Qual o morador do Grande ABC que nunca freqüentou ou ouviu falar da rota do frango com polenta? Do bar do bolinho? Do baile do Icaraí? Da feijoada e do caldo de mocotó do Zelão? Todos são tradição na região e pontos de referência para várias gerações da mesma família. Pegar água em bicas, visitar o parque Celso Daniel (antigos clube da GE e Duque de Caxias) e o Jardim Japonês (hoje Praça dos Meninos), comer na Pizzaria do Gino, freqüentar a Sauna Jóia ou tomar café e jogar conversa fora na padaria Veridiana são outros hábitos cultivados pela população local. Famosos e reconhecidos, os endereços atraem também os moradores de São Paulo.

“A gente vem aqui desde 1951, pelo menos uma vez por mês”, disse o patriarca da família Laefort, de São Bernardo, Antônio Laefort Filho, 75 anos, enquanto almoçava no restaurante São Judas (na rota do frango com polenta) com a mulher Maria, 73, os filhos, nora e genro. “Na época, era só frango com polenta. Nossos filhos cresceram aqui e quando a gente não vem a semana parece mais comprida.”

Também passa de pai para filho a mania de comer feijoada e tomar caldo de mocotó no Zelão, também em São Bernardo. “Quando eu tinha 18 anos já vinha com o meu pai. Na época era na Faria Lima. Hoje, o Zelão é a referência gastronômica para mim e para minha mulher”, disse o empresário Evandro José dos Santos, 38 anos. Seu filho Júnior, 3, experimentou o caldo pela primeira vez aos 8 meses.

Na mesma cidade, a receita secreta do bolinho de carne do Bar do Bolinho faz sucesso e só ganha adeptos. Simples, porém movimentadíssimo – o proprietário não revela quantas unidades comercializa por dia –, o bar que fica na rua Brasílio Machado virou passagem obrigatória. A massa recheada com a carne bem temperada é degustada de forma curiosa: dentro de um pãozinho francês. “Se estou por perto, tenho de parar e comer”, disse o analista de informática Gustavo Campos, 29 anos, há 13 freqüentador da casa.

Na rua Municipal, existem outros dois points: a padaria Veridiana e a Pizzaria do Gino. A padaria é o espaço escolhido para os encontros diários de um verdadeiro Clube do Bolinha. Há pelo menos dez anos, 25 empresários da cidade se reúnem três vezes por dia para “fofocar”.

Na pizzaria, as lembranças dos 28 anos de história estão estampadas nas paredes. Quem cresceu e envelheceu freqüentando a casa tem sua foto colada. Por mês, a Pizzaria do Gino vende em média 3 mil pizzas. As de maior saída também têm história. Os sabores à moda do Gino, lombo assado com alcaparras e o enroladinho foram criadas por Gino. Na casa, são poucos os clientes que não se conhecem. “A gente continua trazendo o cesto de bebê. O que mudou é que agora ele é usado pelos netos”, disse o aposentado Ercole Petrella, 56 anos, cliente desde a primeira noite da pizzaria.

Fora da gastronomia, existe a tradicional Sauna Jóia, em Santo André. “Venho aqui há mais de 20 anos. Meus amigos estão aqui”, disse o diretor de consultoria Sérgio Assis, 44 anos. Única do segmento na região, a casa de 25 anos funciona como um minispa masculino e há dois anos é administrada por um ex-freqüentador e seu filho. “Têm dias em que recebemos três gerações da mesma família.”

Mais recente, desde 1992, e também mania na região, são as noites de baile do Icaraí, em Santo André. Pais e filhos se revezam na pista de dança. “Venho com meu pai todas às quintas-feiras desde que tinha 12 anos”, disse David da Silva, 23 anos. Além de pai e filho, a irmã Shalena, 21, é figura carimbada nos bailes do Icaraí. “Não troco essa tradição por nada.” Atualmente, o rapaz está casado, tem um filho de 3 anos e na próxima semana será pai pela segunda vez. “Não vejo a hora de os meus filhos participarem conosco.”