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‘A UFABC tem compromisso com a região’
Anderson Fattori
Do Diário do Grande ABC
07/02/2022 | 08:43
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Divulgação


Reitor em exercício da UFABC (Universidade Federal do ABC), em substituição a Dácio Matheus, que está em campanha para buscar a reeleição, Wagner Alves Carvalho diz que a instituição de ensino tem o compromisso de contribuir com o desenvolvimento regional e pretende estreitar ainda mais os laços com as prefeituras, com o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e com as comunidades locais. O professor expõe as dificuldades da instituição em se manter aberta com o corte de verba que ocorreu em 2021 e vê futuro desafiador. Carvalho ainda enaltece os projetos desenvolvidos nos campi de Santo André e São Bernardo

Em 2021 as universidades federais tiveram corte nos seus orçamentos. Como a UFABC conseguiu equalizar suas contas?

Temos enfrentado dificuldades orçamentárias desde 2016. Essa já recorrente situação tem obrigado a universidade a fazer ajustes para manutenção de suas atividades. Ocorre que, com os cortes de 2021, chegamos praticamente em nosso limite para que fossem garantidas as necessidades básicas de funcionamento da instituição. Para fechar 2021, mantivemos, em parceria com outras instituições federais, articulação permanente com congressistas e com o Ministério da Educação, no sentidode reaver valores bloqueados, contamos com pequeno superavit que tivemos no fim de 2020 e também financiamento de projetos por meio de emendas que parlamentares destinaram à UFABC. Além disso, em 2021 grande parte das atividades da universidade permaneceuem modalidade remota, o que ocasionou redução em gastos de manutenção. Infelizmente, asdificuldades orçamentárias significam forte impeditivo ao planejamento e à inovação, determinam situação de estagnação frente à necessidade de recompor e ampliar para atender demandas crescentes.

O repasse do governo federal será normalizado em 2022?

A UFABC recebeu R$ 43,7 milhões de orçamento em 2021, sendo este valor cerca de 18% inferior ao de 2020. Em 2022, a Lei Orçamentária Anual informa que a UFABC deve receber pouco mais de R$ 48 milhões, indicando recuperação em relação a 2021, só conseguida pelas universidades federais depois de articulação, no âmbito da Andifes (Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior), das reitoras e dos reitores junto, especialmente, do Congresso Nacional. Esta recuperação se deu apenas em termos nominais, não sendo suficiente para atender, em patamares sustentáveis e sem incertezas, às demandas represadas, além de não considerar o aumento de custos pela inflação. Esperamos que este orçamento, já sancionado, seja totalmente liberado, sem contingenciamentos no decorrer do ano.

Nos últimos anos ficou claro que o financiamento de pesquisas não é prioridade do governo federal, tendo em vista os cortes realizados no setor. Como o senhor vê o cenário?

Lamento a situação que estamos lidando. O cenário atual da pandemia tem provado o papel fundamental da ciência em nossa sociedade. Se não fossem as universidades públicas brasileiras,poderíamos estar emuma situação ainda mais crítica. Investirem pesquisa científicaé investir no desenvolvimento e na soberania do País.

Como o senhor acredita que a UFABC pode contribuir para o desenvolvimento do Grande ABC?

Há inúmeras formas de a universidade contribuir com a região. E temos avançado cada vez mais nesse sentido. Um de nossos principais objetivos é estreitar relações com atores e autoridades políticas e acadêmicas regionais e com a comunidade local. Durante a pandemia, por exemplo, com a imprescindível interlocução do Consórcio Intermunicipal do GrandeABC, mantivemo-nos próximos das prefeituras locais e de outras instituições de ensino superior aqui do Grande ABC, no sentido de buscar soluções coletivas de combate à Covid.Para além disso,mantemos parceria com a Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC, que tem nos possibilitado avançar em pautas importantíssimas para a região, principalmente no que diz respeito à relação entre academia e indústria. Nesse sentido, ofertamos acesso a programas de pósgraduação em modalidades específicas para promover essa interação entre indústrias e conhecimento acadêmico. Já temos convênios firmados com dezenas de empresas da região, desenvolvendo projetos de pesquisa e inovação alinhados às temáticas de interesse regional. Entendo que a UFABC tem compromisso com o desenvolvimento regional que se manifesta por meio de cooperações em projetos de ensino, pesquisa, extensãoecultura, paraos quaisé fundamental a integração de órgãos públicos, empresas, indústrias e, sobretudo, de pessoas do território.

A UFABC sediou um hospital de campanha e agora abriu as portas para a montagem de consultório de campanha da Prefeitura de Santo André.Como é o relacionamento da instituição com o poder público da região?

Como universidade pública federal que carrega em seu nome e em sua trajetória a própria história do Grande ABC, jamais poderíamos nos furtar de estar junto com o poder público local ecomapopulaçãoda regiãoneste momento tão difícil que toda humanidade enfrenta. Assim que a Prefeitura de Santo André nos acionou, solicitando o empréstimo de nosso ginásio para montagem do hospital de campanha,sinalizamos que, semdúvida alguma, estaríamos juntos nessa parceria. Como mencionei, nossos relacionamentos com opoder público localtêm sido cada vez mais profícuos e alinhados. Estamos felizes com os avanços nessas relações e queremos nos aproximar cada vez mais do poder público da região, sempre com objetivo de atuar conjuntamente em prol da comunidade e do desenvolvimento local.

