Cultura & Lazer Titulo
Sr. best seller, adeus
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
31/01/2007 | 20:34
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Quem leu um livro de Sidney Sheldon (1917-2007) leu todos os 25 que o autor norte-americano lançou, 18 deles no topo da lista dos mais vendidos. Por isso seu nome tornou-se um ícone que aparece nas capas em letras maiores que as dos títulos. Virou grife que vendeu 300 milhões de cópias em 180 países em 51 idiomas, o autor mais traduzido, segundo o Livro dos Recordes.

Morto em Los Angeles na noite de terça-feira, aos 89 anos, por complicações decorrentes de pneumonia, quase às vésperas de completar 90 no próximo dia 11, Sheldon era o escritor norte-americano mais produtivo. Começou a escrever livros com 52 anos – fazia poemas desde os 10 e chegou a Hollywood com 17 anos. Seu último livro saiu há dois anos, O Outro Lado de Mim (Record, 378 págs., R$ 39 em média), memórias sobre suas experiências entre celebridades do espetáculo e detalhes de sua infância em Chicago, filho de um casal judeu – pai alemão e mãe russa.

Nunca teve críticas literárias positivas, nem o primeiro filme adaptado de uma obra sua emplacou. O Outro Lado da Meia-noite (1977), com Susan Sarandon, fracassou nas salas de exibição e nos comentários. As demais adaptações não tiveram sorte diferente.

Na época, Sheldon já era um criador de obras tipo arrasa-quarteirão com heroínas fortes exalando feminilidade em meio a intrigas de sexo, herança e cobiça em ambientes tipo classe A, onde maus são reconhecidos como tal e sabe-se exatamente para quem torcer. A fórmula era a mesma dos antigos seriados de cinema: capítulos conduzidos até o final em suspense, cuja solução está no capítulo seguinte, que inicia um novo clímax e assim sucessivamente. Sheldon se esbaldava na repetição de temas, embora com nomes, lugares e intrigas distintas.

O fenômeno best seller começou quando ele colocou ponto final na carreira de roteirista de TV em 1969. Até então, sua primeira fase no showbiz foi em Hollywood, colaborando em roteiros de produções baratas e filmes seriados a partir de 1937. Depois da Segunda Guerra, passou pelos palcos da Broadway onde escrevia peças musicais, mas manteve uma ligação estreita com Hollywood. Ganhou um Oscar de roteiro por O Solteirão Cobiçado (1947), comédia com Cary Grant.

A televisão era um veículo promissor em 1963, quando começou a escrever para a série The Patty Duke Show (1963). Achou sua praia. E foi a partir de uma garrafa trazida pelo mar com curvilíneo conteúdo e encontrada por um astronauta numa praia que o nome Sheldon brilhou por conta própria. Ele criou, produziu e escreveu Jeannie É um Gênio entre 1965 e 1970.

Ao encerrar a série, percebeu que iria mais longe sozinho, sem as colaborações a que cinema e televisão obrigam os autores. Iniciou com A Outra Face (1970) a carreira que seria a mais longeva. Voltou a colaborar com cinema em adaptações de obras suas. Sobretudo na televisão, que aproveitou bastante seus temas em minisséries e telefilmes. Em 1979, escreveu roteiros para a série Casal 20.

Sheldon não se pautava pela autenticidade – dizia que escrevia exatamente aquilo que vivenciava; se falava sobre um jantar na Indonésia era porque tinha estado lá, por exemplo. Não se preocupou em expressar contextos, ausências constantes em sua obra. Optou pela inventividade, que não significa sempre imaginação, em um universo de formas e conteúdos constantes, no qual heroínas vencem sempre. É isso que seus leitores e leitoras, em maioria, esperam. E quando há uma expectativa prévia sobre determinada obra há duas atitudes que os autores podem tomar: atendê-la, e com isso atingir objetivos comerciais, mantendo-se reconhecido; ou impressionar, arriscando-se inovar. Sheldon ficava invariavelmente com a primeira, como digno operário de uma indústria cultural que cria ícones e lança produtos sem funções social ou estética.

As obras

Romances:
1970 A Outra Face

1973 O Outro Lado da Meia-noite

1976 Um Estranho no Espelho

1977 A Herdeira

1980 A Ira dos Anjos

1982 O Reverso da Medalha

1985 Se Houver Amanhã

1987 Um Capricho dos Deuses

1988 As Areias do Tempo

1990 Lembranças da Meia-noite

1991 Juízo Final

1992 Escrito nas Estrelas

1994 Nada Dura para Sempre

1995 O Ditador

1995 O Fantasma da Meia-noite

1995 Manhã, Tarde e Noite

1997 O Plano Perfeito

1998 Conte-me Seus Sonhos

2000 O Céu Está Caindo

2001 O Estrangulador

2004 Quem Tem Medo do Escuro?

Roteiros para TV:
1965 a 1970 Jeannie É um Gênio

1979 a 1984 Casal 20


Roteiros para cinema:
O Solteirão Cobiçado (The Bachelor and the Bobby-Soxer, 1947) Oscar de Melhor Roteiro

Livros infanto-juvenis

1994 A Perseguição

1994 Corrida pela Herança

1995 Os 12 Mandamentos

Livro de memórias:
2005 O Outro Lado de Mim



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