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Tuberculose, curável, ainda mata
Sérgio Saraiva
Da Redaçao
25/03/2000 | 18:32
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Perfeitamente curável e de tratamento barato. Mesmo assim, a tuberculose está matando cada vez mais no Brasil. No Estado de Sao Paulo, o número de vítimas fatais - 1,5 mil em 1999 - está subindo, embora a quantidade anual de novos casos diagnosticados permaneça estável em torno de 18,5 mil. No Grande ABC, a média se mantém em torno de 1 mil casos registrados por ano.

A doença, que figurou como letal e incurável até meados deste século, foi classificada pela OMS (Organizaçao Mundial da Saúde) como "emergente" na década de 90, quando voltou a crescer por conta do aumento da miséria das populaçoes e pelo surgimento da Aids. O Brasil é o quarto país em incidência, com cerca de 90 mil casos notificados por ano (com 6 mil mortes). Para o Ministério da Saúde, esse número deve subir a 130 mil por conta dos casos nao comunicados.

De acordo com a coordenadora da Divisao de Tuberculose (TB) da Secretaria de Estado da Saúde, a médica epidemiologista Vera Galesi, o aumento no número de mortes - 10% entre 1980 e 1999 - está diretamente ligado ao grande número de abandonos de tratamento. A interrupçao, além de aumentar a mortalidade, cria uma bactéria (bacilo de Koch) resistente aos antibióticos.

"Os pacientes sentem uma melhora muito grande nos primeiros dois meses e deixam de tomar o remédio nos quatro meses restantes", explicou Vera. Depois de passar um período latente, o bacilo volta a se reproduzir, causando a tuberculose resistente. O tratamento - gratuito para o paciente - demora seis meses e custa cerca de R$ 75 para o governo.

O custo do tratamento contra o bacilo resistente se eleva cerca de R$ 3 mil, exigindo mais de um ano de medicaçao contínua, com outros antibióticos. O resultado mais perverso dessa situaçao, segundo Vera, é quando o portador contamina outras pessoas com o bacilo mais forte, capaz de matar em pouco tempo.

Supervisao - A melhor estratégia de combate à doença, de acordo com a OMS, é a medicaçao assistida ou supervisionada, que já vem sendo aplicada com sucesso no Brasil. Em Santo André, segundo a coordenadora do programa de tuberculose, Dora Bergantini, a prática foi suficiente para baixar a taxa de abandono de 15% - média do Estado - para 4%.

A medicaçao supervisionada conta com duas estratégias e exige criatividade. Segundo Dora, quando nao há garantia de que o paciente-problema vá todos os dias ao posto de saúde para tomar o medicamento - ganhando com isso um lanche e até vale-transporte -, é necessário levar o remédio na sua casa. Nos dois casos, as seis cápsulas devem ser ingeridas na frente do agente de saúde.

O esforço para garantir a continuidade na medicaçao no cotidiano dos agentes chega às raias do surreal. Em alguns casos, em áreas mais pobres, o remédio é administrado pelo dono do bar: o paciente renitente - os piores sao os alcoólatras - só vai poder comprar a bebida se ingerir o remédio. Em outros casos, a funçao é cumprida por um padrinho (pessoa respeitada pelo paciente).

Esse trabalho cotidiano ganhou muito impulso com a implementaçao dos projetos Médicos de Família e Agentes Comunitários de Saúde pelo Ministério da Saúde. Diadema, Sao Bernardo, Santo André e Mauá desenvolvem esses programas, em diferentes estágios de implementaçao, e estao conseguindo resultados notáveis no combate à doença. O ministério paga aos municípios um bônus de R$ 150 por cada paciente curado.

O que é tuberculose?

Doença infecciosa, transmissível, causada pelo bacilo de Koch. Pode atingir todos os órgaos, mas ataca preferencialmente o pulmao.

Agravantes
- A doença está associada à pobreza, às más condiçoes de moradia e à desnutriçao.

Prevençao
- Todas as crianças devem ser vacinadas com a BCG intradérmica a partir do nascimento.

Transmissao
- Quando o portador de tuberculose no pulmao tosse, espirra ou fala, os bacilos sao lançados no ar e podem atingir outras pessoas, contaminando seus pulmoes via respiraçao.

- Nem todas as pessoas adoecem quando sao contaminadas. Isso depende das defesas do organismo de cada um.

É falso...
- ...que a doença é transmitida por utensílios como copos, pratos ou talheres usados por um portador.

Sintomas
- Tosse persistente (por mais de uma semana), emagrecimento, dor no peito, suores noturnos, falta de apetite, cansaço fácil e febre baixa, geralmente à tarde.

Existe cura?
- O tratamento de seis meses pode curar todos os casos e é gratuito.

Perigo
- Interromper o tratamento antes da hora cria um bacilo resistente aos remédios, agravando a doença.




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