Setecidades Titulo
Pesquisador defende unificaçao da polícia
Sérgio Saraiva
Da Redaçao
12/06/1999 | 16:23
Compartilhar notícia


O grande pecado original da segurança pública do país é ter duas polícias radicalmente diferentes uma da outra, com normas, regras e conceitos operacionais diversos. A afirmaçao é do coronel da reserva José Vicente da Silva, 53 anos, titular da Coordenadoria de Polícia da Secretaria de Segurança Pública entre 1995 e 1997.

Atualmente, o oficial é um dos pesquisadores do Instituto Fernad Braudel, especializado na área de segurança. Para ele, a polícia civil nao cumpre sua funçao investigativa nem a militar o policiamento preventivo-ofensivo. "Apenas oneram duplamente a segurança pública porque têm tudo dobrado", afirma. "Nao é de estranhar que o rendimento das polícias tenha caído e que se tenha perdido o controle do crescimento da violência", argumenta o especialista. Segundo ele, há um desencanto com a base do trabalho policial, que sao o policiamento territorial, o Distrito e a Companhia, pequenas estruturas capazes de sustentar a segurança pública.

Para o policial militar, o desencanto começou também com o incentivo perverso de só dar estímulo, prestígio e melhor salário para quem fica o mais longe possível do policiamento. Muitos policiais, segundo ele, fazem toda a sua carreira longe das unidades básicas. "Ir para as ruas virou uma fonte de desprestígio, de puniçao, de dor de cabeça constante, de envolvimento com insubordinados e superiores que nao compreendem a situaçao", afirma.

"Como compensaçao, criaram-se estruturas repressivas: temos até hoje uma enorme unidade de choque (mais de 3 mil integrantes) com estrutura e cultura herdadas dos governos militares, e vários grupos especializados como Rota, Garra e Goe, dos quais nao é possível cobrar resultados, pois eles nao sao responsáveis por nenhuma área", explica o coronel.

De acordo com Silva Filho, com tais problemas, a atual estrutura policial nao foi capaz de melhorar sua atuaçao mesmo após as medidas tomadas pelo primeiro governo de Mário Covas, quando os salários foram dobrados, 8 mil policiais novos contratados e adquiridas viaturas, armas e equipamentos novos.

Silva Filho atribui parte da desorganizaçao da Polícia Militar à orientaçao militar sem noçao de policiamento. Essa orientaçao se deu na direçao estratégica de operar estritamente de forma reativa: o policial é lançado na rua aguardando que algum crime seja cometido para depois se mobilizar. Enquanto isso, na delegacia, o delegado espera chegar o PM ou uma vítima com a ocorrência.

A postura crítica do coronel nao poupa sequer as abordagens sociais para a atual insegurança pública. "A polícia desanimou tanto que agora inventou desculpas novas. Antes era salário, viatura e efetivo. Agora é falta de investimentos sociais, desemprego, crise econômica. Esse tipo de análise nao tem a menor serventia para a polícia".

Para ele, desde a criaçao da polícia, no Século 18, sua funçao sempre foi compensar os desequilíbrios psicológicos dos indivíduos e as dificuldades sociais. "A funçao sempre foi conter isso. Enquanto se dá essa desculpa, o número de assaltos aumenta em 80%".




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;