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Seriado ‘Carga Pesada’ é sucesso comercial
Rodrigo Teixeira
Da TV Press
29/09/2003 | 19:34
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Carga Pesada, da Globo, chega ao fim da segunda temporada nesta terça-feira com o mesmo prestígio publicitário do início. O seriado é dividido em quatro blocos e os intervalos são recheados de anunciantes de peso, que vendem gasolina, cartão de crédito, revista, acesso à internet, pneus etc. Sem contar a presença do caminhão Volkswagen usado pela dupla vivida por Antônio Fagundes e Stênio Garcia. O seriado, no entanto, chegou a dar preocupantes 21 pontos de média, número baixo para quem pega de herança a boa audiência do humorístico Casseta & Planeta, Urgente!. Em maio, o programa chegou a bater 32 pontos e 52% do share. Ou seja, Carga Pesada é sucesso comercial, mas dramaturgicamente não cativa o público.

Há motivos. A nova fase foi marcada pelo desequilíbrio entre os episódios. Apenas os quatro primeiros, que tiraram o programa de uma hibernação de 20 anos, mostraram alguma coerência. Da segunda leva em diante, Pedro e Bino ganharam atitudes tão fantasiosas que as cenas acabaram se chocando com o intuito original de Carga Pesada: mostrar a dificuldade do dia-a-dia do caminhoneiro. Como pano de fundo, a realidade das cidades e regiões por onde a intrépida dupla vivida por Antônio Fagundes e Stênio Garcia passam. Como era escrito por autores politizados, como Dias Gomes e Gianfrancesco Guarnieri, era natural que tocassem em assuntos como reforma agrária e trabalho escravo. Ou seja, a nova versão do programa é água-com-açúcar.

Ao insistir em mostrar os veteranos Pedro e Bino em tramas que prezam mais a ação do que o conteúdo, o remake da série vende os protagonistas como super-heróis do povão. O que, na verdade, é justamente contrário à essência do Carga Pesada. Pedro e Bino eram, acima de tudo, anti-heróis. Brigavam contra a injustiça e ajudavam comunidades carentes em uma época que isso era subversão e não assistencialismo, como parece agora. Na época, a própria emissora ficou reticente quanto à receptividade do público ao ver Fagundes na pele de um galã nada certinho. O ator chegou até a implantar um dente de ouro para dar verossimilhança ao rústico Pedro. É bom lembrar que os protagonistas tinham um objetivo claro no início da série. Eles se comprometiam a levar cargas pesadas pelos quatro cantos do Brasil porque precisavam pagar as parcelas do caminhão comprado em sociedade. Na época, a Scania patrocinou os 26 primeiros episódios.

Assim como o caminhão atual, o Titan, que é indicado para viagens de, no máximo, 600 quilômetros, os atores principais também revelam falta de fôlego para as cenas em que colocam o corpo em ação. No episódio Companheiros, em que Pedro e Bino desceram dois andares escalando as paredes do prédio de uma delegacia, o resultado foi cômico. O mesmo acontece nas cenas em que Fagundes, aos 54 anos e com uma barriga em visível expansão, insiste em partir para a briga.

Na verdade, os melhores momentos dos repaginados Pedro e Bino foram os em que seus intérpretes tiveram de mostrar mais emoção e menos suor. Nessas ocasiões o personagem Pedrinho aparece e Wagner Moura não tem desperdiçado cenas no seriado. O ator, que vive o filho de Bino, se destaca ao lado de Fagundes e Stênio e se mostra capaz de alçar vôos mais altos na televisão.

Pontos na carteira - Os protagonistas cometem gafes que infringem as mais básicas regras do trânsito. Eles aparecem sem cinto de segurança, fazem ultrapassagens com faixa contínua, param em locais sem acostamento e estacionam o caminhão em esquina. Devem ter centenas de pontos na carteira.

Fagundes também escreveu um episódio em que apresentou uma versão para o apelido de seu personagem, o Pedro da Boléia. A explicação criada pelo ator-autor foi a de que Pedro teria sido deixado na boléia de um caminhão, e o dono do veículo, ao achar o bebê, decidiu criá-lo. Um balde de água fria para quem pensava que o apelido referia-se à alcova do saliente lobo da estrada. No entanto, ainda é preferível que a Globo invista em um irregular mas brasileiríssimo Carga Pesada do que na quarta edição do Big Brother, que é bom de audiência, mas paupérrimo de conteúdo.




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