Cultura & Lazer Titulo
Zé do Caixão Experience
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
11/09/2006 | 21:10
Compartilhar notícia


Zé do Caixão já amou loucamente a namoradinha de um amigo seu. E nem se deu ao trabalho de procurar alguém que não tivesse ninguém, como fez Robertão. Insistiu na paquera e violentou a moça que, sedenta de vingança, suicidou-se e veio atrás da alma de Zé. Começava assim, com essa história desencadeada pelo filme inaugural À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), a carreira de sadismo do coveiro que foi alçado à categoria de principal personagem do terror brasileiro. Seu criador, o cineasta paulista José Mojica Marins, é mais velho: fez 70 anos em 13 de março. E é a idade redonda que impulsiona a mostra multimídia As 70 Almas de Zé do Caixão, em cartaz a partir da próxima sexta-feira no Sesc Santo André.

Agora é líquido e certo que Mojica contabiliza sete décadas de vida. Nem sempre foi assim. Houve um tempo em que desconhecia o ano em que nasceu. Adolescente, aproveitou-se do fato. “Eu fui uma criança precoce. Com 11 anos, já tinha bigode e uma barbinha visíveis”, lembra. Foi protagonista de um gato, a estratégia de fraudar a idade, comum até pouco tempo atrás entre jogadores de futebol. Mas Mojica não queria parecer maior para fazer a vida nos gramados. “Aumentava minha idade para poder andar e viajar com um pessoal mais velho, moças inclusive”.

Foram os jornalistas Ivan Finotti e André Barcinski, co-autores do livro biográfico Maldito (Editora 34; 1998), que promoveram o reencontro entre Mojica e sua certidão de nascimento, que registrava seu parto a 13 de março de 1936.

Septuagenário de fato, o cineasta participa efetivamente da programação montada em sua homenagem. Apresentará no Sesc dois de seus principais filmes, comandará debate sobre cinema ao lado da filha Liz Marins (a Liz Vamp) e contará ao vivo histórias de terror, além de ceder peças de seu acervo para uma exposição iconográfica que ficará em cartaz ao longo de todo o evento.

“A gente está numa correria só”, Mojica fala, no plural, pois fala de si e dos produtores de A Encarnação do Demônio, filme sustado em 1967 por falta de verba e que deve começar a ser filmado este ano, provavelmente no fim de outubro, sob produção do andreense Paulo Sacramento (diretor de O Prisioneiro da Grade de Ferro). Novamente protagonizado e dirigido por Mojica, deve encerrar a trilogia iniciada por À Meia-Noite Levarei Sua Alma e continuada por Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1966) e dar prosseguimento à busca obstinada de Zé do Caixão e suas unhas quilométricas pela mulher superior, capaz de gerar o filho perfeito, a perpetuação de sua linhagem de terror.

Mojica está no fim dos testes com atores. Diz faltar apenas uma atriz para interpretar Iemanjá, que deve parecer-se com a entidade iorubá e saber de antemão que a personagem será virada do avesso já que “Zé do Caixão procura a beleza interior da mulher superior”. Sósias de Iemanjá interessadas devem procurar a produtora do cineasta (tels.: 3361-2951 ou 6849-6434).

<EM>A Encarnação do Demônio marcará o reencontro com fãs de Mojica no Brasil e em outros 40 países onde sua obra é cultuada, e seu personagem conhecido como Coffin Joe. Um artista que se diz católico (“Não-praticante!”), um pioneiro do cinema de gênero em um país sem qualquer tradição no setor, um homem que diz não temer demônios ou coveiros que dão cano na manicure. “Num tempo tão violento, eu, que tenho sete filhos e 11 netos, tenho medo é do dia seguinte”.

A programação da mostra

As 70 Almas do Zé do Caixão terá:

1) Exposição iconográfica com fotografias, troféus, figurinos e documentos do acervo pessoal de Mojica, além da projeção de vídeo biográfico. A partir de sexta-feira (15) e até 15 de outubro (de terça a sexta, das 13h às 21h30; sábado, domingo e feriados, das 9h às 18h).

2) Projeção de filmes, é claro, entre os quais:

Aparências (2006), curta-metragem dirigido por Liz Marins, filha de Mojica, com debate ao final, comandado pela diretora e pelo pai. Sexta (15), às 21h. <EM>

O Universo de Mojica Marins (1977), documentário de Ivan Cardoso sobre a vida e a obra de Mojica e seu mais famoso personagem. Domingo (17), às 14h.<EM>

À Meia-Noite Levarei Sua Alma (1964), o primeiro longa de Mojica protagonizado por Zé do Caixão. Dia 19, às 20h.

A Lasanha Assassina (2002), curta de Ale McHaddo sobre lasanha que vira um monstro. Narração de Zé do Caixão. Dia 24, às 14h.

Esta Noite Encarnarei no Teu Cadáver (1966), seqüência de À Meia-Noite Levarei Sua Alma e também dirigida e protagonizada por Mojica. Dia 26, às 20h.

3) Criação de um conto de terror coletivo entre o público e o roteirista Rubens Luchetti. Dias 16, 23 e 30 de setembro e 7 e 14 de outubro, às 11h (com 23 vagas; as inscrições devem ser feitas pelo telefone do Sesc).

4) Apresentação de contos em áudio, narrados por Zé do Caixão. Dias 17 e 24 de setembro e 8 e 15 de outubro, às 11h.

5) Apresentação ao vivo, por Zé do Caixão, dos contos infantis O Menino que Viu uma Coisa e O Lobisomem. Domingo (17), às 16h.

Onde será o ritual? – No Sesc Santo André – r. Tamarutaca, 302. Tel.: 4469-1250. Entrada franca.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;