Setecidades Titulo
Após tragédias, é salve-se quem puder
Andréia Meneguete
Do Diário do Grande ABC
14/01/2011 | 07:27
Compartilhar notícia


De um lado do mapa, uma cidade da região metropolitana do Estado de São Paulo inundada pelas águas do rio local. Do outro, uma na região serrana do Rio de Janeiro devastada por lama e pedras. Assim era o cenário de Franco da Rocha e Teresópolis ao longo das 24 horas de ontem.

O motivo? O grande volume de água decorrente das chuvas. A consequência? Um drama pessoal e ao mesmo tempo coletivo dos moradores que perderam tudo: família, casa, documentos e as perspectivas de um 2011 produtivo e com boas conquistas.

Henrique Cuba de Oliveira, 71 anos, morador da região central de Franco da Rocha, não podia conter as lágrimas diante da tragédia que acometeu a cidade na madrugada do dia 12.

"Paguei R$ 3.000 para colocarem uma comporta de ferro na entrada da minha farmácia. Depois de duas horas, as águas já alcançavam a altura de 1,50 m. Foi por pouco que não perdi tudo. Mas a minha irmã não teve a mesma sorte. Ela está sem casa, sem nada, e com duas filhas na rua", revela o farmacêutico, que se precaveu por causa da enchente de 1987, que o fez ter prejuízo com diversos medicamentos e instalações que foram danificados pela chuva.

"Agora, é salve-se quem puder. Não há quem esteja aqui para nos defender ou ajudar", lamenta Oliveira.

De acordo com o ex-vereador petista e candidato a prefeito nas últimas eleições municipais em Franco da Rocha, Francisco Daniel Celeguim, o Kiko, a enchente que aconteceu na cidade não foi pela quantidade de chuva no local, mas sim pelo fato de a Represa Paiva Castro não conseguir comportar o volume de água que vem dos afluentes do Rio Juqueri.

"Há dez anos existe um projeto de ordem estadual que prevê a construção de cerca de 40 represas próximas à cidade. Entretanto, somente uma saiu do papel", indica Kiko.

O horror não fica somente para quem convive embaixo de água, mas também para aqueles que desejam ultrapassar os obstáculos para trabalhar, como a falta de transporte.

A recepcionista Maria Aparecida Santos, 53, teve que fazer um caminho alternativo com a ajuda do filho para chegar até a empresa que trabalha na Barra Funda, região Oeste da Capital.

"É sempre a mesma coisa. Sinto que é uma cidade esquecida por todos, que só é assunto quando acontece desgraça. Está na hora de alguém olhar para nós e não fingir que é uma terra de ninguém", desabafa a moradora. 

Teresópolis ainda tem 300 pessoas desaparecidas

A situação ganha tom ainda mais alarmante na cidade de Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, que até o fechamento desta edição apontava cerca de 170 mortos e 300 desaparecidos entre os 15 pontos de deslizamentos.

A cidade fluminense, que só tem uma delegacia e um Instituto Médico-Legal, com capacidade para realizar no máximo dez autópsias por dia, está trabalhando em esquema emergencial para fazer o reconhecimento dos corpos e necropsias dentro do Laboratório Médico da Unifeso, de acordo com Rosane Rodrigues Costa, diretora-geral do Hospital das Clínicas de Teresópolis Costantino Ottaviano.

"Já atendemos 140 vítimas, sendo que desse número 40 pessoas foram operadas e três morreram. A maioria é adulto", indica a profissional, que desde o início da tragédia coordena o atendimento médico dos feridos.

Rosane afirma ainda que a população está em estado de solidariedade e trauma profundo.

"As pessoas não conseguem pensar no futuro, só desejam encontrar os parentes e ajudar quem precisa de alguma assistência emocional ou material", salienta.

"Ajudei um homem que foi arrastado pelos barrancos por 500 metros enquanto dormia em sua casa. Ele chegou ao hospital somente com arranhões. Foi aí que percebi que houve a mão de Deus", revela, emocionado, o andreense Diogo Oliveira, 25 anos, estudante de medicina do Unifeso (Centro Universitário da Serra dos Órgãos), localizado na cidade de Teresópolis.

No fim da tarde de ontem, o Corpo de Bombeiros continuava na busca por mais sobreviventes entre os destroços causados pelas chuvas desta última semana.

De acordo com as informações divulgadas pela Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro, a demora no resgate e acesso às áreas justifica-se pelos diferentes pontos atingidos.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;