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Crianças somem do terreno da Gerdau em Sto.André
Rita Norberto
Do Diário do Grande ABC
08/10/2003 | 21:07
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Depois da fiscalização do Conselho Tutelar de Santo André, as crianças sumiram do terreno da antiga Gerdau, na avenida dos Estados, em Santo André. Há dois meses, centenas de pessoas invadiram a área de 45 mil m² em busca de restos de metais (ferro, cobre e alumínio) para vender. Desde agosto, a área pertence a UniABC (Universidade do Grande ABC). Procurada pelo Diário nesta quarta-feira, a assessoria de imprensa da universidade afirmou que “a reitoria não iria se pronunciar sobre o assunto”.

Após receber denúncias da existência de trabalho infantil na área, os conselheiros estiveram no local na terça-feira e alertaram as famílias. Segundo a coordenadora do Conselho Tutelar de Santo André (Centro), Maria do Socorro da Silva, ao todo, dez crianças foram encontradas trabalhando, todas acompanhadas de adultos.

Nesta quarta-feira, segundo o Conselho Tutelar, nenhuma delas estava no terreno. “Não temos nada contra os adultos que trabalham lá, mas as crianças não podem estar ali trabalhando em horário escolar, correndo risco de se machucar”, disse. O conselho informou que vai continuar a fiscalização diariamente. Como existiam crianças de Mauá no terreno, o conselho de Santo André passou a informação ao conselho da cidade.

Mulheres – Nesta quarta-feira, a movimentação no terreno ainda era grande. Muitas pessoas moram em Mauá e chegam em grupos de perua. O ferro encontrado é vendido por R$ 0,18 o quilo.

Entre os garimpeiros, até mulheres enfrentam o trabalho pesado. Com frágeis 1m45 de altura e 33 kg, a cozinheira (aposentada por invalidez) Almira Mendes da Silva, 47 anos, era uma delas nesta quarta-feira. “É duro bater picareta. Mas preciso. Estou com um filho preso e tenho de cuidar de quatro netos”, disse ela, que veio do Jardim Ângela, zona Leste de São Paulo, acompanhada do irmão, José Maria Mendes, 47. Desde que chegou, diz que consegue tirar R$ 40 por dia.

Com quatro filhos pequenos, a dona de casa Miriam Maria da Silva, 30, também veio para o terreno. “Meu marido é marceneiro, mas está desempregado. Temos quatro filhos e tem dia que não temos o que comer”, disse. E foi graças ao dinheiro do garimpo que a dona de casa Élida Jorge Júlio, 45 anos, conseguiu pagar contas atrasadas de água e comprar alimentos. “Preciso ajudar, meu marido que ganha salário mínimo. Em casa, somos em oito”, disse.

Solução – Na terça-feira, o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) notificou a UniABC para que a universidade se pronuncie sobre a situação: explicando, por exemplo, se permitiu que as pessoas explorassem aquele solo. Nesta quarta-feira, o Semasa informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “houve contatos com a UniABC, mas, como não ficou nada oficialmente acertado, a companhia preferia ainda não se manifestar”. A UniABC informou que “não iria se pronunciar sobre o assunto”.




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