Otávio Lourenço Gambra, então soldado da 2ª Companhia do 24º Batalhão da PM (Polícia Militar) de Diadema, virou o rosto de uma atuação policial na madrugada do dia 7 de março de 1997 que terminou na morte do conferente Mário José Josino, aos 30 anos. Josino, que trabalhava em uma prestadora de serviços para a Ford e não tinha passagem policial, e dois amigos passaram pela favela Naval, voltando de um bar, quando foram abordados em blitz feita por nove integrantes da corporação.
Após ser agredido, o trio entrou no Volkswagen Gol rumo à saída da comunidade. Gambra empunhou a arma e disparou. Um dos tiros acertou a nuca de Josino, que estava no banco de trás. Ele não resistiu.
O Diário contou a história na edição do dia 8 de março de 1997, ainda sem todos os detalhes que viriam à tona semanas depois, com a exposição de uma gravação, feita por cinegrafista amador. No vídeo, os policiais, entre eles Gambra, aparecem agredindo outros moradores, com chutes e cassetetes. A imagem também capta a hora em que Gambra atira contra o carro onde estavam Josino e os amigos. A gravação rodou o mundo e colocou em xeque protocolos de atividade de policiais, em especial em favelas.
Questionado sobre o motivo que o fez atirar, Rambo (apelido que ele garante ter recebido somente depois do episódio) apenas diz que fez os disparos em advertência. “Não era minha intenção. Como eu já disse outra vez, acredito que não foi meu tiro que matou Josino, mas foi isso que ficou para a história”, disse. Até hoje, a família de Josino aguarda indenização por parte do governo do Estado.
Na entrevista exclusiva ao Diário, em um raro momento Gambra deixou escapar a emoção. Foi quando comentou sobre sua expulsão da PM e do sofrimento que causou para a própria família. “Todo o processo foi muito doloroso, minha primeira mulher pediu separação, fiquei sem emprego. Foi complicado. Mas eu mantenho a farda interna, essa ninguém vai tirar de mim”, declarou o candidato a vereador de Diadema.
O momento emotivo, porém, logo dá lugar a casos citados por Gambra por ser protagonista de um dos mais chocantes episódios da PM de São Paulo. “Nunca escondi nada da minha família, nem do meu filho mais novo (Alejandro, 12). Eles sabem de tudo. Um tempo atrás o próprio Alejandro me colocou em uma saia justa ao arranjar uma confusão na escola. Em certa altura ele disse aos amigos: ‘Você sabe quem é meu pai? Meu pai é o Rambo’”, disse Gambra, antes de soltar uma gargalhada.
Gambra foi quem pegou a pena mais pesada – inicialmente 65 anos de prisão. Ele diz que nunca mais teve contato com a família da vítima. Após a morte de Josino, governantes de Diadema passaram a adotar medidas para reduzir os índices de violência na cidade.
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