O fiasco de Xuxa no Mundo da Imaginação poderia representar um alento para a concorrência. Porém, tanto o Bom Dia & Cia, do SBT, quanto a Fábrica Maluca, da Record, não demonstraram ter fôlego para absorver os insatisfeitos com o programa de Xuxa. Na emissora de Silvio Santos, Jackeline Petkovic chegou à liderança das manhãs em meados de abril, quando registrou picos de nove pontos de audiência, mas logo recuou. A causa pode estar na mudança de rumos do programa. A direção do SBT abandonou o formato que consagrou Eliana como apresentadora e que vinha rendendo bons frutos para a Jackeline. Acabaram os quadros que incentivavam as crianças a exercer atividades motoras, por meio de pintura, artesanato e, até mesmo, o básico cortar e colar. A entediada lourinha, agora, limita-se a anunciar os desenhos animados e anunciar os produtos dos patrocinadores.
Já a Fábrica Maluca insiste na mais que ultrapassada fórmula de programa de auditório com brincadeiras e competições entre meninos e meninas. Eliana é uma apresentadora simpática e o jeitinho pueril encanta as crianças e agrada aos pais. Acontece que não é o bastante para manter o interesse dos pequeninos em uma atração que sequer utiliza desenhos e seriados como atrativo.
As rivais não roubaram os baixinhos da Xuxa, mas a audiência do programa caiu. Após cerca de duas décadas sendo uma garota-propaganda dela mesma e de uma série de produtos relacionados a sua imagem, a apresentadora apostou suas fichas em um programa com um perfil educacional. O estranhamento foi imediato, já que a Xuxa foi muitas vezes apontada como uma das responsáveis pelo comportamento materialista e alienado da geração que cresceu assistindo ao Xou da Xuxa.
Em Xuxa no Mundo da Imaginação predominam quadros pretensamente instrutivos ou com mensagens que pregam valores positivos – como aceitar as diferenças, respeitar os mais velhos, preservar a natureza etc. O programa não tem qualquer traço de originalidade e revela uma forte influência do estilo Teletubbies de ensinar às crianças. Contudo, a atração caiu nas graças de grande parte dos educadores, pediatras e terapeutas infantis do país. Se a maneira de se comunicar com as crianças pode ser discutível, a proposta apresentada é, no mínimo, defensável.
Além da imagem de Xuxa, o programa tem problemas que, de certa forma, correspondem aos seus próprios méritos. O formato limita o público-alvo com uma linguagem adequada para crianças com idades até 6 anos, no máximo. Justo uma faixa etária que, normalmente, necessita da presença dos pais ou de um responsável na frente da TV. Outro ponto é a interpretação negativa que certos quadros recebem por parte do público. O exemplo mais evidente é o da rejeição à bruxa Keka, um dos tipos preferidos das crianças, mas que desagradou aos pais. A alegação é que o comportamento mal-educado da bruxa (ela come meleca, arrota etc) seria um exemplo negativo para os filhos. Porém, a personagem vivida pela apresentadora foi elaborada com a ajuda de pedagogos e psicólogos, baseada na idéia que as crianças se espelham em personagens “do bem”, como fadas, príncipes, super-heróis. Assim, os hábitos da Keka seriam uma maneira de ensinar o que não deve ser feito. Didaticamente polêmico, sem dúvida.
O malogro momentâneo dos infantis, portanto, não pode ser explicado com um argumento único, pois cada um deles apresenta características distintas. A coincidência está na concentração dos problemas no formato dos próprios programas. As três lourinhas parecem sentir a dificuldade que é ter de agradar ao mesmo tempo crianças, pais, patrões e patrocinadores.
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