Quais são os principais desafios da UFABC?

Nosso projeto pedagógico é arrojado, a começar pelos cursos de ingresso. Temos quatro cursos como porta de entrada na UFABC: os bacharelados interdisciplinares em ciência e tecnologia e ciências e humanidades e as licenciaturas interdisciplinares em ciências humanase em ciências naturais e exatas. E os estudantes ingressam em um desses cursos e vão construindo suas trajetórias rumo a(s) outra(s) formações em cursos específicos oferecidos pela universidade. Fazer a gestão desse modelo pedagógico, por si só, é grande desafio cotidiano, principalmente por termos que romper com os modelos tradicionalmente ofertados em outras instituições e estarmos sempre atentos aos nossos pilares de gestão horizontalizada, sem estruturas departamentais. Além disso, o cenário de restrição orçamentária, inevitavelmente, nos traz desafios imensos para manter e melhorar nossas práticas de ensino, pesquisa e extensão universitária. No âmbito administrativo, por exemplo, a limitação para realização de novos concursos tem trazido dificuldades imensas à instituição.

A UFABC desenvolveu teste para identificar Covid com valor abaixo do mercado. Esse teste segue sendo usado por quem frequenta os campi?

Sim, o modelo de testagem desenvolvido nos laboratórios da UFABC, sob coordenação da professora Márcia Sperança, por meio da modalidade de análise RT-PCR em amostras de saliva, tem sido usado como importante ferramenta de gestão neste momento de retorno de algumas atividades presenciais. A fase que estamos, de nosso plano de retomada, prevê circulação semanal de até 2.000 pessoas nos campi e todas devem realizar o teste semanalmente. O modelo criado pela pesquisadora é inovador e permite que as amostras de saliva sejam coletadas, com segurança, pelos próprios indivíduos. Já estamos em contato com nossa agência de inovação para viabilizar formas de disponibilizar o teste a empresas que tenham interesse em desenvolver em larga escala.

A UFABC patrocina dezenas de projetos. Um deles foi a construção de satélite (PionBR), lançado ao espaço dia 13 de janeiro a bordo do foguete Falcon-9, da Space X. Quais outros projetos desenvolvidos na universidade e que o enchem de orgulho?

Sim, na UFABC desenvolvemos muitos projetos interesantísimos. Nesse caso específico, da construção do satélite, a trajetória interdisciplinar dos estudantes na universidade, o acesso ao programa Pesquisando Desde o Primeiro Dia, o contato com entidades de pesquisa, as relações com o corpo docente e oapoio institucional, principalmente intermediando as relações internacionais, somaram-se aos esforços desses alunos para concretizar esse projeto tão grandioso. Sobre outros projetos, fica até difícil elencar, pois, de fato, temos muitos. Mas, diante do contexto que estamos vivendo, não poderia deixar de citar os mais de 50 projetos de pesquisa, extensão e de ações comunitárias desenvolvidos no âmbito do comitê da UFABC contra o coronavírus. Tive a satisfação de presidir esse comitê e ver de perto a mobilização da comunidade UFABC em projetos de monitoramento da presença do vírus em redes de esgoto, de produção de equipamentos de proteção individual e álcool gel, de educação e arrecadação de suprimentos, de apoio a comunidades em situação de vulnerabilidade, entre outros.

O Diário mostrou que a UFABC desenvolveu projeto de captação de energia solar nos campi de Santo André e São Bernardo. Quais os resultados extraídos desta ação?

Este projeto da UFABC, em parceria com a Enel, é realmente grandioso. Temos dedicado esforços institucionais a esta ação já há alguns anos, juntamente com a coordenação do projeto, representados pelos professores Patrícia Teixeira e Ricardo Benedito. Em 2021, ano em que a UFABC completou 15 anos, tivemos a alegria de inaugurar a usina fotovoltaica em nossos dois campi. A usina tem 655 kWp de capacidade, que corresponde ao máximo de energia produzida em condições ideais, e vai produzir 66 mil kWh/mês com nove subsistemas, distribuídos entre os campi. Esse volume teria capacidade para abastecer 330 residências de porte pequeno a médio ou manter 275 mil lâmpadas de LED em iluminação pública. Além da instalação dos painéis e das árvores solares, que devem gerar economia anual de 15% no custo da universidade com energia, o projeto também servirá para incremento de estudos científicos sobre energia renovável nos municípios do Grande ABC.

RAIO X

Nome: Wagner Alves Carvalho

Idade: 57 anos

Local de nascimento: Carmo da Mata, Minas Gerais

Formação: bacharel e licenciado em química, mestre em química inorgânica, doutor em ciências

Hobby: viajar e conhecer novos lugares e pessoas

Local predileto: minha casa

Livro que recomenda: Os Sertões, de Euclides da Cunha

Artista que marcou sua vida: Milton Nascimento

Profissão: professor e pesquisador Onde trabalha: UFABC (Universidade Federal do ABC) 




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