Cotidiano Titulo
A grande floresta pede socorro
Rodolfo de Souza
16/12/2021 | 00:17
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A grande floresta está sendo trucidada dia a dia como se não tivesse direito à vida, como se ela e seus habitantes tivessem sido condenados por um tribunal que considerou lícito promover a sua morte. O ser humano, senhor do destino de toda a T erra, tem nas mãos meios e recursos para arrancar suas árvores, contaminar suas águas e matar os nativos do lugar , igualmente humanos. E, ao algoz, também é conferido o direito à destruição, por meio de licença outorgada pelo poder máximo do País, que sente verdadeira aversão por tudo o que respira.

As árvores tombam e os rios morrem, porque garimpeiros, madeireiros, pecuaristas e demais pragas avançam mata adentro, deixando um rastro de desolação por onde passam.

Não importa para eles o preço que têm de pagar índios, bichos e toda a gente que, perto ou distante, há de também sofrer as consequências um dia. Os prejuízos climáticos daqui e de acolá, oriundos do desmatamento, que, mais cedo ou mais tarde, levarão desertificação a muitas regiões que recebem a umidade da floresta, isso não os incomoda, desde que seu objetivo nefasto seja alcançado. Provavelmente nem considerem a questão. Sua obsessão pelo lucro desmedido os torna seres inumanos, capazes de cometer os atos mais torpes em nome de interesses pessoais. E assim o meio ambiente segue sucumbindo ao poder da motosserra e do mercúrio, sem que alguém lhe estenda a mão.

Aos amantes da natureza e da vida, cabe somente lamentar, uma vez que as instituições, que repousam no garboso berço do poder e que têm nas mãos as ferramentas para deter o opressor, nada fazem. Seus olhos permanecem fechados ou voltados para questões mais relevantes como o contracheque que lhes proporciona vida abastada, longe de problemas fúteis como o desmatamento da grande floresta.

A imprensa tradicional, a chamada grande imprensa, faz cobertura superficial, citando dados numéricos e nada mais. Logicamente que sua atenção deve estar voltada também para assuntos de cunho político, social, econômico e tal. É possível até que não sobre muito espaço para denúncias que envolvam gente graúda que se empenha em garantir trabalho livre de fiscalização aos destruidores do verde da nossa bandeira. Triste mesmo imaginar o verde da nossa flâmula meio desbotado, pendendo a cada dia para o marrom… ou cinza. Cinza, aliás, deriva de cinzas.

Sem dúvida é termo bem mais apropriado, considerando a realidade que se vive em dias atuais, em que tudo neste imenso rincão tende a se tornar cinzas. Há de se levar em conta ainda que sem o verde, o amarelo, que representa as riquezas do Brasil, tende também a assumir outra coloração. Esse fenômeno se deve à simbologia da cor que vem perdendo o seu papel no empobrecido pavilhão varonil.

Alguns índios lutam com o que têm: quase nada. Contam apenas com a coragem e a revolta, além do conhecimento da floresta. Noutro dia, inclusive, li uma matéria a respeito de um grupo de defensores do meio, e a fala do líder me chamou a atenção quando disse que eles sabem ler a floresta, o que sem dúvida é uma grande vantagem. Vi, pois, determinação e poesia em seu olhar e em suas palavras. Isso mesmo, poesia que vem do fundo de uma alma que vê com aflição sua terra e de seus ancestrais sendo dizimada pelo crime autorizado. 




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