Bolsonaro e Moro fazem o mesmo tipo de campanha: ambos falam para seus eleitores cativos. Os discursos de Bolsonaro são perfeitos para agradar os bolsomínions: ele continua combatendo vacinas e o uso de máscaras, e defendendo as cloroquinas da vida. Os de Moro são ótimos para os lavajatistas convencidos de que ele extirpará o maior problema do Brasil, a corrupção. Como explicar que entrou num governo preocupado apenas em salvar a família do chefe? Nenhum dos dois fala em fome, salário e emprego.
Enquanto isso, Lula vai conquistando espaços. Vai para o Exterior e é bem recebido, enquanto Bolsonaro enfrenta resistências; diz-se de esquerda, sabendo que boa parte dos dirigentes da União Europeia se filia a partidos esquerdistas, e sem se dar ao trabalho de explicar que a esquerda em nosso continente nada tem a ver com socialistas, trabalhistas e social-democratas da Europa, mas está bem mais próxima de organizações criminosas como a Máfia e a N’Drangheta. Também não perde tempo falando mal da aparência das mulheres dos dirigentes europeus. Apresenta-se como o reformista que vai lutar contra a fome. Amazônia? Isso é problema para Bolsonaro explicar.
E, no Brasil, sabendo que a esquerda é monopólio seu, convida Alckmin para vice. Se aceita ou não, tudo bem: ele tentou. E avança numa região que seria de Moro, a de centro-direita. Este colunista nunca votou nem votará em Lula. Mas é um prazer assistir à atuação de um profissional entre amadores.
O desempenho
Lula se dá ao luxo de defender a censura à imprensa (com o codinome de “controle social da mídia”), mas não ataca diretamente nenhum empresário do setor. Controlar, sim. Destruir, não. Não há ameaças de fechar a Globo, ou bobagens desse tipo. Como Bolsonaro, Lula mente: diz que sofreu com processos injustos, mas foi inocentado. Não foi: livrou-se das acusações por questões processuais, mas as acusações existem. Só que, com a demora da Justiça, dificilmente haverá tempo para que seja condenado de novo. Parte significativa da população está convencida de que ele se livrou por ser mesmo inocente. Já Bolsonaro periodicamente inventa coisas sobre Covid, ou diz coisas que serão desmentidas em seguida sobre a Amazônia. E Lula, veja, não se move para conquistar o Centrão. Ele sabe que isso não lhe daria votos. E, ganhando a eleição, o Centrão cairá no seu colo, pronto para votar com o governo, cheio de amor. Carinho para dar e vender.
Fazendo inimigos
Bolsonaro detesta a Globo e já anunciou que vai endurecer na hora de renovar as concessões. Não consta que tenha o mesmo ódio pelo SBT. Mas, no último fim de semana, seus seguranças e bolsomínions agrediram não só repórteres da Globo, mas também do SBT – e seu homem de comunicações, Fábio Farias, é casado com uma das filhas de Sílvio Santos. Foi na sua frente, mas Bolsonaro, impassível, assistiu às agressões. O espancamento não poupou as mulheres – como já tinha ocorrido em 31 de outubro, quando a repórter Ana Estela de Souza Pinto, da Folha de S.Paulo, foi agredida em Roma por alguns dos jagunços que acompanhavam o presidente. Em termos pessoais, talvez o presidente até goste desse tipo de cena, vingança contra os jornalistas que não seguem seu catecismo. Mas em campanha? Bolsonaristas que sejam, quantas pessoas ficam felizes ao ver que homens pesadamente armados, adestrados em artes marciais, não hesitam em agredir mulheres?
Um manda, outros obedecem
O ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, Tarcísio Gomes de Freitas, deve se candidatar ao governo de São Paulo. Sua explicação – ele não é de São Paulo, não morou em São Paulo, não conhece São Paulo – lembra a do ministro da Saúde, general Pazuello, que Bolsonaro chama de “nosso gordinho”: “O presidente quer, então serei candidato ao governo paulista”. Tarcísio confirmou sua candidatura na festança de fim de ano oferecida pela ministra Flávia Arruda, e foi incentivado pelo presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que garantiu que acredita no seu sucesso.
Divertindo-se
Campos Neto deve ter herdado do avô, que foi ministro do Planejamento, a capacidade de manter a aparência séria enquanto dá risadas por dentro.
Estudos paulistas
Tarcísio Gomes de Freitas é carioca, fez carreira militar na Marinha e se reformou como capitão. Daí em diante, fez a vida em Brasília: antes de ser o fiel bolsonarista que é hoje, foi chefe do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), nomeado pelo governo Dilma. Já disseram a Bolsonaro que Tarcísio, profundo desconhecedor de São Paulo, será esmagado nos debates. Mas o ministro é estudioso: dentro de pouco tempo saberá ao menos qual é a Capital do Estado que pretende governar, descobrirá que o Aeroporto de Viracopos não foi batizado em homenagem ao adversário e terá decorado direitinho o nome do aeroporto das Cegonhas.
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