Setecidades Titulo Retomada dos bailes
Flashback: noite para dançar passinhos

Bailes nunca saem de moda, trazem à tona saudade da época e ainda agradam fãs de todas as idades

Francisco Lacerda
Do Diário do Grande ABC
12/12/2021 | 00:01
Compartilhar notícia
Claudinei Plaza/ DGABC


Os bailes de flashback estão de volta após período de restrições devido à pandemia. Essas festas nostálgicas há tempos habitam o gosto de pessoas de todas as idades, sejam os ‘baileiros’, que não perdem um evento, ou os que vão com a família, se divertir, curtir som ‘das antigas’, rever amigos, fazer novas amizades ou até mesmo paquerar. 

“Quando anuncio que vai ter festa, em 20 dias esgotam-se as mesas”, diz o DJ Cesinha, 60 anos, que fez no fim de semana o seu segundo baile de flashback no ano, no Tênis Clube de Santo André. Realiza, em média, cinco ao ano, com muita gente, e fiel. O próximo é em março. “A maioria do público é da década de 80 para frente. Em 2007, resolvi fazer na Sunshine e coloquei mais de 1.500 pessoas lá dentro, em um dominpo, das 19h às 23h. De lá para cá fiz festa com menos de 1.000 pessoas duas vezes só.”

Nos anos 70, 80, 90 e início de 2000, ansiava-se pela chegada do fim de semana, para ir aos bailes, que eram chamados de “das 10 (22h) às 4(h)” ou “domingueiras”, assíduos em casas como Club House, Tênis Clube, Adrenalina, Primeiro de Maio, Tutti Frutti, Rods Plaza, Aramaçan, Coke Luxe, Ocean Drive, Factory, Choppapo, Buso Palace, CEV, Emerald Hill, Meninos FC, Zoster, Amarelo 20, Hipnose, Sunshine, Ilha de Capri, Duboiê, Front 752, Aeroporto e outros. 

Os Djs que comandavam as pickups eram, entre outros, Cesinha, Duran, Vadão, Ricardo Copini, Coelho, Cascatas, Batman, Alcir Black Power, Ademir Fórmula 1, Circuit Power, Os Carlos, Gegê...

“Lembro que subia a rua da Diana (indústria de borracha, Rua Três de Dezembro), no Rudge (Ramos), para ir ao Meninos. Sabia que ia ter Alcir Black Power. De longe ouvia Grand Master Flash (The Message). Arrepiava. Se ouço essa música hoje lembro daquele tempo. Era maravilhoso, tempo de ouro”, recorda-se Cláudio Ângelo, 60 anos, autônomo de Mauá.

Alcione Beltrame Gutierrez, 49, de Santo André, relembra que em muitos desses bailes havia gratuidade às mulheres desde que chegassem até certa hora. “Lembro-me bem dos tíquetes que davam direito a entrada gratuita. Por exemplo, Noite da Poupança, Noite das Morenas, das Loiras. E na maioria das vezes íamos a pé, com a turma fazendo a maior bagunça. Época muito boa.”

Muitos frequentadores desses eventos usavam calça boca de sino, sapato mocassim ou plataforma. Outros exigiam ser chamados de ‘função’ e orgulhavam-se de cortar couro de banco de ônibus para fazer a ‘pizza’ na barra da calça. Tinham também os que ostentavam cabelão black power.

Eternizados nos pés de Nelson Triunfo, os passinhos marcados, coreografias sincronizadas, eram show à parte e reuniam pessoas muitas vezes vestidas com roupas iguais. Um grupinho dançava em um canto, outros se espalhavam pelo salão e, de repente, dependendo da harmonia do ‘passinho’, quase todos dançavam a mesma coreografia. 

Maria Clarice de Carvalho Cortes, 50, aposentada e atualmente telefonista do Samu, de São Caetano, vai para reencontrar os amigos. Fã de Abba e Zapp, hoje nos eventos ela curte dançar e fazer novas amizades. “Lembro-me do tempo da adolescência, dos salões que costumava ir, dos passinhos que a gente passava a tarde ensaiando para dançar à noite. Tantas boas lembranças. Tenho amigos da vida e dos bailes e sempre conseguimos nos reencontrar nestes eventos.”

Canções marcaram época e ainda povoam o imaginário da maioria. Quase impossível não notar as pernas ‘mexendo’ voluntariamente hoje ao ouvir Genius of Love (Tom Tom Club), Dance Across The Floor (Jimmy Bo Horne), Silent Morning (Noel), Don’t You Foget About Me (Simple Minds), Spring Love (Stevie B), Girls Just Want Have Fun (Cyndi Lauper), Five Minutes Of Funk (Whodini), Pulem (Comando DMC), Sr. Tempo Bom (Thaíde e Dj Hum), e uma infinidade de outras. Ou as chamadas ‘melosas’ Please Don’t Go (KC & The Sunshine Band), Be Alright (Zapp), Ben (Michael Jackson) e The Winner Take It All (Abba), que eram os momentos de dançar de ‘rosto colado’ e ‘chavecar’ as ‘pitchulinhas’.

“Quando é para ‘subir a pista’, coloco Dancing Quem (Abba), dos anos 70. O cara que está dormindo, morto, vai sair dançando. Ou Simple Minds, Don’t You Foget About Me, que marcou muito os anos 80. E outra é Silent Morning, do Noel. Se a pistra estiver ruim (parada) e quiser subir, toca essas músicas, entrega Duran, 52, empresário de São Bernardo, mas DJ nas horas vagas, isso já há 36 anos.

“Sempre curti flashback. Fui frequentadora assídua do Buso Palace na minha adolescência. E, agora, nossa! Esses bailes fazem me sentir com 15, 18 anos novamente. Quando estou dançando me sinto jovem outra vez. Sempre que tiver vou dar um jeito de frequentar”, recorda Angelita Ribeiro do Nascimento, 55, atendente de telemarketing e aposentada de São Bernardo.

Os fãs lamentam o fato de a maioria das danceterias ter fechado. Eles, entretanto, continuam a pedir os bailes de flashback e, a depender dos DJs e desse pessoal, nunca irão perecer. “É sensacional, de respeito, de família, sem confusão. Festa saudável”, diz Duran, que vai promover o próximo em janeiro. “Se a pandemia não atrapalhar, continua”, espera Cesinha. 

“Verdadeiramente nos remetem ao passado. Deveriam acontecer a cada três meses”, pede Clarice. De três em três meses seria o ideal, acompanha Alcione. “Que aconteça uma vez por mês”. sugere Angelita. “Era maravilhoso, tempo de ouro”, diz Cláudio. 

Como se vê, e ao contrário do que cantava Thaíde, “que tempo bom/Que não volta nunca mais”, o tempo, por algumas horas, volta sim, e os bailes permanecem vivos. Talvez o músico não soubesse a “força poderosa” nos pés de quem curte flashback.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;