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Novo cinema quebra paradigma
27/08/2010 | 07:06
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O filme 5x Favela - Agora por Nós Mesmos, que estreia hoje com uma cópia na região, marca uma mudança de paradigma. Trata de não esconder, mas explicitar seu contraste com aquele clássico do Cinema Novo, de 1962, que subiu o morro em busca de contradições sociais numa época que se julgava pré-revolucionária.

Quem então filmava os favelados eram jovens de classe média, brancos, que se outorgavam a missão de ‘conscientizar' o povo das condições de alienação e exploração (assim se falava) a que ele estava submetido. De lá para cá, muita coisa mudou.

As chamadas ‘utopias', entre as quais a da revolução social, faliram e o intelectual de esquerda perdeu sua posição de guia das massas ignaras. Outra coisa: a distância entre centro e periferia encurtou. O morro desceu ao asfalto e esse movimento gerou um recrudescimento do preconceito, baseado no temor e no sentimento de exclusivismo típico da classe média brasileira.

Esse processo de emancipação produziu, por outro lado, um olhar de si mesmo que tem em filmes como 5x Favela sua expressão melhor. A periferia já não precisa do olhar estranho, ainda que benevolente, para representá-la na tela, pois produz a sua própria imagem.

Visto em conjunto, o longa é radical inversão de perspectiva. Sendo filme de episódios, é inevitável que uns sejam mais bem resolvidos que outros.

O que fica para o espectador não é o efeito de curtas vistos em sequência, mas uma impressão de conjunto. E esta é francamente positiva porque é superior à mera soma das partes. O projeto emerge de um trabalho coletivo, de mais de duas centenas de moradores de comunidades carentes do Rio. Cacá Diegues, um dos diretores do filme de 1962, é o produtor do 5x Favela atual, com a mulher, Renata Magalhães. O ato de passar o bastão é, mais uma vez, altamente simbólico. Novo cinema, para um novo tempo.




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