Saúde&Cidadania Titulo Saúde & Cidadania
Palavras mágicas cobrar atitudes transformadoras
Antonio Carlos Lopes
27/12/2021 | 08:40
Compartilhar notícia


Bom dia, obrigado, desculpa, com licença, por favor. As tais palavras mágicas, em teoria base da educação e do respeito ao próximo, vêm, faz tempo, sendo usadas mecanicamente e de forma protocolar – com exceções.

Se por aqui chegasse um pesquisador alheio à essência da sociedade atual, poderia ser traído por evidências forjadas, concluindo, simplesmente pelo que sai da boca do homem, que nos respeitamos e somos cuidadosos uns com os outros.

Seria uma dedução precipitada e sem fundo de verdade. O real é que viramos pessoas questionáveis quanto a valores e posturas. Em eterno teatro existencial, uma maioria dissimulada joga para as câmeras vendendo um lustre de caráter que não possui, uma polidez apenas de fachada.

Amar ao próximo como a si mesmo, conforme orientava Jesus Cristo, requer coração aberto e alma pura. Enquanto olharmos indiferentes à miséria, às crianças amontoadas em barracas em ruas – sem ter o que comer, às pessoas maltrapilhas e sujas mendigando por quaisquer oportunidades, nada mais seremos do que escória por extensão.

Não existe sociedade, país, Estado, cidade ou qualquer outra espécie de núcleo, como família, ou de amigos, que possa se autointitular digno diante de situações observadas atualmente por aqui. Aliás, situações essas que são marcas registradas do Brasil, de Norte a Sul.

Sai dia, entra dia, mais e mais pessoas são condenadas à miséria; e nossa dívida social se agiganta, ficando quase que impagável.

Zelar por seus filhos é imperioso quando pensamos em uma Nação séria, constituída para evoluir e voltada ao bem comum.

Contudo, em pleno século XXI, não é nem de longe o que ocorre em nosso País.

Tornamo-nos terra de algumas famílias que, por gerações, comandam política, economia, comunicação e os destinos do Brasil. Bisavós, avós, pais, filhos e netos se sucedem no Parlamento, na Justiça e até em postos do Executivo.

São os donos do mundo. Erguem impérios para os seus e preparam dias celestiais para o amanhã próprio e o dos seus. A nós, entregam o purgatório no presente e encomendam o inferno ao futuro.

Junto a esses clãs, há aventureiros que, por A + B, conseguem entrar na seara política e enriquecem por “milagre”, todos sabemos de que maneira. Não são bem do mesmo saco de farinha, mas se confundem rapidamente. Há quem os chame de comparsas.

É o nosso Brasil de hoje, lamentavelmente. Além de toda essa miséria, inclusive de alma, temos cidadãos colocados a nível de servidão.

Muitos (dos poucos) empregados trabalham à troca de um soldo que só lhes permite reaquecer o mercado adquirindo os bens das empresas de seus patrões.

Depois de suar por um mês, pegam os trocados do salário e empenham tudo em um escambo disfarçado. Os livros de história ainda abordarão essa questão, será mais uma das inumeráveis páginas vergonhosas de nossa história.

Tudo está fora do lugar porque compactuamos, calamos e consentimos. Está enraizada no brasileiro (em regra, mas há exceções) a cultura de levar vantagem em tudo, das pequenas “passadas de perna”, da falta de solidariedade e de espírito coletivo.

Temos de mudar já, somos melhores, eu creio. Farinha do mesmo saco, são aqueles que bem sabemos. Nós, o povo brasileiro, precisamos nos diferenciar cada vez mais deles em princípios e ações. Uma hora o podre cairá.

As palavrinhas mágicas, óbvio, terão lugar especial no processo de mudança, desde que acompanhadas por mentalidade e ações cidadãs.

Boas-festas e um excelente 2022 a todos. Cabe a nós fazê-lo assim.

Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica e professor afiliado do HMASP (Hospital Militar de Área de São Paulo). 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;