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Oferta de cinema segue na contramão
Luís Felipe Soares
Do Diário do Grande ABC
24/01/2010 | 07:04
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Thales Stadler/DGABC


As novidades cinematográficas do Grande ABC sempre circulam em torno das grandes produções de Hollywood. Mas outra vertente da indústria, conhecida como ‘cinema de arte', segue sem ser explorada pelas salas locais. A região está recheada de blockbusters e deixa de lado produções mais artísticas.

"As salas da região tem um perfil mais comercial", explica Jairo Nogueira, gerente de programação da Califórnia Filmes, distribuidora que iniciou suas atividades em São Bernardo. "O problema não é que (o filme) não entra, mas o ponto é que o espaço não se adequa para recebê-lo ou não o quer em sua programação."

Trabalhando com produções de pequeno e médio porte, ele explica que seus clientes chegam apenas à poucas salas e que há um trabalho específico de seu direcionamento. "Os nossos filmes têm um público específico e não atrai milhares de pessoas. Isso dificulta colocá-los em diversos cinemas. A prioridade são os filmes grandes."

Além da preferência dos cinemas das sete cidades por trazerem as principais novidades, um dos problemas da falta de espaço do cinema de arte é a pouca divulgação. Segundo Nogueira, "o filme precisa ter um certo pedigree para atrair as pessoas. Como não há grande publicidade em cima, o projeto precisa ser bom para chamar a atenção".

Ele cita o caso do longa Anticristo, do diretor Lars Von Trier, que chegou ao Brasil em 2009 com o slogan de ‘O filme mais polêmico do ano'. Sua boa performance em premiações, como a indicação à Palma de Ouro e o prêmio de melhor atriz para Charlotte Gainsbourg no Festival de Cannes, o forte roteiro fizeram dele a maior atração do gênero na última temporada.

Uma das alternativas para aumentar a chegada dos filmes de arte à região seria a existência de um local especial para as exibições. "Haveria uma demanda maior se houvesse um lugar específico. É preciso que alguém tenha coragem para abrir um cinema assim. Como todo negócio, é complicado", diz.

A não existência de um ponto dedicado a esse tipo de curtas e longa metragens nos torna um centro sem interesse nesse assunto. "O Grande ABC não tem esse tipo de consumo. Não é um costume nosso. Falta um pouco de hábito, principalmente na falta de opções locais", comenta Claudia Monteiro, de São Caetano.

Na espera de os cinemas da região abram espaço para esse gênero de filmes ou alguém corajoso o bastante abra um espaço especial, o público continuará deixando seus pontos mais familiares para ir até as salas da Capital.

São Caetano aposta em formação de público

A programação destinada a filmes de arte encontra pequeno espaço na região. Em São Caetano, o projeto Férias Com Arte traz a partir de amanhã seleção especial voltada a celebrar importante produções cinematográficas relacionadas ao mundo artístico. As sessões ocorrem até sexta, às 19h30, na Pinacoteca Municipal (Avenida Dr. Augusto de Toledo, 255. Tel.: 4232-1237).

Esses eventos pontuais são importantes para apresentar tais filmes para quem não os conhece. "Trabalhamos com a questão da formação de público, para ver se as pessoas pegam mais gosto pelo gênero. Temos que criar esse público e acostumá-lo", afirma Claudia Monteiro, organizadora das exibições. "Quando você começa a consumir, vira hábito. Como ler um livro."

Ela comenta que a falta de costume se deve a não existência de datas para esse tipo de sessões. "É importante ter um calendário e manter uma sequência. Queremos armar para a última semana de janeiro do ano que vem uma nova edição", diz Claudia, que comenta se desistimular quando precisa ir até São Paulo para assistir certas produções.

Carlos Gomes aguarda definição

Um dos poucos locais que abrigavam programação de arte no Grande ABC foi o Cine Teatro Carlos Gomes, no Centro de Santo André. Criado em 1912 e tombado oitenta anos depois, é o mais antigo cinema da região.

O espaço está fechado desde janeiro do ano passado, quando a Prefeitura o interditou devido o prédio não apresentar segurança para qualquer tipo de atividade. Segundo os técnicos especialistas, ele apresentava rachaduras nas paredes, cupins e falta de saídas de emergência necessárias.

Um ano depois, o Cine Teatro continua com suas portas fechadas e aguarda apoio para poder ser reativado. O secretário de Cultura, Esporte e Lazer de Santo André, Edson Salvo Melo, afirmou que o projeto de adequação do espaço existe e que apenas aguarda a disponibilidade de algum órgão público ou privado para ajudar financeiramente. Não há data definitiva para a resolução do caso.




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