano, a pasta realiza planejamento educacional que sempre considera o aumento de matrículas nas escolas municipais. “A educação pública tem como premissa atender todos os cidadãos. É direito da criança a partir dos 4 anos o acesso à educação básica. Todo o planejamento é feito com base nessa premissa. Assim, tanto as crianças que já são da rede, quanto aquelas que se matriculam depois porque vem de outra cidade ou de escolas particulares, têm em nossas unidades escolares a mesma garantia de direitos de todos os cidadãos de São Caetano: uma educação de qualidade, que olha essa criança como um ser integral”, ressalta Minéa.

Apesar de não conseguir consolidar quantos estudantes estavam matriculados na rede municipal no início de 2021 e fazer a comparação com este ano, a Prefeitura de São Caetano informou que, em 2022, efetuou 569 inscrições de estudantes que migraram da rede particular, além de admitir mais 1.872 alunos que podem ter vindo de unidades de outros municípios ou que estavam fora da escola. No total, a cidade conta com cerca de 22 mil estudantes na rede municipal.

Além da alta procura por matrículas, o deficit educacional ocasionado pela pandemia também preocupa a secretária de Educação de São Bernardo, Sílvia Donnini. “Tendo em vista o impacto prejudicial do período pandêmico na aprendizagem de crianças, jovens e adultos devido ao longo tempo de suspensão de aulas presenciais, o momento atual nos inspira atitudes de acolhimento com todos os que acessam a educação pública municipal, com sólidos investimentos em programas de recuperação de aprendizagens e a retomada do espaço escolar como rico ambiente de interações e trocas, o que pressupõe um compromisso absoluto com todos os alunos matriculados em nossa rede de ensino, bem como com suas famílias”, explica a secretária. 




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