O PSDB, que elegeu duas vezes o presidente da República, que disputou o segundo turno até 2014, resolveu fazer prévias para escolher quem seria o seu candidato no ano que vem – e, ao mesmo tempo, ocupar o noticiário. Pois não conseguiu escolher o candidato; mostrou-se capaz de ocupar o noticiário, mostrando-se incapaz sequer de promover as prévias; revelou-se totalmente rachado, com acusações pesadas entre os candidatos, com uma deputada saindo do partido porque, disse, o que queria mesmo era reeleger Bolsonaro.
Eleição não é para amadores. Nos Estados Unidos, depois de ser batido por Obama, o republicano Joe McCain foi cumprimentá-lo e oferecer-lhe sua cooperação. Os repórteres lhe perguntaram o motivo da gentileza, depois da troca pesada de ataques na campanha. McCain foi claro: “Na campanha ele era meu adversário. Agora é meu presidente”. Mas Sérgio Motta, Montoro, Covas e outros profissionais morreram. Fernando Henrique, o profissional por excelência, já não participa da vida partidária. Restaram os briguentos.
Bolsonaro, mesmo com a caneta na mão e verbas ilimitadas, fartamente distribuídas, não consegue fazer nem com que o chanceler que indicou seja sabatinado pelo Senado. Derrapa nas declarações (comemorou, por exemplo, o “bom dia especial” que tinha dado à mulher, indicando, pelo estardalhaço, que isso não deve ser tão comum; prometeu privatizar a Telebrás, que deixou de ser do governo há muitos anos). E nega o desmatamento da Amazônia.
E Lula?
Lula mentiu muito em sua viagem à Europa, dizendo, por exemplo, que foi declarado inocente (na verdade, seus julgamentos foram anulados por questões técnicas. E, embora isso não vá dar em nada, têm de ser refeitos). Mas é inegável que fez sucesso, sendo bem recebido por dirigentes que não deram a menor bola a Bolsonaro. E como aproveitou o sucesso? Elogiando o ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, que acaba de se reeleger pela quarta vez, agora após colocar na prisão seus sete maiores adversários. Quis comparar Ortega com Angela Merkel – logo ela, que nunca foi acusada de corrupção, que ganhou eleições sem prender ninguém. E que é eficiente.
Há mais: quando presos políticos fizeram greve de fome em Cuba, e um morreu, Lula foi fotografado ao lado de Raúl Castro, o ditador da época, às gargalhadas, e acusou as vítimas da violência de serem reles bandidos.
Por algum motivo, Lula se sente compelido a falar bem de Cuba. No caso da atual repressão a protestos, disse que isso acontece não apenas em Cuba, mas no mundo inteiro. Quando isso aconteceu no Brasil, aí ele reclamou muito. Repressão no lombo dos outros não dói no dele.
E Moro?
Há quem diga que Sergio Moro é um Bolsonaro que come com talheres. Talvez se possa dizer que Bolsonaro carrega a arma nas mãos, e Moro numa caixa de violino. Moro bateu duro no PT e em Lula, por terem elogiado as eleições da Nicarágua apesar da prisão dos opositores, e por tentarem minimizar a repressão aos protestos em Cuba. Disse que “não dá para flertar com o autoritarismo”. Mas manteve pessoas presas por prazos longos, sem julgamento, até que, para poder sair da cadeia, fizeram acordos de delação premiada. A propósito, já circula por aí um vídeo em que Moro, há poucos anos, garantia que jamais faria política. Fez: não só aceitou o convite de Bolsonaro para ser seu ministro como agora é candidato à Presidência.
O caminho do meio
Quem não quer Lula nem Bolsonaro terá dificuldade para achar um candidato. Boa parte dos políticos está envolvida com alguma coisa. A última: cada um dos 302 deputados que elegeram Arthur Lira presidente da Câmara recebeu oferta de R$ 10 milhões para aplicar em emendas, via orçamento secreto. Quem revela a bandalha é o deputado Delegado Waldir (PSL-Goiás), líder do partido enquanto aguentou Bolsonaro. Arthur Lira não se preocupa: agora, articula a escolha de um vice de seu PP para Bolsonaro.
Religião ameaçada
Em Sumaré, São Paulo, três terreiros de umbanda foram depredados em poucos dias. Os sacerdotes fizeram boletim de ocorrência, mas a polícia se recusou a registrar o caso como intolerância religiosa: registrou-o somente como invasão. A prefeitura só sugeriu que os terreiros contratassem seguranças. Os fiéis filmaram um carro Corsa cujo motorista fotografava quem ia a esses terreiros. Acontece que a placa do Corsa era originalmente de um Meriva. Nem assim as autoridades se mexeram. Alô, governador João Doria!
OAB obrigatória
Atenção, advogados: a eleição para a OAB-SP, a maior do País, é amanhã, das 9h às 17h, e o voto é obrigatório, sob pena de multa. Houve mudanças: para saber onde votar, veja bit.ly/OABSP2021ondevotar; De acordo com a pesquisa do Estadão, duas chapas disputam cabeça a cabeça: a situação, de Caio Augusto, e a 14, de Patrícia Vanzolini e Leonardo Sica, de oposição.
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