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1994 Uma cronista bem-humorada. Paola Porto cobriu a eleição. Uma revelação de Bepo Moratti
Ademir Medici
Do Diário do Grande ABC
30/06/2021 | 05:17
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Naquele tempo, não havia a facilidade de comunicação de hoje, com as redes sociais e companhia. O fax (lembram?) era um luxo que substituía o telex (lembram?). Paola Porto, trazida ao jornal por seu admirador Bepo Moratti – um oriundi com sotaque da Mooca –, apresentou-se na Redação e fez um sucesso incrível.

Nesta série sobre as eleições, esbarramos com Paola na cobertura de 1994. E destacamos a crônica de hoje, que segue a numeração iniciada quando da apresentação, neste espaço, das eleições de... 1892! Fala Paola.

Um governo odara

Texto: Paola Porto

691 – JK era o presidente bossa-nova. Fernando Henrique Cardoso vai ser o presidente novo-baiano. Na primeira entrevista dele como presidente virtual, citou Caetano. FHC prepara um governo odara, onde vai ser tudo joia rara.

692 – Já dá para imaginar o dia da posse. FHC de terno, gravata e chinelos, emprestados pelo Jorge Amado. Na cabeça, uma bandana verde-amarela. No pulso, fitinha de Nosso Senhor do Bonfim, para dar sorte. No fundo do salão, ACM todo de branco e fumando charuto. Estilo: Zumzifiu.

693 – O discurso de posse terá inspiração universitária: “mezzo” biblioteca, “mezzo” música de bar de diretório acadêmico.

694 – FHC vai citar Weber e Gilberto Gil, Tocqueville e Jorge Ben Jor. Vai lembrar todos os homenageados por Milton Nascimento que, por uma estranha e macabra coincidência, bateram as botas. Por ordem: Teotônio Vilela, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães e Viver Phoenix.

695 – Na reunião com aquele pessoal mal-humorado do FMI, FHC vai servir no almoço acarajé e vatapá e suco de acerola. Os banqueiros ficarão corados, como camarão vendido nas ladeiras de Salvador.

696 – Na era FHC, os termos tertúlia e sarau voltarão à moda.

697 – Sociólogos deixarão de ser uma espécie em extinção e passarão a ser “in”. Os tucanos (os pássaros) serão uma espécie em extinção, porque todo prefeito do Interior vai dar um de presente para o Grande Tucano.

698 – A cerimônia da descida da rampa voltará com mais brilho e pompa. Toda quarta-feira, FHC vai sambar pela rampa com uma ala de baianas, ao som de Olodum. Dragões da Independência escorregarão nas cascas de banana, que as baianas vão atirar para os turistas.

699 – Serão anos “light”, barulhentos e festivos como um trem-elétrico. Quem se sacudir, verá.

700 – Nota – Ei, Paola Porto, onde está você? Apareça. Informe por onde anda o Beppo.




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