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Três filmes brasileiros sao selecionados para Cannes
Do Diário do Grande ABC
18/04/2000 | 15:47
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Inimigos do cinema brasileiro, tremei: sempre dispostos a aviltar a produçao cinematográfica do país, eles sofrem agora um sério revés. O Festival de Cannes, o mais importante do mundo, divulgou nesta terça-feira a seleçao oficial da 53ª mostra, que ocorre em maio. Três filmes brasileiros participam do evento. "Estorvo", de Ruy Guerra, baseado no livro de Chico Buarque de Hollanda, concorre à Palma de Ouro; "Eu, Tu, Eles", de Andrucha Waddington, está na mostra "Un Certain Regard"; e a animaçao "De Janela pro Cinema", de Quiá Rodrigues, concorre à Palma de Ouro do curta-metragem.

Todos estao eufóricos. Os discursos parecem ter sido preparados em conjunto. Avaliando a importância de se ter três filmes em Cannes, dois em competiçao, Ruy Guerra diz que isso confirma a vitalidade técnica e artística do cinema brasileiro atual e vem coroar uma década em que o cinema do país partiu do zero (a era Collor) para recomeçar de novo. No seu caso específico, ele já é um veterano de Cannes. Participou duas vezes da competiçao (a última, com Kuarup, em 1989), integrou várias vezes as mostras paralelas. "O bom é estar de volta com um filme que nao segue a proposta do mainstream e busca alternativas de linguagem", diz Guerra.

Ele observa que "ninguém inventa nada e, menos ainda no cinema", mas destaca que a fuga à linguagem tradicional era uma contingência do próprio livro, que joga com o tempo, passado presente e imaginaçao. "Tudo isso está no filme, numa linguagem aberta", diz o diretor. Waddington também vê na participaçao brasileira em Cannes este ano um atestado de maturidade do cinema brasileiro. No caso dele, acha maravilhoso que, em seu segundo filme (o primeiro é Gêmeas, baseado em Nélson Rodrigues, em cartaz na cidade), já esteja integrando a mostra oficial.

Como ele faz questao de dizer, nao se envergonha de "Gêmeas", mas foi seu filme de aprendizado, seu vestibular de cinema. Tudo o que aprendeu com "Gêmeas" ele acredita ter colocado em prática, e bem, em "Eu, Tu, Eles", com Regina Casé e Lima Duarte. Quiá é outro que nao cabe em si de contente. Demorou quatro anos para concluir "De Janela pro Cinema", uma animaçao "artesanal", como define. O filme foi feito com pouco dinheiro e muito apoio, propondo, em 14 minutos, uma homenagem ao cinema por meio da citaçao a 60 filmes.

"Sao cenas, personagens, objetos; um dos baratos do filme é que os cinéfilos ficam tentando identificar o quem é quem; é divertido e estimulante", explica. Para ele, mais que uma honra, ir a Cannes é a concretizaçao de um sonho. Quiá aprendeu a fazer animaçao com Marcos Magalhaes. Ele segue agora os passos do mestre, que já disputou (e ganhou) a Palma de Ouro dos curtas com "Meow".

Selecionados - A seleçao oficial, com os filmes concorrentes, aponta para um curioso mix: nove europeus, quatro americanos, nove asiáticos e do Oriente Médio e um íbero-americano. Veteranos do festival, como o dinamarquês Lars Von Trier, o inglês Ken Loach e o americano Joel Coen, vao competir com novos talentos, incluindo o mais jovem diretor que já concorreu à Palma, nestes 53 anos de festival - uma diretora. Von Trier concorre com "Dancer in the Dark", seu novo filme com Catherine Deneuve e Bjork. Ken Loach, com seu filme rodado nos EUA, "Bread and Roses". E Joel Coen, com "O Brothers, Where Are Thou", com George Clooney e Holly Hunter.

A polêmica já está garantida por outro veterano de Cannes, o japonês Nagisa Oshima, que este ano concorre com "Taboo", interpretado por Takeshi Kitano e que trata do homossexualismo entre samurais. A iraniana Samira Makhmalbaf, de 20 anos, é a mais jovem diretora a competir no festival. Ela concorre com "Tkhaté Siah (O Ultimo Filme).

A lista dos concorrentes ainda inclui: "Nurse Betty", de Neil Labute, dos EUA, "The Golden Bowl", de James Ivory, dos EUA/Inglaterra, "Guizi Lai Le", de Jiang Wen, da China, "Yi Yi", de Edward Yang, de Taiwan, "Fast Food, Fast Woen", de Amos Kollek, e "Kippur", de Amos Gitai, de Israel, "La Noce", de Pavel Longuine, da Rússia, "Trolosa", de Liv Ullman e "Sanger Fran Andra Waningen", de Roy Andersson, da Suécia, "Eureka", de Aoyama Shinji, do Japao, "Chunhyang", de Tim Kwon Taek, de Taiwan, "Ohne Titel", de Wong Kar-wai, de Hong Kong, e quatro filmes franceses - "Esther Kahn", de Arnaud Desplechin, "Destins Sentimentaux", de Olivier Assayas, "Harry, L'Ami Qui Vous Veux du Bien", de Domick Moll, e "Code Inconu", co-produçao com a Austria, de Michael Haneke.

O filme de abertura é "Vatel", de Roland Joffe, da Inglaterra, e o encerramento, "Stardom", de Denys Arcand, do Canadá. O diretor francês Luc Besson, de "O Quinto Elemento" e "Joana d'Arc", será o presidente do júri.




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